As Mouras são seres fantásticos femininos que moram em pequenos lagos, rios,
poços, covas, minas, ruínas, monumentos megalíticos, quase sempre embaixo da terra. Elas podem ser consideradas
uma versão da Lady do Lago da época Arturiana. Só diferem da últimas, por
poderem tomar a forma de serpentes.
A crença dessas
mulheres encantadas, divindades da água, fiandeiras, construtoras de monumentos
e guardiãs de tesouros, se perdem no tempo, justamente pelo fascínio que
despertam.
As Mouras sempre estão
associadas à água e sua existência já era conhecida muito antes das invasões
árabes, sendo consideradas as herdeiras das tradições culturais greco-latinas.
As Mouras estão associadas ainda, às Moiras gregas, que eram divindades que
presidiam ao nascimento e depois ao casamento e à morte. Eram as "fiandeiras da
vida e da morte". Uma segura o fuso e puxa o fio da vida (o cordão prateado); a
segunda enrola-o, registrando o "filme" da vida e a base da existência futura e
determina o momento da morte; e a terceira corta inflexivelmente esse fio.
É importante entender, que a palavra "Moura", não
tem nada a ver com o feminino de "mouro", mas é um sinônimo da palavra grega
"moira", que significa "destino". Os mouros eram uma raça de seres humanos
ancestrais e as mouras pertencem ao mundo dos elementais ou espíritos da
natureza.
Não existe em
Portugal uma fonte que não tenha uma moura, ora em forma de serpente, ora na
forma de uma linda donzela, a prometer riqueza e felicidade a todo aquele que
estiver disposto à se submeter aos seus encantamentos. O dia e a hora de seu
aparecimento é na noite mágica de São João à meia-noite. Nesse tardar da noite,
ela sai à superfície da água e se coloca de um lado da fonte ou cova que lhe
serve de morada para lavar-se e pentear seus cabelos com pentes de ouro.
Sua beleza é
tanta que qualquer mortal do sexo masculino que passe por ali, se apaixonará
pela moura. Mas esse amor é quase impossível de se consumar, pois quando se
aproximar dela ela, pode desaparecer ou se transformar em uma enorme serpente.
As vezes, até pode surgir uma conversação, mas sem que ela possa se afastar da
fonte ou da cova à qual estão unidas por encantamento. Para que suas relações
amorosas frutifiquem, ou que o o encanto se rompa, é necessário que o homem a
desencante, seguindo um ritual ou protocolo que ela mesma propõe. As formas de
desencantamento são muito variadas e vão desde dar-lhe um beijo na aparente
serpente na boca até trazer-lhe um pedaço de pão ou produzir-lhe uma ferida. Se
esse ritual terminar de forma adequada, a mulher abandona o fatídico encanto e
converte-se em humana que se casar com o homem que a libertou, lhe concede
inumeráveis riquezas pertencentes ao tesouro secreto que guardava no interior da
fonte ou cova. Se o ritual fracassar, é freqüente que o herói chegue a morrer,
ou que se rompa definitivamente a possibilidade de desencanto da moura.

MOURAS-SERPENTES
A Moura pode apresenta-se em
forma de serpente ou estar associada a uma.
Há uma lenda clássica da
aparição de uma moura nessa forma que é contada na região de Chan de Moura (Ribadabia-Orense),
onde existia um desses personagens femininos encantados que penteava seus
cabelos de ouro. Muitos foram os que a viram, mas não se aproximavam de medo,
até que um dia um jovem se atreveu a falar com ela e essa lhe confessou que era
uma mulher encantada, que guardava muitos tesouros. Para desencantá-la deveria
retornar na próxima noite, que ela se apresentaria na forma de uma serpente com
um cravo na boca, deveria ele permitir que ela se enroscasse nele e retirar o
tal cravo de seus lábios.
Assim o rapaz, seguindo cada um
dos passos, até que em um último momento a apreensão e o asco que tinha de
serpentes, não deixou que ele retirasse o cravo, motivo pelo qual a cobra caiu
morta, surgindo então um grande ruído no monte.
Há outros relatos em que a
moura-serpente para desencantar-se necessita que a beijem na boca nove vezes. Só
no último beijo é que ela se transforma em uma bela donzela, agarrando o braço
de quem a desencantou...
Como as Mouras
são fadas, gostam de relacionar-se com os humanos sentimentalmente. Mas podem
também, detestar certas pessoas e ocasionar-lhes a morte. O que nunca deve-se
fazer com uma fada é transgredir certas normas ou violar um segredo que ela não
quer que ninguém saiba. Quando alguém o revela, pode esperar todo o tipo de
desgraça.
MOURAS CANTORAS
É muito freqüente surpreender
as fadas lavando, fiando, dançando e cantando. Existem Mouras que possuem vozes
magníficas, mas seu canto só é audível para certos e privilegiados ouvidos
mortais.
Em castro Meimón (Boboras-Orense)
há relatos da aparição de uma moura que recitava essa nostálgica cantiga
maternal:
"No castro de Parada (Cameixa)
Tenho minha filha Clara.
No castro de Magrás
Tenho meu filho Carlos.
E no castro de Meimón
tenho o meu coração."
Castros são ruínas de fortificações da Idade
do Ferro, constituídas por um complexo sistema de fossos, balaustradas e
muralhas de grande proporções.

MOURAS SÃO JOANINAS
É 24 de junho, noite de São João, que se celebra
ritos pagãos e religiosos. Essa é uma noite mágica do Solstício de Verão, no
Hemisfério Norte e do Inverno, no Hemisfério Sul, onde tudo se converte em
energia de cura, mas principalmente a água.
Antigamente, era nessa noite que se devia levar os
rebanhos para beber as águas do rios para livrá-los e protegê-los da sarna. As
pessoas também tinham de ir até os rios para lavarem-se, porque se dizia que a
água estava benta e curava de todos os males.
Para alguns povos, como os celtas, o mito era beber
de sete fontes distintas, antes de amanhecer, porém para isso, não podiam cruzar
nenhum barranco ou rio, coisa bastante difícil de se conseguir. Em L'Aínsa
(Espanha) existia uma fonte de nome "Setefontes", que em uma reunia o poder
curativo das sete.
Era crença popular também, que em todas as fontes
moravam e as defendiam, seres místicos. A partir da Alta Idade Média, esses
seres passaram a chamar-se de "Mouras" ou "Encantadas de São João". Dizia-se
ainda, que elas só se deixavam ver penteando seus cabelos loiros, tão somente na
noite de 24 de junho.
Há muitas lendas sobre essas aparições,
principalmente na Espanha. Podemos citar o povoado de Villar de Argañán, na
província de Salamanca, em cuja fonte, chamada de "las tahonas", existia e dizem
que ainda existe, uma moura encantada que todas as manhãs de São João, antes do
amanhecer, estende a roupa que utilizou durante o ano.
No limite da província de Toledo, e relacionadas com
o dia de São João, existem várias crenças a respeito de aparições femininas, que
saem de madrugada para pentear-se, lamentar-se, cantar doces melodias ou
simplesmente para surgirem aos que passam perto de suas moradias. Há notícias
sobre elas em localidades como Belvís de la Jara, Espinosa del Rey, gálvez,
Navahermosa (chamado "povo das bruxas) e La Guardia. Em Belvís, na noite de São
João, se celebra uma velha tradição de deixar água em um pote raso "ao sereno"
para que as moças se lavem ao amanhecer e consigam assim, uma tez branca e
suave, como as das ninfas.
Todas as Mouras São Joaninas apresentam traços
comuns: se manifestam na manhã ou madrugada de São João e preferencialmente para os homens;
estendem roupas; se relacionam com tesouros ocultos; pedem para serem
desencantadas.

LENDA CLÁSSICA
No povoado salmantino de "Villarino de los Aires" há
uma lenda clássica muito conhecida: a da ama de leite que se encontra com uma
moura em sua cova, a qual lhe pergunta se pode entrar e dar de mamar ao seu
filho, em troca de uma recompensa. A mulher humana aceita e começa a amamentar a
criança por vários dias. Como pagamento a moura lhe dá um monte de cascalhos
(pedrinhas), que aparentemente nada vale. A mulher agradeceu e no caminho para
casa foi jogando uma a uma as pedrinhas pelo chão, sobrando apenas algumas ao
chegar. Contudo, quando voltou a olhá-las, para seu desespero, haviam se
transformado em ouro. Rapidamente voltou pelo mesmo caminho para tentar
recuperá-las, mas não encontrou mais nada. Foi então, até a cova da moura para
pedir-lhe mais cascalho, mas ela a sentenciou porque havia depreciado seu
presente.
Acredita-se que tanto as Mouras castelhanas como as
Mouras galegas, possuem origem celta, a partir da palavra "mahra" ou "mahr", com
que designava esse povo pré-hispânico a certos espíritos.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia:
Hadas y
Elfos - Édouard Brasey
Enanos y Gnomos - Édouard Brasey
La Mujer
Celta - Jean Markale
Diccionario de Las Hadas - Katharine Briggs
El Gran Libro de la Mitologia - Diccionario Ilustrado de
Dioses, Heroes y Mitos - Editora Dastin; Madrid
Os Mistérios Wiccanos - Raven Grimassi
Livro Mágico da Lua - D. J. Conway
Explorando o Druidismo Celta- Sirona Knight
O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino
O Amor Mágico -Laurie Cabot e Tom Cowan
Hadas - Jesus Callejo
Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May
Diccionario Espasa - J. Felipe Alonso
A Deusa Tríplice - Adam Mclean
Hadas - Montena; Brian Froud y Alan Lee