OYÁ,
DEUSA DA LIDERANÇA FEMININA

Vivenciamos hoje
o retorno da Deusa. Rerimida e negada por milhares de anos de dominação
masculina, ela ressurge em um momento de extremíssima necessidade, pois
caminhamos hoje pelo vale da aniquilação... É neste entremeio de
mudanças e transição que a Deusa renasce...
Nós mulheres que
abrimos nossos ventres para a produção da vida, sabemos de sua importância...
O apelo feminino por um novo reconhecimento surge como resposta à violência
que ameaça perder o controle. Das profundezas da psique inconsciente, a
antiga Deusa está se levantando. Se nos recusarmos a reconhecê-la ela
poderá liberar as forças da destruição. Mas, se garantirmos o que
lhe cabe, ela poderá guiar-nos pelo caminho da transformação.
Conta-se
a história que da linhagem da Princesa Ishedale nasceram deusas,
mulheres adoráveis pela beleza protetoras dos rios, bosques, matas e
montes, conhecidas na teogonia africana por Ayabas que em Yorubá
significa “... rainha mulher do rei". Termo honorífico dado às
divindades femininas da cultura Yorubana. Dessa
linhagem nasceu Oiá-Iansãn.
Oiá
é uma mulher selvagem que manifesta-se de várias formas
naturais: nos tufões, nos terremotos, nos relâmpagos, no fogo, no rio Níger e nos búfalos. Questionar e descrever as diversas manifestações
desta deusa, não é tarefa fácil, pois assim como vento, que tanto
pode ser suave como violento, assim é a idéia religiosa da persistência
de Oiá. Os iorubás já formulavam palavras cuidadosas sobre Oiá e os
outros deuses com os quais ela partilha seu cosmos.
Nos padrões de manifestações
da deusa Oiá, verifica-se que ela jamais recusa-se de participar nos
enclaves do culto e da cultura ocupados por autoridades masculinas. Ela
possuí também, uma língua afiada e tão ágil quanto sua espada.
Volta e meia sua boca cospe fogo. É uma revolucionária! Se for excluída,
torna-se extremamente violenta. Ela abriu caminho para chegar no panteão iorubá num furacão.
No nosso Brasil, esta
deusa chegou nas cabeças de seus adoradores que viajaram acorrentados
nos navios negreiros. Oiá, aqui é conhecida como Iansã, que quer
dizer "Mãe de Nove". Esta prole que ela deu à luz,
representa os nove estuários do rio Níger que deságuam no mar. Mas
aqui no Brasil, o nove que seus adoradores cultuam refere-se ao jogo de
mistério que ela preside. Por trás da cortina da morte, ela gera nove
seres anômalos dos quais o mais novo reentra em nosso mundo com uma
estranha voz, um poder de maldição e benção. Mas qualquer que seja o
lado do Atlântico que nos encontramos, o nove sempre representará o número
de Oiá. Mágico número, que quando multiplicado por qualquer outro,
sempre retorna a si próprio nos dígitos alterados do produto.
É importante acrescentar
que todas as manifestações culturais de Oiá são africanas. Sua
negritude importa histórica, política e cinesteticamente.
Oiá representa ainda, um
dos cinco elementos mais importantes para a existência humana: o ar que
respiramos. Quando ocorre algo importante, ou alguém nasce ou morre, é
através do vento, que ela comunica o acontecimento aos Orixás.
Seu
colar de contas é vermelho ou tijolo, o coral por excelência, o monjoló
(uma espécie de conta africana, oriunda de lava vulcânica).
Seus
símbolos são: os chifres de búfalo, um alfanje, adaga, eruesin
(confeccionado com pelos de rabo de cavalo, encravados em um cabo de
cobre, utilizado para "espantar os eguns").
A
quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela. Seu metal é o cobre e
sua cor é marrom.
Data de sua festa : 04 de
dezembro
Quando
se manifesta sobre um dos iniciados, ela está adornada com uma coroa
semelhante a dos reis africanos, cujas franjas de conta escondem o seu
rosto. Ela traz uma alfanje em uma das mãos e um espanta mosca feito de
rabo de búfalo outra.
No
Brasil, Oyá é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nossa
Senhora da Candelária.
Oiá
relaciona-se com o nosso chakra raiz, lugar de energia de kundalin.
Quando este chakra está em equilíbrio, nos sentimos imensamente
seguros, alertas, estáveis e nossas vidas transbordam de energia ativa
e positiva.
DEUSA DAS MUDANÇAS

Oiá é a deusa dos
limites, do jogo dinâmico, da transformação de um estado para outro,
a rainha dos ventos da mudança. É temida por muitos, pois traz consigo
a mudança estrutural repentina para os povos e coisas. É a mãe da
mente. É também mestra dos disfarces, hoje pode parecer-se com um
cordeiro delicado, mas amanhã pode tornar-se um búfalo furioso que
espezinha a terra abaixo de seus pés, assim, como futuramente venha a
transformar-se no arco-íris depois da tempestade. Ela é, portanto, uma
deusa muito agitada, mas com um senso de direção aguçado.
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DEUSA DA LIDERANÇA
Ela oferece proteção
especial para líderes femininas e dá força e vigor para as negociações
que envolvem autoridades civis e julgamento de disputas. Podemos denominá-la,
como a padroeira das mulheres que alcançaram um certo poder dentro de
uma comunidade.
Oiá representa o poder
feminino, forte, corajoso e independente. Ela está sempre disposta a
correr riscos.
Invoque Oiá, sempre que
necessite alguma manifestação de autoridade ou liderança. Também
quando estiver às voltas com problemas de difícil solução, é a ela
que devemos pedir proteção.
DEUSA DA TRANSFORMAÇÃO
Como Deusa da Transformação,
guarda as portas da morte, cumprimentando os mortos. Os seus bosques
sempre alcançam os arredores do cemitério.
Quando nos referimos a Oiá
como guardadora das portas do cemitério, estamos indicando simplesmente
outras das mudanças repentinas da vida que são manifestadas pela
energia deste orixá. Que mudança pode ser mais repentina do que a
morte?
Oiá era a segunda esposa
de Xangô, Senhor do Trovão e da Fertilidade, juntos, lado a lado,
criam o relâmpago e a destruição. Ela é o único orixá bravio o
suficiente para confrontar a morte.
Oiá é a paixão
impetuosa interiorizada ma psique feminina. Se você a invocar, esteja
preparada para as conseqüências, pois será lançada em suas
tempestades, mas com certeza, se sentirá confortada com os
conhecimentos que ela lhe passará.
Mãe da Transformação,
padroeira do sexo feminino, confie em Oiá para navegar nestes
tempestuosos tempos. Dê boas-vindas à presença desta deusa e suas sábias
lições. Ela lhe dirá, que é somente depois da chuva que visualiza-se
o arco-íris (outro símbolo da deusa).
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A DEUSA E A MULHER NEGRA
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Conhecer a história de
ancestrais femininas, perdidas na névoa do tempo, traz à mulher negra de hoje,
a possibilidade de contato com uma dimensão de seu inconsciente que nenhuma
religião proporciona.
Trabalhar os arquétipos de heroínas
africanas, tem sido um tratamento eficiente no resgate de uma possível
auto-estima perdida.
Através dos orixás visualizamos
a forma pura com que estas mulheres negras viveram ardentemente amores e
desamores, encantos e desencantos, sempre em perfeita harmonia com sua consciência
divina.
É também, através do
conhecimento da história de suas ancestrais femininas africanas que a mulher
negra pode reconhecer-se herdeira de atributos reais, valores, por vezes, por
elas totalmente desconhecidos.
Oiá é uma deusa-heroína sem
fronteiras, que chega até nós montada em seu raio para nos dizer que a alma de
toda a mulher é livre. Todas nós, um pouco deusas, um pouco mulheres, somos
rainhas de nossas vidas e tal qual Oiá, riscamos o firmamento, deixando para
todo o sempre, as marcas da luz de nossas pegadas.
O CHAMADO DA DEUSA

Oiá é a deusa, que através de
seus ventos da mudança, varre o velho, para preparar terreno para o novo.
A deusa chega para alertá-la,
que é hora de buscar coragem para mudar. É hora de varrer, limpar, remover.
Resistir à mudança pode provocar mudanças mais persistentes. Deixe-se
carregar pelos ventos de Oiá e prepare-se para crescer, aprender e energizar-se. Aceite participar desta dança caótica de mudanças e será abençoada
com incontáveis possibilidades. Faça diferente, abandone-se completamente.
Mudanças são necessárias em nossas vidas para nos alimentarmos interiormente.
Arme-se de coragem: MUDE. O
caminho da totalidade chegará para você, no momento em que se tornar
desprendida e abraçar a mudança.
Trabalhe com a mudança repentina
de Oiá para atrair o amor, a profundidade e a sabedoria para o decorrer de suas
vidas.
A
DEUSA E A NOVA ERA
  
A
presença da Deusa nunca saiu do lugar sagrado da nossa consciência, mas agora
ao entrarmos em "novos tempos" e uma "nova era", podemos
sentir sua presença desperta. O princípio feminino tem sido reconhecido pela
humanidade sob vários aspectos. Depois de ter sido relegada à uma condição
inferior e tendo sua essência praticamente reduzida à passividade,
irracionalidade e escuridão, eis que ela regressa do inconsciente de todas nós,
trazendo consigo sentimentos, intuições e experiências incontáveis. Neste
período tão conturbado, necessitamos entrar em contato com nossos sentimentos,
vivenciarmos nossos corpos sem culpa, atribuindo tudo isso ao princípio
feminino.
Com
a franca decadência da cultura patriarcal, uma nova ordem deve se estabelecer
no mundo: a cultura do amor. Sentimento feminino que engloba a emoção, a nutrição,
a cooperação, a totalidade e o cuidado com a natureza.
A
" nova era" vê a emergência de uma nova sensibilidade. A imaginação
criativa da mulher é a força que moldará esta nova realidade. Somente ela é
capaz de unir, política com espiritualidade, ciência com misticismo, coração
com mente, combinações que dão novas definições e dimensões ao poder do
amor.
ORAÇÃO À OIÁ
  
"Só
ela segura os chifres do búfalo
Só
ela enfrenta o morto que volta.
Ela
anda junto com a violência.
Madura
como a tarde;
Rio
poderoso,
Fogo
o que queima: o sol também.
Ela
acorda dançando com fogo,
Nove,
os clarões do relâmpago,
O
segredo a enxerga.
Bicho
de nove cabeças,
esmaga
a montanha do mal.
Até
a noite cair, ela sustenta seu filho que luta.
Ela
se estende comprida pela terra.
Ela
queima como fogo na lareira,
em
todo lugar ao mesmo tempo.
Tufão
que balança árvores sólidas.
Disfarçada
no redemoinho, acordando,
pega
corajoso em sua espada."

Rosane
Volpatto


 

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