DEUSAS
ERÍNIAS

Nós
a agarramos
Arrebatamos
você
Achatamos
você
Somos
aquele lugar selvagem e caótico
Aquela
aresta pontaguda
O
ponto que ativa os seus medos
O
ponto de onde não há retorno
O
ponto onde tudo pode acontecer
Sempre
pedimos a sua morte
Ou
a capitulação total
Você
não pode passar além de nós
Passar
ao largo
Ou
sobre nós
Você
tem de nos enfrentar e atravessar
Somos
o rolo compressor cósmico
O
lugar da maior oportunidade
Nós
somos a crise
O
estado primitivo do mundo era o Caos, que era ao
mesmo tempos uma divindade rudimentar capaz de
fecundar. Gerou a Noite (Nyx) e depois o Érebo
(Inferno). A Noite desposa Érebo e nasce então
o Amor (Eros). Neste momento todas as coisas são
distintas. A ordem e a beleza substituem a
confusão e o vazio. O Amor cria a Luz.
Seguiu-se a criação da Terra (Gaia) e também
aparece o Céu (Urano).
Eles
formaram o primeiro casal divino e desta união
nasceram os Titãs, os Cíclopes e os
Hecatonquiros. Urano não tolerava os filhos e
lgo que nasciam, os empurrava de volta para
dentro do útero, para o fundo da Terra Mãe,
onde estagnavam pela ausência de luz, atividade
e liberdade. Finalmente um deles, Cronos, foi secretamente
removido do próprio útero da Mãe Gaia e quando
o Pai Urano desceu para cobrir Gaia, esse filho
titânico rebelde e irado castrou-o. Depois
libertou seus irmãos e irmãs e, com isso deu início
à era dos Titãs. Separou-se assim o Céu
e a Terra. As Erínias nascem das gotas de
sangue que caem sobre a Terra (Gaia) quando
Urano é castrado.
Na tradição órfica, as Erínias são filhas de
Hades e Perséfone, e segundo essa perspectiva
estão especificamente localizadas entre as
sombras.
As
três Erínias ou Fúrias estão entre as mais
antigas deusas gregas. Elas eram as forças de
retribuição personificadas como Três Donzelas
negras imortais. Tinham um lugar no esquema
primordial das coisas, precedendo em muito as
divindades masculinas do ciclo de Zeus. Deste
modo, são consideradas contemporâneas dos Titãs,
nascidas da união entre o Ar e a Mãe Terra, ou
filhas da Terra, surgidas do sangue de Urano
mutilado. Ésquilo as descrevia como
"filhas da noite", pois elas refletem
os aspectos sombrios da deusa. Na alma,
representam os elementos primais do
inconsciente.
Constituem,
o que chamamos, da raiva primal de nosso íntimo,
personificadas no desejo de vingança diante de
uma ameaça real ou iminente. Onde elas assumem
o controle, podemos ficar chocados com os
extremos a que poderemos chegar.
Quanto
um arquétipo desta proporção se manifesta em
uma coletividade, pode levá-la à convulsões
perigosas e até a guerra.
Ninguém
consegue escapar da sua fúria.
Podemos
visualizá-las também, como guardiãs de
linhagem, forças que atuam na hereditariedade.
Na qualidade de guardiãs do parentesco, as Erínias
defendem os direitos e as prerrogativas do vínculo
de apego com pessoas, lugares e objetos materiais.
Elas defendem nossos sentimentos mais íntimos e
penetrantes de vinculação afetiva, nossos primeiros
elos físicos e psicológicos de relação com pessoas
e coisas, e também nossa ligação com o corpo
e nossas próprias necessidades físicas.
As Fúrias
invadem com seu fedor intolerável quando o
parentesco primordial do ego com a mãe é transgredido.
E caso o ego embarque no impulso de cortar seus
laços com este princípio telúrico e
conservador do inconsciente ou ignorá-lo, as Erínias irrompem com toda a força de sua
fúria subterrânea.

O CASO DE ORESTES (oréstia)
Na peça Oréstia, de Ésquilo,
Orestes é filho de Agamênon, o comandante-chefe
dos gregos e Clitemnestra. Quando seu pai
retorna vitorioso da guerra de Tróia é
assassinado pela mãe em seu próprio palácio
porque ele havia sacrificado a filha, Ifigênia,
à Deusa Ártemis, em troca de ventos favoráveis
para avançar até Tróia.
Apolo, o Deus Solar, que defende a lei
patriarcal, imediatamente ordena que Orestes
execute a mãe. Ele mata primeiro Egisto, o
amante (da mãe) e depois Clitemnestra.
“Afinal, a justiça veio”, canta o coro.
Depois do assassínio, Orestes, segundo
Ésquilo, chama o coro para que o escutem e faz uma apelo ao Sol:
"Estendam-na. Coloquem-se em volta de mim
e estendam essa rede que apanhou um homem. Para que, não o meu pai, mas o pai
que vê tudo, o Sol, olhe para o sacrílego ato que as mãos de minha mãe
executaram e seja testemunha da minha defesa no dia em que for julgado por tudo
o que esteve correto na morte que executei, a de minha mãe..."
Apolo, representante da
atitude coletiva, aqui representada pelo coro, apóia decididamente esse ato de
violência contra a mãe e dá-lhe apoio moral.
CORO
"Não, o que você fez foi
bem feito. Portanto não empreste sua boca para palavras tolas. Não permita o mal
em seus lábios. Você libertou toda a cidade de Argos quando decepou as cabeças
dessas duas serpentes com um único golpe".
Entretanto, após o
assassínio Orestes sente-se ambivalente, mesmo que o coro insista que cumpriu o
dever. O coro parecia cego para as figuras das Erínias que começaram a reunir-se
em torno da cabeça do vingador do pai. Elas defendem o direito da mãe, mesmo de
alguém vingativo, assassino e moral questionável como Clitemnestra, diante das
presas arreganhadas de Apolo, o Sol, da cidade de Argos e dos protestos do pai.
Elas falam em nome da consciência num nível pré-racional, falam pelo e a partir
do inconsciente.
Todo
o propósito das Erínias, nesse caso, é
proteger o direito materno, e por isso os
sintomas não pretendem só punir, pois têm
igualmente um objetivo teológico. Sua
finalidade é lembrar a vítima do peso na
consciência da lei do parentesco, do vínculo
afetivo de apego, da correta postura nos
relacionamento. Além disso, eram demasiado
antigas, por demais arraigadas no coração do
povo para serem facilmente substituídas por
um grupo de Deuses e Deusas vingativos mais
simpáticos ao novo clima do patriarcado.
As Erínias, naturalmente, perseguiram,
incansáveis, Orestes por mais de um ano,
enquanto ele usava de todos os recursos para
purificar-se do matricídio. Elas não se
pacificaram e Orestes foi forçado a procurar
refúgio no templo de Apolo.
Os Deuses concordaram em julgá-lo e o
primeiro julgamento com júri foi presidido
por Atena. Houve um empate e a decisão coube
a Atena, que votou contra a punição do
matricídio.
As Erínias ficaram possessas e exclamaram
que os Deuses da nova geração tinham
desrespeitado as leis antigas e as
desautorizado. Ameaçaram arrasar a terra,
deixando cair uma gota do sangue do seu
coração sobre ela, e, como ainda tinham
poder sobre a descendência, podiam fazer
cair sobre a humanidade a esterilidade.
Atena
negociou prometendo-lhes rituais especiais em
sua honra. Receberam então o nome de Eumênides
(gentis), tomado de empréstimo de uma tríade
anterior de deusas do mundo inferior que fizeram
surgir do solo plantas comestíveis como uma dádiva
à humanidade. Elas controlavam o crescimento
dos vegetais que surgiam a partir de baixo da
terra.

O ELO MÃE-FILHO
A relação mãe-filho, cria uma matriz a
partir da qual emerge toda a cultura, cada
virtude, cada aspecto mais nobre da
existência, atuando nesse mundo violento,
como o princípio do amor, da união e da paz.
É a mãe, muito antes do pai, que estende
seus interesses para além do próprio ego, ao
conter os filhos em um círculo de amor
protetor. Seus interesses estendem-se a
eles, e isso cria o primeiro elo de empatia
humana.
Enquanto o princípio paterno é inerentemente
restritivo, o materno é universal, pois a
idéia da maternidade produz a sensação de
fraternidade universal em todos os homens.
A fase matriarcal do desenvolvimento
cultural, é inteiramente subserviente à
matéria e aos fenômenos da vida natural.
Encoraja igualmente valores materialistas
como o conforto corporal e os adornos, ao
mesmo tempo que permanece aberta à
experiência mais transcendente da "harmonia
do universo". Está "enraizada na sensação do
natural", sendo centrada na matéria e no
concreto; não obstante está também em
sintonia com as harmonias mais profundas da
existência natural. Concluindo, a existência
matriarcal é um naturalismo regulado.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Bem
mais tarde, as Fúrias, passam a constituir-se
de três facetas, cada uma com um nome
diferente. Como Eumênides eram mais
benevolentes, como Diras proferiam maldições e
como Fúrias adquiriam um aspecto mais
vingativo. Foram adoradas no sopé do Monte Aeópago
em Atenas.
Essas
três anciãs são Aleto (a ira incessante),
Tisifone (retaliação) e Megera (a ciumenta).
Viviam no mundo inferior.

A hostilidade implacável das Erínias é ampla o
suficiente para incluir o pecado cardinal da
cultura grega: o "hybris". Para os gregos da
antiguidade, "hybris" era o que a desobediência
significava para os hebreus: um ato de desafio
consumado com implicações de enorme alcance e
inúmeras dimensões sutis. Em seu cerne, está o
ato de transpor um limite que foi estipulado
pelos Deuses: "hybris' significa esquecer-se da
própria condição de ser humano, e não divino. É
a inflação arquetípica. Embora "hybris seja, às
vezes punido pelas Erínias, esse castigo é mais
freqüentemente outorgado à prima, Nêmesis.
Um marco distintivo da presença dessas Deusas é
o "açodamento" da vítima: como Orestes
perambulando pela terra, durante anos fugindo e
esquivando-se, da mesma forma a pessoa fica para
sempre inquieta, sofrendo de uma insatisfação
compulsiva com lugares e situações e de uma
necessidade constante de mudar por causa do medo
e da ansiedade; é acometida por uma inquietação
paranóica, e tudo isso assinala a punição
imposta pelas Erínias. Nessa movimentação
constante existe muito desespero e é necessária
uma velocidade acelerada, pois as Erínias são
aladas.
No
mito, as Erínias são acusadas de doenças,
abalos de saúde, loucura e morte. Seu mau
cheiro e sua aparência horrenda implicam
paroxismo de auto-desprezo, que mobilizam a
uma fuga frenética de si mesmo valendo-se
de rotas de evasão de todo o tipo. Seus
látegos e grilhões incandescentes laceram
a carne e esculpem debruns vivos enquanto
prosseguem em seu demoníaco trabalho de
punição e destruição.

As Erínias são forças exclusivamente femininas em
oposição as masculinas, que operam através da
luz do Sol. Elas estavam ainda, associadas, a
reprodução humana.

CONECTANDO-SE COM AS ERÍNIAS

As
Erínias chegam em nossas vidas para alertar-nos
que quando se está em crise deve-se buscar
ajuda. A crise pode ser sua ou de um familiar,
uma amiga(o), não importa quem seja, deve-se
estender a mão ou pedir ajuda. Pode até
aparecer em sua vida um animal ou alma perdida e
sua ajuda deverá ser oferecida. Então, nesta
hora, visualize e dê nome a esta
"crise".
Não
devemos nos esquecer que estamos sempre em uma
viagem da escuridão para luz. Nem tudo "são
flores", como diz este velho ditado, mas
tudo tem solução se olharmos com os olhos do
coração e através deles, nos utilizarmos dos
benefícios da razão. Portanto, se sua crise é
interior, procure alguém que possa aconselhá-la
adequadamente (um profissional). Se sua crise é
financeira, sente e recalcule seus gastos e
verifique o melhor modo de saná-la, ou então
procure um consultor. Há pessoas que estão
qualificadas a lidar com campos e esferas que
você não tem necessidade, nem tem obrigação
de ser esclarecida.
O
que você não pode deixar acontecer é que a
"crise" paire sobre sua cabeça sem
tomar as medidas cabíveis para solucioná-la.
Caso seja algum problema de saúde, procure um médico
de sua confiança. Não esqueça, para que
o corpo seja "são", nossa mente deve
ser "sã". O nosso corpo não mente e
ele é o espelho exterior da nossa alma e da
nossa saúde. Ele faz o diagnóstico de como está
nossa vida. É pura energia inteligente. Já
constatou-se inclusive, que determinados órgãos
doentes estão diretamente associados a certos
tipos de desvios comportamentais. A doença
resulta da auto- negligência ou falha de não
termos dado "ouvido" a voz do corpo.
As
Erínias nos afirmam que todas as crises são
necessárias para a nossa evolução, nos fazem
crescer e podem ser transformadas em
oportunidades. Mas para alcançá-las deverá
vivenciar a crise inteligentemente. Deve-se ter
a humildade de pedir ajuda quando se necessita,
e oferecê-la quando nos for requerida.
RITUAL
DO CASULO
Este
é um ritual de extrema eficácia para quando
você está em crise. Procure um lugar reservado
e fique em pé ou sente-se. Inspire e expire
profundamente por três vezes. Relaxe o corpo e
libere sua mente ao cosmos.
Agora
perceba que em torno de você começará a se
construir um casulo. Tenha contato visual com
ele. De que ele é feito? Qual a cor que ele
apresenta? Tente colori-lo com a cor que você
ache mais confortante. Quando o casulo estiver
finalizado, deve preenchê-lo com o amor
daqueles que se preocupam com você. Poderá
chamar para junto de si seu animal de poder,
energias vegetais, deusas e pode até colocar
dentro dele todas as forças do universo.

Quando
ele estiver completamente lotado, é hora de
inspirar todo este amor para cada uma de suas células.
Acumule muito amor dentro de você, pois ele é
absolutamente vital para a vida humana. É só
através dele que chegamos ao íntimo de nós
mesmos. Sinta-se entregar à Deusa a crise que a
está sufocando. Sinta a sensação
reconfortante de livra-se de tamanho peso.
Continue respirando dentro do casulo, se sentirá
aquecida e abrigada como se estivesse dentro do
útero materno. Fique assim por alguns minutos.
Quando estiver pronta, respire profundamente e
expire suavemente. Abra os olhos. Seja
bem-vinda!
texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane
Volpatto
Bibliografia
consultada

A
Deusa Tríplice - Adam Mclean
O
Novo Despertar da Deusa - Shirley Nicholson
O
Anuário da Grande Mãe - Mirela Faur
A
Grande Mãe - Eric Neumann
O
Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marahinsky
 

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