~*~FADA DOS DENTES~*~

 

FADA DOS DENTES

A Fada dos Dentes é um personagem mitológico do folclore de muitos povos que realiza desejos as crianças quando estas perdem seus dentes de leite.

Na Itália existe um "duende dental" chamado Fatina (conhecido como Topino). Na França, esse personagem se chama La petite Souris (pequeno rato). Na Argentina e na Espanha também existe um ratinho de nome La Petite Souris (pequeno rato).

Na Irlanda também há um duende dental, entretanto de tradição mais recente. E em Lowland, Escócia, encontramos um costume parecido ao do rato ou das fadas: se trata de uma rata branca que compra os dentes das crianças com pequenas moedas.

Os rituais das "Fadas dos Dentes" incluem tipicamente:

1. Que a criança tenha perdido o dente e o coloque embaixo do travesseiro.

2. Que na manhã seguinte, encontre uma moeda ou um pequeno bilhete no lugar onde havia colocado seu dente na noite anterior.

Uma variante menos difundida indica que a criança pode colocar seu dente dentro de um copo de vidro, perto de sua cama. Pela manhã, dentro do recipiente estará a tão ansiada moeda. Esta opção resulta mais simples, pois para os pais fica mais fácil recolher o dente de dentro do copo do que debaixo do travesseiro, correndo risco que o filho acorde de repente.

O significado da "Fada dos Dentes" é oferecer uma pequena recompensa às crianças que perdem os dentes, porque este feito natural poderia resultar traumático ou preocupante para eles. Essa é uma maneira de "atenuar" os efeitos desta troca corporal.

PARA ONDE VÃO OS DENTES QUE CAEM?

Os dentes temporários, também chamados de leite por sua cor notavelmente mais brancos que os dentes permanentes, levam consigo uma interessante história unida à vida cotidiana através dos tempos.

A tradição de trocar os dentes de leite caídos por dinheiro tem possivelmente sua origem em uma antiga superstição viking, que supunha que possuir uma parte do corpo de uma criança atraia poder e sorte nas batalhas. Os vikings estavam acostumados a comprar os dentes de leites caídos para utilizá-los como amuletos, ou transformando-os em colares.

Segundo alguns historiadores, durante a Idade Média as crianças que perdiam seus dentes os jogavam ao fogo, para evitar com isso que tivessem que buscá-los depois da morte. Também se recolheu a tradição de enterrar os dentes de leite para evitar que as bruxas os encontrem, já que se elas se apoderassem de um e o atiravam ao fogo, obteriam poder sobre a alma de seu dono. É possível que os pais, para assegurar-se de evitar suposta possessão, queimassem eles mesmos os dentes de seus filhos e em troca os presenteavam com dinheiro, como os vikings, ou outro pequeno objeto que a criança desejasse.

Em certas regiões da Suécia e Grécia era tradição evitar que os dentes caíssem em poder de animais com os quais não desejassem ter semelhanças dentais e em alguns lugares de Portugal e Chile as crianças devem lançar seus dentes sobre o telhado, dizendo ao mesmo tempo uma rima que pede um novo dente são e forte. Em Salamanca foi costume deixar os dentes nas portas, janelas, para evitar feitiços e bruxarias. Em algumas zonas do País Vasco era costume moer o dente, com a idéia de evitar que o dente permanente saísse em má posição. Essa tarefa deveria ser realizada por uma mulher da família próxima da criança. Na Catalunha era tradicional a crença que os anjos recolhiam os dentes e deixavam uma pequena recompensa.

Nas primitivas sociedades agrárias européias era habitual as mães oferecerem aos ratos que cresciam entre os grãos os dentes de leite de seus filhos. Desta maneira buscavam unir a fertilidade de seus campos com o crescimento de umas crianças fortes e sãs, ou seja aplicar os velhos ritos e crenças associados ao amadurecimento e aos ciclos da natureza.

