~*~DEUSA PAPA, MÃE TERRA MAORI~*~

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAPA, DEUSA MAORI DA TERRA

 

LENDA

MÃE TERRA E PAI CÉU (Nova Zelândia)

 Todos os Deuses nasceram da união de Rangi (Pai Céu) e Papatuanuku, a Mãe Terra. A terra e o céu fizeram amor e produziram setenta filhos, entre eles: Tangaroa, Deus do mar; Tane, Deus das florestas; Rongomatane, Humiatikitiki,  Deus das plantas comestíveis silvestres; o Deus da agricultura;Tawhirmatea, Deus dos ventos; Tumatauenga, Deus da discórdia e da guerra, que deu origem aos seres humanos; e Uru, que não era Deus de nada.

Rangi e Papa estavam unidos em um abraço contínuo e tão apertado, que seus filhos não podiam deixar o ventre da mãe Papa.  Obrigados a viver dentro do útero materno, os Deuses resolveram dar um basta na situação.

— "Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles!" — disse Tumatauenga, horrorizando seus irmãos.

— "Não! "— disse Tane, o gentil Deus das florestas. — "Vamos apenas separá-los, empurrando um para cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a luz vai poder entrar."

Todos acharam a idéia bem mais sensata, como só poderia ter aquele que tem paciência de ver pequenas sementes crescerem até serem grandes árvores que tocam o céu. Tawhirmatea, Deus dos ventos, rugiu em desaprovação. Rongomatane, o Deus da agricultura, tentou separar a terra e o céu, mas só conseguiu um espaço da altura do inhame, o que não era suficiente. Tangaroa, o Deus do mar, tentou, mas só conseguiu separá-los até o espaço de uma grande onda, o que não era suficiente. Humiatikitiki, Deus das plantas comestíveis silvestres, também tentou, abrindo espaço apenas do tamanho de uma bananeira.

Finalmente, Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força.

Os pais se separaram mas — oh, decepção! — só um pouco de luz chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e, longe um do outro, sentiam muito frio.

Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da noite.

Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a povoar o mundo recém-criado.

Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no novo mundo, Rangi ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o mundo com uma névoa úmida e cinzenta.

Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas Tane tudo percebera:

— Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda!

— Nada tenho para dar, você bem sabe!

— Ora, Uru, você tem tantas cestas...

Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou a cabeça: — Não tem nada dentro delas, irmão.

Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)!

— Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai...

Uru concordou. As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam umas para as outras o tempo todo.

Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu, deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a "cauda" da nossa constelação do Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das estrelas.

Depois de toda essa obra acabou, somente alguma coisa ainda faltava, o "uha" (o elemento feminino), pois todos os Deuses eram masculinos. Não havendo nenhuma mulher. Tane retirou argila de um lugar conhecido como kura-wara e modelou Hine-ahu-one, a primeira mulher. Com ela teve uma filha e a humanidade iniciou-se assim.

 

A Deusa Papa é também venerada no Havaí, onde dizem que estava casada com o primeiro cacique, Wakea, um humano, porém o abandonou quando esse teve uma relação incestuosa com uma de suas filhas. Papa estava tão furiosa que deixou a terra e amaldiçoou os humanos com a mortalidade. Sua partida é a responsável pelas divisões de classes da sociedade havaiana, já que um dos filhos que ela deixou se converteu no primeiro escravo.

Papa é a Deusa do Divórcio e das rupturas sentimentais, que pode nos auxiliar nos momentos mais tristes de nossas vidas, pois ela mesma também teve que suportar seu afastamento de seu amado marido Rangi. A Deusa também teve que intermediar o conflito entre seus filhos, que tramaram inclusive matar o pai para nascerem.

 

MAORI

Esse é o nome dado as tribos indígenas e povos de Aotearoa (Terra da Grande Nuvem Branca), o nome maori para Nova Zelândia, os quais hoje constituem mais de 15% da população.

Seus antepassados polinésios viajaram milhares de quilômetros pelo alto mar com canoas desde a mística ilha Hawaiiki através do Pacífico até chegar a desabitada Nova Zelândia em torno de 800 anos atrás. Os Maoris possuem uma cultura rica e dinâmica, em cujo centro de interesse esteve e está a constante troca de idiomas do mundo espiritual. Orações (Karakia), poemas, transmissões verbais e música foram e são uma parte vital do sistema social dos Maoris.

