
Têmis
é filha de Gaia e Urano e pertence, portanto, ao
mundo pré-olímpico dos Titãs, do qual só Ela e
Leto aparecem mais tarde entre os olímpicos. Seu nome
significa "aquela que é posta, colocada".
Sua equivalente romana era a Deusa Justitia.
Têmis
não representa a matéria em si, como sua mãe Gaia,
mas uma qualidade da terra, ou seja, sua estabilidade,
solidez e imobilidade. Ela é uma deusa que falava com
os homens através dos oráculos. O mais famoso de
todos os templos oraculares da Grécia Antiga, Delfos,
pertencia originalmente a Gaia, que o passou a filha
Têmis. Depois disso, ele foi de Febe e só no fim foi
habitado por Apolo. Há pesquisadores que afirmam, no
entanto, que Têmis é o próprio princípio oracular,
de modo que, em vez de ter havido quatro estágios de
ocupação do oráculo Delfos, foram só três:
Gaia-Têmis, Febe-Têmis e Apolo-Têmis. Portanto,
Têmis tinha máxima ligação com a questão das
previsões oraculares e, no fundo, representa a boca
oracular da terra, a própria voz da Terra, ou seja,
Têmis é a terra falando. Quando o titã Prometeu foi
acorrentado ao Monte Cáucaso, Têmis profetizou que
ele seria libertado. Sua profecia se concretizou
quando Héracles, salvou-o do seu castigo. Foi Têmis
quem alertou Zeus que o filho de Tétis seria uma
ameça à seu pai.
Ajudou Deucalião e Pirra a formar a humanidade após
o dilúvio enviado como castigo por Zeus, profetizando
que ambos deveriam "jogar os ossos de sua mãe
para trás das costas". Pirra ficou temerosa de
cometer algum sacrilégio ao profanar os ossos de sua
mãe, não captando o sentido da profecia. Deucalião,
porém, entendeu tratar-se de pedras os ossos da
deusa-Terra, mãe de todos os seres. Assim ele atirou
pedras para trás e delas surgiram homens.
Os
oráculos dados por Têmis, não profetizavam só o
futuro, mas eram ainda, mandamentos das leis da
natureza às quais os homens deveriam obedecer. A
Deusa nos fala de uma ordem e de uma lei naturais que
precedem as noções culturalmente condicionadas da
organização e das regras derivadas das necessidades
de uma sociedade.

Alguns
pensadores crêem ser Têmis uma abstração das
noções humanas de uma justiça de uma cultura
específica, presumivelmente matrifocal. Uma visão
arquetípica, sustentaria que Têmis não é o produto
da organização social, mas o pressuposto para tanto.
Sua existência psicológica precede-o e subjaz ao
entendimento humano do que ela quer dizer ou
ensinará. A visão arquetípica localizaria sua
origem na natureza psíquica, no inconsciente
coletivo, ao invés de localizá-la na cultura e na
consciência coletiva. Ela não é secundária, e sim
fundamental. Entretanto, nos cultos à Têmis eram
celebrados os "mistérios" ou
"orgias", emprestando-lhe a visão que ela
era uma Deusa genuína, e não uma simples
personificação da idéia abstrata de legalidade.
Têmis é a Deusa oracular da Terra, ela defende e
fala em nome da Terra, do enraizamento da humanidade
em uma inabalável ordem natural.
Um
dos atributos de Têmis é sua grande beleza, além do
poder de atração de sua dignidade. Sua atratividade
física é confirmada pelo mito em que Zeus a persegue
com seu estilo desenfreado e, finalmente, a desposa.
Seu
mais ardente adversário no Olimpo foi Ares, o deus da
guerra cujo o apetite por violência e sede de sangue
não conhecia limites. Não porque Têmis fosse contra
a guerra, mas agia com motivos de ordem ambiental,
pois a guerra reduziria a população humana. Na
qualidade de mãe das Horas (e pai Zeus), Têmis está
também por trás da progressão ordenada do tempo na
natureza. As Horas representavam a ordenação natural
do cosmo: inverno e depois primavera, dia depois a
noite, uma hora após a outra.
Sua
outra filha com Zeus, Astraea também era uma deusa da
justiça. Conta-se que ela deixou a Terra no fim da
Idade do Ouro para não presenciar as aflições e
sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze
e do Ferro. No céu ela tornou-se a constelação de
Virgo. Também Têmis foi transformada em uma
constelação, Libra. Outras filhas suas são: Irene e
Dike. Esta última está relacionada com a
representação da divindade da justiça. Temis e Dike
elucidam o lado ético do instinto, a voz miúda e
calma no seio do impulso. Dike para a humanidade é a
função de base institual muito sintônica com o que
Jung chama de instinto para reflexão. Têmis é
ainda, mãe de Prometeus e Atlas.