Em 1894 um sacerdote jesuíta chamado Luis Coloma, conselheiro da casa real espanhola e também autor de contos, escreve uma pequena história para o pequeno Rei Alfonso XIII, a pedidos do rei Alfonso XII e da rainha Maria Cristina. O objetivo era explicar para a criança de 8 anos o que aconteceria com seu dente, que esta a ponto de cair. Provavelmente o sacerdote tomou como base as tradições agrárias para concluir seu encargo.

Os protagonistas do conto eram um rei menino chamado Buby (assim chamava carinhosamente a rainha à seu filho) e um ratinho chamado Pérez, que vivia com sua família no sótão da confeitaria de Carlos Prats, famosa na época e localizada na rua Arenal 8 em Madrid. Ao perder seu primeiro dente de leite o rei Buby I o deixou debaixo do travesseiro, seguindo o conselho de sua mãe, para que o ratinho Pérez o recolhesse. Esperou acordado o quanto pode, com a ilusão de conhecer o miúdo personagem, porém com o passar das horas o sono venceu e escorregou até apoiar a cabeça sobre o travesseiro que escondia seu tesouro. De repente acordou com um suave roçar em seus cabelos. Era o rabo de um pequeno rato que carregava uma sombrinha de palha,  com óculos de ouro, sapatos de tecido cru e uma carteira vermelha: o Ratinho Pérez. O menino lhe pediu que lhe permitisse ser seu companheiro de jornada e o rato aceitou. Tocou seu rabo no reizinho e o transformou em um ratinho, para que pudesse o acompanhar. Durante a viagem que fizeram juntos Buby descobriu que fora do palácio havia um mundo totalmente diferente ao qual não estava acostumado à desfrutar. Conheceu muitas crianças pobres e aprendeu valores como a valentia e a generosidade. Quando regressou ao palácio, Buby voltou a transformar-se em menino.

O Padre Colomo quis ensinar ao pequeno Alfonso a idéia que todos os homens são irmãos, tanto ricos como podres.

O conto do Ratinho Pérez, praticamente desconhecido como tal na Espanha, não se publica desde 1947, porém curiosamente se reedita a cada ano no Japão. A tradição é comum em países muito diferentes como Nova Guiné, Ucrânia, Colômbia, Uruguai, Argentina, etc.

Esse conto faz parte do patrimônio cultural espanhol, o manuscrito original está guardado em uma câmara segura na Real Biblioteca do Palácio em Madrid. Desde de 5 de janeiro de 2003, na rua Arenal número 8 de Madrid, há uma placa comemorativa que diz: "Aqui vivia em uma caixa de biscoitos, Ratão Pérez, segundo o conto que o padre Coloma escreveu para o menino Rei Alfonso XIII."

Nos países em que se fala inglês (Inglaterra, EEUU, Austrália) o papel de recolher os dentes perdidos é da Fada dos Dentes (Tooth Fairy). As fadas formavam parte da cultura céltica, anterior a era cristã. Ao longo dos anos a tradição da Fada dos dentes se misturou com a cultura anglo-saxônica e ainda hoje se mantêm. Em países como Canadá, onde convivem culturas diferentes, se mantêm tanto a tradição do ratinho como a da Fada dos Dentes.

Enfim, os costumes relacionados com a perda dos dentes e todos os personagens da cultura popular, sejam ratinhos, fadas ou anjos, têm por objetivos:

1.Distrair a atenção da criança ao desconforto que se supõe à perda dos dentes.

2. Tratar de explicar uma troca natural através de uma histórica mágica.

3. Compensar o trauma da perda de uma parte do corpo.

4. Evitar a preocupação da criança pelas zombarias que podem sofrer de outras crianças e inclusive de alguns adultos.

Seja qual for a tradição de cada casa , a magia se desponta no portal do sorriso travesso de uma criança sem seus dentes de leite. Estão dando os primeiros passos em suas trocas físicas no caminho da vida, mas entretanto deixando para trás, um tesouro fabuloso de contos de fadas, ratinhos e anjos. Mas também a lenda da fada dos dentes é um excelente ponto de partida para falar com as crianças sobre a importância de uma boa saúde oral.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO