ORAÇÃO À RHIANNON
Canta os pássaros de ouro
Tragam esperanças para as almas ocupadas
Canto em honra a Rhiannon
Grande Rainha, Deusa do Cavalo
Que minha carga seja leve
Ajude-me em minhas aflições
Onde possa haver dúvida
Semeie a verdade
Faça com que a crise
encontre o seu fim
Dirija todos passos de nossa vida
Mãe da fertilidade e da morte
Nos traga a paz
Que esta canção lhe seja doce
Conforte minha alma
Que minha pena seja breve
E que meu coração permaneça inteiro.
A Deusa-Égua gaulesa do Inferno, Rigatona ou
Ringatona (Itália), Epona (Gália), Bubona (Escócia), Grande Deusa Branca eram
alguns dos nomes originais de Rhiannon.
Seu nome significa "Divina Rainha das Fadas",
sendo considerada uma Deusa da Lua. É também conhecida como a Deusa dos
pássaros, dos encantamentos, da fertilidade e do submundo. Ela se identifica com
a noite, a emoção, o sangue, o drama.
Rhiannon é a donzela saída do mundo subterrâneo e
neste aspecto, relaciona-se com a Deusa Perséfone. Sua iconografia vincula-se ao
simbolismo eqüino. Andava em um cavalo branco, vestida com um manto de penas de
cisnes, sempre acompanhada por seus pássaros mágicos. Ela é venerada na Irlanda,
no País de Gales, na Gália (Epona), mas também aparece na Iugoslávia, África do
Norte e Roma.

Algumas imagens de Rhiannon, onde ela se
apresenta com cestas de frutos e flores, nos remetem ao simbolismo da
fertilidade e abundância da terra. Acho que realmente sempre houve sua
associação com as Deusas-Mães.
Rhiannon era uma Deusa gaulesa da morte, filha de Hefaidd, Senhor do Outro Mundo. Vivia sempre acompanhada por três pássaros
mágicos, que podiam encantar os vivos e acordar os mortos.
SUA SAGA...
Pwyll Penn Anwfn, rei de Dyved Rhiannon, se
encontra no cerro de Arbet. Vê aparecer uma jovem que chega com um vestido
dourado brilhante, montada sobre um cavalo branco. Envia um de seus cavaleiros
para buscá-la, mas ela desaparece. No dia seguinte, a mesma cena: a amazona
desaparece. No terceiro dia, Pwyll em pessoa se lança a persegui-la. Não a
alcança, mas consegue gritar:
-"Mulher, por amor do homem a quem mais amas,
espere-me!".
A amazona se detêm e diz chamar-se Rhiannon,
filha de Hyveid Hen e vinha pelo amor de Pwyll:
-"Jamais vou querer ninguém, a menos que não me
queiras."
O rei aceita casar-se com ela e o casamento é
marcado para um ano depois na corte de Hyveid. Quando a cerimônia está
acontecendo, aparece um homem, que não é outro que Gwawl, um antigo pretendente
de Rhiannon, o qual, graças ao costume de doação que se tem obrigação de
realizar sem saber do que se trata, reclama a própria Rhiannon.
Porém, Rhiannon consegue obter uma demora de
mais um ano, antes de casar-se com Gwawl, prazo que aproveita para tramar um
plano maquiavélico por o quel Gwawl, derrotado e descontente, sai
definitivamente do jogo.
Rhiannon se casa com Pwyll. Pouco tempo mais
tarde, utiliza-se da magia para
conseguir engravidar e deu a luz a um filho, o herdeiro para o rei. Mas pouco
depois do nascimento, o menino é raptado. As donzelas responsáveis por cuidar
dele, com medo de serem acusadas pelo seu desaparecimento, mataram alguns
pássaros, esfregaram o sangue dos animais no rosto e nas vestes de Rhiannon,
acusando-a de ter devorado o filho. Foi quando Pwyll estabeleceu um estranho
castigo para o seu alegado crime:
-"Durante sete anos seguidos, permanecerá na
corte de Arbert, se sentará a cada dia junto ao estribo da pedra que há na
entrada, no exterior, explicará sua saga a todo aquele que venha e pareça
ignorá-la e proporá aos hóspedes e os estrangeiros, se desejam permitir que os
leve sobre as costas até a corte".
No entanto, a criança tinha sido colocada de
forma misteriosa na cocheira de um homem de Gwent, um tal de Teyrnon. Cada noite
do calendário de maio, sua égua tinha o costume de parir um potro e o dito
potro, desaparecia sempre sem que se imaginasse o que sucedia. Uma noite, Teyrnon monta guarda, e não só encontra o potro recém-nascido, mas também uma
criança envolta em panos e um manto ricamente adornado. Teyrnon cria o menino,
ao que dá o nome de Gwri Gwallt Euryn (Gwri dos cabelos de ouro). Com três anos,
a criança, que havia feito amizade com o potro, o doma e o monta.
Teyrnon que havia ouvido falar da saga de Rhiannon, decide levar o menino a corte de Dyved. Rhiannon se propõe carregá-los
sobre as costas. O menino rejeita. Teyrnon conta toda sua história a Pwyll e
Rhiannon, que reconhecem assim a seu filho. Rhiannon grita que enfim havia se
libertado de sua "preocupação" (Pryderi), dano a seu filho o nome definitivo de Pryderi.
Pryderi cresce torna-se um belo jovem. Depois
da morte de Pwyll, se converte em rei de Dyved e se casa com uma tal de Kicva.
Após a desastrosa expedição de Bran a Irlanda, se encontra entre os sete
sobreviventes que seguem levando uma vida mágica ouvindo cantar "os pássaros de Rhiannon, cujo canto desperta os mortos e adormece os vivos". Regressa a Arbert
com Manawydan, filho de Llyr. Manawydan se casa com Rhiannon. Porém um
encantamento se abate sobre Dyved da terra que torna-se deserta. Rhiannon, Kicva,
Pryderi e Manawydan que são os únicos seres vivos do território, esgotam suas
provisões, e depois vão buscar fortuna em outros lugares. Regressam a Arbert
carregados com novas provisões. Um dia um javali branco surgiu e desapreceu em
uma fortaleza. Pryderi o persegue até a fortaleza, mas essa está deserta. No
meio do pátio há uma fonte com uma taça de ouro presa a uma corrente que se
dirige para o céu e não se vê o término. Pryderi agarra a taça, porém no mesmo
instante perde a voz e suas mãos ficam presas a taça. Rhiannon se preocupa, pois
seu filho demora para retornar. Vai então até a fortaleza e tenta libertar Pryderi, mas fica presa como ele. Em seguida, caiu uma noite muito escura,
surgiu um raio seguido de uma nuvem espessa e a fortaleza, assim como ma~e e
filho, desapareceram.
É Manawydan que faz cessar o encantamento que
pesava sobre Dyved e que se devia a Llywyt, filho de Kilcoet, que queria
vingar-se de Gwawl nas pessoas de Pryderi e Rhiannon. No entanto, durante seu
desaparecimento, mãe e filho estavam na corte de Llwyt e Rhiannon levava no
pescoço um cabresto de asno.
A DEUSA-ÉGUA
O que mais se destaca na saga de Rhiannon, é
sem dúvida, o vínculo entre o cavalo e a Deusa. No início, é a Amazona que
aparece montada num cavalo branco que vem em busca do amor de Pwyll. Essa é a
imagem da Deusa de Outro Mundo, a fada apaixonada por um mortal, que vem levá-lo
para o país da eterna juventude.
A Amazona não é só uma imagem da morte, mas
também da ressurreição. Seu cavalo é branco, cor do dia, um símbolo solar. Pwyll
vê pela primeira vez Rhiannon no cerro de Arbert, que um lugar mágico, que é
idêntico aos cerros da Irlanda, os sidhs, onde vivem os Tuatha De Dannan, morada
das fadas. Como Rhiannon surge desse cerro, ela é a Nossa Senhora da Noite.
Por outro lado, seu filho Pryderi aparece
claramente associado a um potro. Ele é encontrado na cocheira de Teyrnon junto
ao potro recém-nascido , e aos três anos domará e montará esse potro. Segundo
seu primeiro nome, Gwri Gwallt Euryn, o jovem Pryderi possui uma cabeleira
dourada comparável a crina de um corcel: a imagem não é só poética, mas também
indica um símbolo solar fácil de entender.
Ao ser condenada injustamente pelo
desaparecimento de seu filho, Rhiannon é obrigada a levar sobre suas costas os
viajantes que se dirigem a fortaleza do rei. Seria uma associação à sua égua,
pois servia como um animal de carga, o que reforça mais essa identificação.
O cavalo é um símbolo solar. O Sol, desde os
tempos pré-históricos é figurado por um carro, que significa seu deslocamento e
o cavalo em sua brancura solar é o seu condutor, que o faz percorrer o espaço.
Os cavalos que puxam o Sol são consagrados a ele. Esse cavalo se presta, pois,
para ser montaria dos heróis, das Deusas e dos conquistadores espirituais.
O cavalo é portanto, um animal mágico e
misterioso, ligado às trevas e a Deusa-Mãe, que inúmeras vezes pode aparecer
dessa forma. O aspecto de Deusa-Égua da Grande Deusa, não é assimilação somente
celta. Deméter era honrada em toda parte sob o nome de Epona, ou das "Três Eponas" entre os gauleses.
O animal e, principalmente o cavalo, é
utilizado com freqüência na simbologia religiosa celta e, por conseguinte, na
iconografia e inclusive na decoração, algo que, por outra parte, resulta de todo
normal para um povo que sempre se dedicou a criação de cavalos, assim como para
equitação. Inclusive as moedas que usavam, todas elas magnificam o cavalo e
faziam dele um animal fantástico, as vezes com cabeça de pássaro ou de homem.
Durante as comemorações de 1 de maio, que
é celebrada na Cornualha, acontece a festa da Pele, a qual põe em cena um homem
disfarçado de cavalo de madeira andrógino. Executa saltos na direção das jovens,
levanta a roupa e exibe longo bastão colocado entre as pernas. Essas cabriolas
obscenas são celebração dos ritos primaveris, tornada festa popular.
A DEUSA PÁSSARO

Ma Rhiannon não era só a Deusa-Cavalo, mas
também está relacionada com os pássaros. Os pássaros de Rhiannon são célebres na
tradição gaulesa. Encontramos esses pássaros maravilhosos na narração de Branwen,
na segunda parte do chamado Mabinogion:
A HOSPITALIDADE DA CABEÇA SAGRADA(País de
Gales):
Depois da desastrosa expedição na Irlanda, que tinha
como objetivo liberar a Branwen, irmã de Bran e recuperar o caldeirão da
ressurreição, Bran resulta ferido. Pede aos sete sobreviventes que lhe cortem a
cabeça, a levem com eles e regressem a ilha da Bretanha.
- "Em Hardlech permaneceis sete anos sentados à mesa,
durante os quais os pássaros de Rhiannon cantarão para todos vocês. Minha cabeça
resultará em uma companhia tão agradável como nos melhores momentos, quando
estava sobre meus ombros".
Assim o fizeram. Se dirigiram a Hardlech e se
instalaram ali. Começaram a prover-se de comida e bebida em abundância, e se
puseram a comer e beber. A pareceram três pássaros a cantar-lhes um som que
superava em encanto a tudo que já haviam ouvido. Os pássaros se mantinham longe,
sobre as ondas, mas no entanto, os ouviam tão claramente como se estivessem com
eles. Esse banquete durou sete anos." (Joseph Loth, Mabinogion, I, pp. 147-148)
Nessa história não aparece Rhiannon em pessoa,
mas sim os pássaros maravilhosos que pertencem a Deusa. São eles que faz com que
os sete sobreviventes percam o sentido do tempo e permaneçam no festim da
imortalidade por sete anos, sem recordarem-se dos momentos dolorosos.
Os três pássaros de Rhiannon são
verdadeiramente mágicos e submergem a quem os escuta em um verdadeiro êxtase que
faz esquecer a própria existência.
A Deusa dos Pássaros é, pois, um dos aspectos
essenciais de Rhiannon, uma aspecto mais sereno, mas tranqüilizador do que seu
aspecto de égua. Como Deusa Pássaro, Rhiannon representa a esperança e o
esquecimento das grandes dores da vida.
A DEUSA-MÃE
Rhiannon, representa também, a Mãe da
Consolação, que dedica-se e ama às crianças. Querendo ou não, é a mãe que indica
ao homem o caminho a seguir.
O relacionamento embriônico, bem como o
infantil, da criança e a mãe, é o protótipo de todos os relacionamentos primais.
Somente a consecução do desapego ao relacionamento primal, e uma atitude
objetiva em relação a este último leva a descoberta do "Eu" masculino e à
estabilidade.
A missão do homem é resgatar o "Feminino"
(anima) da dominação materna, necessário para o seu desenvolvimento.
A mãe doadora de vida e administradora da
morte, o Grande Poder Feminino, está bem visível na saga de Rhiannon.
O que todos nós precisamos é experimentar como
uma pessoa se sente quando é amada. E, se nenhuma pessoa estiver disposta a
proporcionar -nos essa experiência, então precisamos a aprender a amar a nós
mesmos.
Podemos identificar Rhiannon, nas mulheres do
nosso dia-a-dia. São na maioria mulheres fortes e lutadoras, como também
sobreviventes da violência doméstica.

Essa Deusa é ainda, o arquétipo da Senhora Godiva,
uma mulher que monta nua coberta somente com um véu um cavalo branco.
Rhiannon
dos pássaros, da égua branca do mar é a Deusa Donzela do amor sexual e da
fertilidade. Ela é
virgem significando que é completa em si. A "Donzela" é a face mais jovem da
Deusa, relacionado com os descobrimentos e aspectos mais criativos da nossa
personalidade. É pura inocência e despreocupação, é alegria de viver. Se associa
também com a primavera que celebramos durante o Festival de Ostara.
DEUSA DO INSTINTO

Rhiannon aparece em sua vida para que possas
trabalhar o instinto. Duvidar de alguém, quando seus instintos acendem aquela
"luz vermelha", até que é saudável. Mas, a desconfiança exagerada só lhe trará
dor e sofrimento. Seria como negar-se a si mesma, e isso não ajuda muito. A
maneira correta de se trabalhar uma dúvida é transformá-la em questionamento. Só
através dele se alcançará respostas.
Você é daquelas pessoas que permite que a dúvida
transforme seu otimismo em medo, sua confiança em baixa auto-estima e sua
vitalidade em procrastinação? Talvez você esteja precisando exercitar mais seu
ceticismo, em vez de confiar cegamente. Talvez também, estejam seus instintos
solicitando mais informações antes de partir para a ação. Permita-se questionar
mais a sua dúvida, para se assegurar da verdade.
Rhiannon, lhe diz para que não permita que a
dúvida mine o seu "eu sagrado". Questione-se em vez de duvidar e obterá as
respostas necessárias para prosseguir rumo à sua totalidade.
RITUAL PARA PERDAS

O propósito deste ritual é amenizar uma perda ou
uma decepção e ele só pode ser realizado na Lua Minguante.
Material:
4 velas brancas ou douradas
1 incenso de sândalo, benjoim ou cedro
Flores brancas (qualquer uma)
1 cristal quartzo claro
1 taça com água
Pétalas brancas de qualquer flor
Monte seu altar posicionando nos pontos cardeais:
o incenso, a Taça com água , as Flores e o Cristal de quartzo. Posicione também
uma vela em cada um destes pontos. . Em frente do altar trace o círculo
mentalmente e invoque Rhiannon:
Honramos Rhiannon
Para que conforte seus filhos
Em épocas de penas e perdas
Sua doce canção nos ajuda
A estimular a reclusão
De que tanto precisamos neste momento.
Colocando-se à oeste, visualize Rhiannon montada
em seu cavalo branco e chame-a. Assim que ela se aproximar, peça-lhe que leve
embora consigo toda a energia negativa que tantos momentos ruins lhe
propiciaram. Sente-se e imagine agora uma luz branca que irá envolver todo o seu
corpo. Tome nas mãos as pétalas das flores brancas. Pense em tudo aquilo que
perdeu, nas decepções, nas privações e enfermidades. Concentre todas estas
energias negativas na pétalas e depois as coloque dentro da taça com água e
diga:
Rhiannon me conforte nesta época de crise
Me dê forças para superá-las e seguir em frente
Leve embora todas estas energias ruins
E abençoa-me trazendo somente energias positivas.
Levante os braços e agradeça sua presença em seu
ritual. Desfaça mentalmente o círculo. Em seguida, a taça com as pétalas devem
ser jogadas na terra e se converterão em crescimento de uma nova vida, um novo
retorno e novas expectativas.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
Bibliografia consultada
O Amor
Mágico - Laurie Cabot e Tom Cowan
O Livro
da Mitologia Celta - Cláudio Crow Quintino
Diccionario de Las Hadas - Katharine Briggs
O Medo
do Feminino - E. Neumann
Consciência Solar, Consciência Lunar - Murray Stein
As
Deusas e a Mulher - Jean Shinoda Bolen
Caminho
para Iniciação Feminina - Sylvia B. Perera
La Mujer Celta - Jean Markale
La Mythologie Celtique - Y. Brékillen
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