Têmis
empunha uma espada em uma mão (poder exercido pela
Justiça), enquanto com a outra sustenta uma balança
(simboliza o equilíbrio, entre as partes envolvidas
em uma relação de Direito). A venda que lhe cobre os
olhos, simbolizando a imparcialidade da justiça e a
igualdade dos direitos, foi criação de artistas
alemães (séc. XVI). Outros símbolos: a lâmpada, a
manjerona e "pudenda muliebria". O
significado da manjerona é sexual e tem ligação com
a fertilidade. Esta planta misteriosa é uma planta
lunar e tem ligação com a influência fertilizadora
da Lua sobre a Terra. Mas a manjerona também tem
ligação direta com outro emblema de Têmis,
"pudenda muliebria", que vincula a Deusa à
fertilidade e à sexualidade, de modo direto e
inequívoco. Sabe-se que havia orgias vinculados ao
culto de Têmis e certamente, estes ritos eram de
natureza sexual. Como devotas de "pudenda
muliebria", as adoradoras de Têmis dedicavam-se
a rituais e práticas altamente sexualizadas.

Têmis
que mobiliza a energia sexual, transforma esta energia
em amor e atenção para com o mundo, em justiça e
equilíbrio para todos, assim como em novos
rebentos para todas as formas de vida. As descargas da
libido que fluíam entre Têmis e suas adoradoras
serviam não só para estreitar laços entre a Deusa e
suas devotas, mas também aproximavam cada uma delas e
o mundo todo.
Ao
presidir as reuniões de cunho político do Olimpo,
Têmis manifesta o teor organizacional de sua
dignidade e justiça. Têmis congregava às reuniões
com seriedade moral e obrigava os grandes e poderosos
a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e
contribuições dos irmãos e irmãs menos
proeminentes. A Deusa opunha-se à dominação de um
sobre muitos e apoiava a unidade mais que a
multiplicidae, a totalidade mais do que a
fragmentação, a integração mais do que a
represão. Nessa atividade de contenção e
vinculação, Têmis revela o princípio operado pela
consciência feminina: a lei do amor.
Têmis
era a deusa da consciência coletiva e da ordem
social, da lei espiritual divina, paz, ajuste de
divergências, justiça divina, encontros sociais,
juramentos, sabedoria, profecia, ordem, nascimentos,
cortes e juízes. Foi também inventora das artes e da
magia.

ZEUS
E TÊMIS
Têmis
foi a segunda esposa de Zeus, depois de Métis e antes
de Hera. É Ela que temperou o poder de Zeus com muita
sabedoria e com seu profundo respeito pelas leis
naturais. Sendo uma Titã, suas raízes são
instintivas e pré-olimpicas e estende-se à frente,
para incluir uma visão cósmica das operações
finais e essenciais do universo inteiro. Além de
esposa e conselheira, Têmis é também mentora de
Zeus. Em um mito ela aparece como ama de leite de Zeus
bebê, ensinando-o a respeitar a justiça.
No
casamento de Zeus e Têmis vemos duas forças, uma
solar e outra lunar, trabalharem coligadas com poucos conflitos
à serem observados. Zeus era o rei todo-poderoso,
absoluto, um padrão arquetípico que governa a
consciência coletiva, que tanto cria como mantém uma
coletividade. Mas é Têmis, que movimentando-se
dentro de vários outros padrões arquetípicos,
desestabiliza o absolutismo e as certezas de Zeus. Ela
movimentava-se em uma direção contrária, nunca
deixando de incluir o máximo possível. Têmis exercia
portanto, um efeito de abrandamento. Entretanto, o
casamento do dois não foi de total doce harmonia, pois
embora transitasse sabedoria entre eles, os ditames de um e do
outro, sempre tinham um preço muito elevado, pois
nada possui solução definitiva.
Na
imagem de Zeus consultando Têmis, podemos aceitar uma
boa dose de troca. Zeus é quem rege e decide,
enquanto Têmis assume uma atitude mais suave e dá
seu toque relativizador que procede de perspectivas
mais abrangentes.

DIÁLOGO
COM TÊMIS

Têmis
chega até nós com sua espada da justiça da natureza
e nos diz que é tempo de refletir. O instinto
reflexivo rompe o elo estímulo-resposta e, no intervalo desta descontinuidade, nós humanos temos a
oportunidade de perceber conscientemente uma
situação. A reflexão desenflama a superestimação
que a pessoa faz de si e conserva-o atento a sua
verdadeira imagem de seu lugar na ordem natural das
coisas e manter as proporções certas, justas e
humanas.
Quando
você tiver um conflito interno, uma pressão muito
grande, medite e chame por Têmis para alcançar o
equilíbrio e a sabedoria para solucionar estas
questões. Deixe então sua voz da consciência falar,
pois ela é a voz de Têmis.Confie no julgamento de
Têmis, pois só Ela é a Deusa oracular da Terra.
Em
seguida, inicie sua reflexão repensando estas
questões:
1.
Descreva uma época em que os valores para você deram
um giro de 180 graus.
2.
Recorde épocas que você sentiu completamente
perdido, fisicamente ou emocionalmente. Ou talvez não
havia nenhum caminho espiritual à ser seguido.
Também, recorde um momento em que você sentiu-se
perfeitamente equilibrado.
3.
Você teve alguma experiência que passou na vida que
ainda recorde? Que passagens importantes ainda
conserva em sua memória? Pense nelas e de que forma elas
passaram para sua consciência?
4.
Há momentos em sua vida que você se sente em débito
com seu carma? Há pessoas que acreditam que só se
conservarão vivas, enquando este débito não seja
compensado.
5.
Pode você descrever alguma passagem de sua vida que
já recebeu o justo castigo de Têmis? Você é uma
pessoa que consegue manter o equilíbrio entre o
otimismo e o pessimismo?
6.
Você acredita em destino, carma, fado? Que
experiências pessoais lhe levaram a acreditar?
7.
Você já passou por um período de fatalidades em sua
vida?
8.
Escute agora sua consciência, pois esta é a voz de
Têmis.

RITUAL

Execute
este ritual na Lua Crescente ou Cheia. Acenda um
incenso de jasmim ou lótus. Deite suas cartas de
tarot sobre o altar. Encha um cálice com vinho ou
suco de uva e coloque a sua frente e acenda duas velas
roxas, uma de cada lado do cálice.
Erga
a mãos sobre seus instrumentos advinhatórios e diga:
Deusa
da Lua e da Magia,
Deusa
dos Mistérios,
Mostre-me
a resposta que venho buscando,
Revele-me
todos os destinos.
Beba
três goles da bebida. Embaralhe as cartas e deite-as
da maneira que desejar. Após terminar o processo
divinatório, levante-se, erga os braços e diga:
Honra
àqueles que me ajudaram.
Agradeço
livre e sinceramente.
Sua
orientação será para sempre apreciada e aceita.
Assim
seja.
As
velas não precisam queimar até o fim, podendo ser
reutilizadas para outros rituais divinatórios.
Texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane
Volpatto
"O
direito não é justiça, porque o direito é um
elemento de cálculo, enquanto que a justiça é
incalculável."

|