Depois da chegada dos primeiros brancos em 1769, os missionários trataram de exterminar as tradições dos Maoris, sua espiritualidade e suas crenças. Estabeleceram guerras por terra e poder entre os Maoris e as tropas das colônias britânicas. No ano de 1840 se formou um contrato de paz (Waitangi), porém a luta continuou: em campos de batalha, em Tribunais de Justiça, nos meios de comunicação e inclusive nas Nações Unidas. Os Maoris trataram de diversas maneiras recuperar sua soberania e seu direito de auto-determinação, porém esse tema continua sendo um problema sem solução até o dia de hoje.

Os Maori dizem que a terra é o "whenua", que significa placenta, sendo que o Maori é o "whenua de Tangata", literalmente quer dizer: povo que nasceu da terra. Acreditam que os povos pertencem a terra, assim como a Terra pertence aos povos.

Os Maori, como a maioria dos povos indígenas, possuem laços espirituais muito fortes com a Deusa Papa, a Mãe Terra. É ela que os sustenta e fortalece a identidade a seu povo. Consideram que é a Deusa Papa que sustenta toda a vida. Terra, solo e água são considerados como o "taonga" (tesouros). Maori é o "kaitiaki" (guardião) desses taongas.

 

WHAKAPAPA (genealogia)

O passado é o caminho para o futuro!

A herança indígena remete a uma visão epistemológica, a uma visão da realidade que é diferente daquela dos europeus. Essa visão da realidade se baseia em whakapapa - genealogia -, o aprendizado do conhecimento a partir da criação até o presente. Nessa concepção de tempo, bastante diferente da dos europeus, apenas o passado e o presente são reconhecidos, não se presta atenção ao futuro. O aprendizado do conhecimento começa, portanto, com whakapapa, a partir dos Deuses, dos heróis, dos ancestrais, entre o início de tudo e a geração atual. A maioria das pessoas conhece seus pais, seus avós, seus parentes. Mas na tradição Maori, elas os conhecem até a criação, juntamente com as histórias associadas a cada nível da genealogia e à criação que os integrou em um mundo natural, onde a terra é concebida como Mãe Terra, o céu, como Pai Céu, e assim por diante em relação aos deuses nos vários domínios da natureza. Essa é a concepção do mundo natural. Os Maori não estão acima dele, são parte dele e se vêem assim, acham-se parte da ordem natural.

Eles vêem a si próprios olhando o passado, sempre orientados para o passado, que é a realidade conhecida: o presente, o passado imediato e o passado até o início da criação. É isso que compõe sua realidade. E essas coisas são sempre recordadas nas reuniões dos Maori. Portanto, eles se vêem no passado, viajando para trás a caminho do futuro, enquanto o presente continua como uma extensão do passado.

 Os europeus fazem exatamente o contrário: olham para o futuro em relação ao passado. É uma orientação cultural diferente, o que é fundamental. A geração atual de europeus na Nova Zelândia quer apagar o passado a fim de esquecer os aspectos desagradáveis da colonização, da exploração, do desajuste cultural, e assim, fingindo esquecer o passado, imaginam ser possível partir para um futuro róseo junto com os Maori. Essas duas visões da realidade estão em constante tensão.

Os últimos 30 anos testemunharam o início de um renascimento Maori.A crescente influência Maori está dando forma a uma sociedade que reconhece sua singular posição de tangata whenua (povo da terra).

 

TERRA, SÍMBOLO DO INCONSCIENTE

No simbolismo do inconsciente, a terra é o útero de tudo aquilo que dela se origina, e está viva na fantasia do homem, isto é, no inconsciente dele. Nesse simbolismo, a terra não conta como um elemento que ocupa um quarto lugar, juntamente com o fogo, a água e o ar, mas representa o todo, como na realidade da nossa linguagem simbólica, quando falamos "nossa" terra. O fogo vive dentro da terra, a água emana dela, e o oceano de ar flutua ao redor dela.

Alcançamos aqui a concepção matriarcal básica do inconsciente, uma visão do mundo segundo a qual a terra é a Grande Mãe, em oposição ao princípio masculino patriarcal.

A vida origina-se da Terra e sai dela, e a luz que aparece projetada no céu noturno, que é ela mesma, está enraizada em suas profundezas. O mundo matriarcal é geocêntrico: as estrelas e os signos do zodíaco são o cinturão celestial da Deusa Terra, e estão dispostos em torno dela como o verdadeiro centro em redor do qual tudo gira.

A Terra, portanto, é a representação simbólica do próprio homem. O retorno à Grande Mãe Terra é um retorno à ele mesmo, ou seja, o cuidado para com a Terra garantirá sua sobrevivência não tão somente física como também psíquica. A estrela e a árvore dentro de nós não é menos simbólica nem menos real que uma experiência corpórea. A Terra transcende o homem, mas, não obstante, é nele que se localiza.

 

DEUSAS MÃES-TERRA

Desde o princípio dos tempos os seres humanos têm adorado um vasto panteão de Deusas Mães Terra, invocando sua ajuda em tempos de necessidade e agradecendo os favores da abundância. Cada civilização desenvolveu suas próprias Deusas, pois possuíam línguas e costumes diferentes, e habitavam os quatro cantos do mundo.

Como a nossa Deusa Papa existem a Mãe Terra Pachamama, a Deusa grega Gaia e Deméter, a Deusa egícia Ísis, a Deusa esquimó Sedna, as céltica Banba (Mãe Terra), Cailleach (a velha sábia que rege o inverno), a Dama do Lago que guarda a mítica espada Excalibur do rei Arthur em Avalon, e muitas outras.

Mais de mil nomes denominam a Deusa Mãe Terra de todos os tempos e de todas as culturas da humanidade.Todas elas são veneradas como Deusas, mas amadas como Mães.

 

RITUAL DE PAPA PARA O DIVÓRCIO

Se você está se divorciando, sabe que não é uma decisão muito feliz e vai enfrentar uma dura trajetória até tudo esteja definido. Papa é uma Deusa compreensiva que você pode invocar nesses momentos tristes, já que ela entende muito bem o custo de uma ruptura.

Papa é uma Deusa da Terra, sendo assim fica mais fácil conectar-se com ela saindo para um campo aberto. Se reside na cidade, reserve um dia de seu final de semana para viajar e visitar um sítio, preferencialmente um sítio considerado de culto ou veneração, onde já exista um círculo de pedra. Se não tiver, você mesma terá que fazer seu círculo para depois sentar-se dentro. O ideal é sentar-se no alto de uma colina e então olhe para oeste. Tome então um punhado de grama, areia ou erva. Olhe-o e pense em todos os sentimentos ruins que tem sentido nas últimas semanas ou meses e que quer liberar-se. Então, lance o punhado pela colina, tão longe quanto possa, dizendo:

"- Deusa Papa te imploro para que afaste todos esses sentimentos."

Agora levante-se, de a volta e olhe para leste. Observe a linha do horizonte e concentra-se nas emoções que não deseja mais sentir. Quando terminar feche os olhos e respire profundamente por três vezes, antes de deixar a colina.

 

RITUAL PARA RESOLVER CONFLITOS COM OS FILHOS

Esse ritual é para pedir a intervenção de Papa, a Deusa da Terra, que também teve conflitos com seus filhos. As pedras são os filhos da terra, e são usadas nesse ritual para representar seus filhos e você.

Procure encontrar pedras com superfícies lisas (pedras ornamentais brancas). Você necessitará uma pedra para cada pessoa em conflito. Selecione também uma pedra que represente a Deusa Papa.

Lave bem as pedras, deixando-as bem limpas. Acenda uma vela azul (que representa a amizade e a cooperação) e coloque as pedras em torno da vela formando uma figura geométrica. Pode ser um triângulo, um quadrado ou um círculo. É importante que a figura represente uma ordem, assim como as pedras devem estar eqüidistantes da vela. Reflita durante alguns momentos sobre a relação que você deseja ter com seus filhos depois do conflito.

Deixe as pedras em torno das velas até que essa se consuma. Depois coloque todas as pedras juntas dentro de uma caixinha ou bolsinha, e deposite-a em um lugar seguro até que o conflito seja solucionado. Quando esse se suceder, devolva as pedras para a natureza.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

 

Bibliografia

El Libro de Las Diosas - Roni Jay

O Medo do Feminino - Erich Neumann