NANÃ, A DEUSA DA
VIDA E DA MORTE


Nanã é um orixá feminino de origem
daomeana, adotada da África
que representa o dogbê (vida) e a doku (morte). Ela acolhe em seu ventre os
ghedes (mortos) e os prepara para o leko (renascimento). Essa dualidade é
representada por Nanã que personifica os pântanos. É neles que a mistura da água
(vida) e da terra (morte), formando a lama, existe um portal entre as dimensões
dos vivos e dos mortos. O pântano ou a lama, foi o local escolhido por Nanã para
ser sua residência. Entretanto, para haver barro ou lama, tem que haver chuva,
Nanã passou também a reger a chuva.
Nanã é conhecida por vários nomes,
dependendo da região e do dialeto, mas em
Dahomey (hoje Benin) na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo,
ela é conhecida como Nanã
Buruku . Ela está fortemente ligada ao elemento terra e é chamada de
"Senhora dos Pântanos", assinalando-a como uma Grande Mãe que é responsável pelo
sopro da vida e conseqüentemente a morte.
Nanã sempre conduz os seres
humanos com muita seriedade, justiça e determinação. Seus cânticos são súplicas
para que a morte seja mantida afastada e que a vida seja preservada.
Sendo a personificação da "lama"
ou da "chuva", Nana está sempre no principio de tudo, relacionada ao aspecto da
formação das questões humanas , de um indivíduo e sua essência. Ela é
relacionada também, freqüentemente, aos abismos, tomando então o caráter do
inconsciente, dos atavismos humanos.
Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas,
momento em que o homem começa a desenvolver cultura (período neolítico).

MITOLOGIA

Nanã de origem daomeana, foi incorporada há séculos
pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Dahomey (atual
República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos
dominados à sua mitologia já estabelecida.
Nesse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continuou sendo
o pai de quase todos os Orixás. Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus
filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos,. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs
(vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo).
Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento
de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá.
Muitas pesquisas apontam ainda que
os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que
esse conceito pode
ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a
população negra mais próxima. Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o
conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, que Nanã
apareceria como a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos:
Iroco (ou Tempo), Omulu (ou Obaluaê, orixá da varíola) e Oxumarê (orixá do
arco-íris).
E teria tido uma filha, Ewá, nascida
de uma relação entre Nanã e Oxóssi, ou ainda, entre Nanã e Orunmilá, conforme o
mito.

NANÃ NO BRASIL
Aqui no Brasil, os escravos
africanos introduziram com muito êxito suas divindades, como a Deusa Nanã, Oya,
entre outras, nas religiões como o candomblé, a umbanda e o batuque. Essas
religiões incluem a possessão por parte dos deuses.
Quando
Nanã se manifesta numa de
suas iniciadas é saudada pelos gritos de Salúba!

SEUS INICIADOS
Seus sacerdotes e sacerdotisas são
experientes à prática da medicina através das ervas, pois Nanã é detentora do
conhecimento do uso terapêutico delas (ervas). Mas a Deusa explica ainda, que
além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças
podem ter origem espiritual e portanto, requer tratamento nesse sentido. Mas,
qualquer que seja a origem da doença, se a pessoa enferma recorrer à Nanã,
obterá o remédio curador.
Muitas mulheres recorrem à essa
Deusa quando não conseguem engravidar e Nanã ensina prontamente a mistura de
ervas que deve tomar, assim como os "ebós" e oferendas que devem ser feitos.
Caso sejam atendidas, é costume na África, em homenagem à Deusa, acrescentar ao
nome da criança a palavra "nanã". Todos seus sacerdotes e sacerdotisas também
usam na frente do nome esse prefixo.

O culto de iniciação dos "filhos"
de Nanã requer uma série de cuidados especiais, tanto aqui no Brasil como na
África. Durante um período é necessário abster-se de sexo, bebidas alcoólicas,
qualquer tipo de droga ou vício, pelo menos por 2 meses antes. Nesse período são
realizados vários "ebós" na casa do santo.
Na África as mulheres menstruadas
são impedidas de entrar em seu templo ou fazer comida de santo. Nanã fala que a
bogami (menstruação) é um sangue impuro e diz para as mulheres não cozinharem
para seus maridos quando estiverem menstruadas. Aqui vemos claramente traços de
um período muito arcaico (neolítico) em que o sangue da menstruação ainda era
considerado impuro.

NANÃ E HÉCATE
Nanã é também uma Deusa da Lua
Escura que muito se assemelha a Hécate nas funções de regente dos processos
misteriosos da vida e da morte, das passagens difíceis da vida e da entrada nos
caminhos árduos da transformação. A nível psíquico, essas passagens não podem
ser eliminadas do curso normal da vida.
Nanã, assim como Hécate é a Deusa
Terra primordial que dá nascimento às sementes e acolhe em seu seio os mortos.
Tanto pode dar vida como a morte, seqüências da mesma realidade. É ainda, Dona
da sabedoria e da justiça, que vem da natureza e a sua lei é implacável.
Nanã o Orixá feminino mais velho do panteão, pelo que é altamente
respeitada. Veste-se de branco e azul. Suas contas são de louça branca com
riscos azuis. Traz na mão o Ibiri, seu cetro, que é feito com palitos de
dendezeiro e nasceu junto com ela, na sua placenta. O sincretismo de Nanã
com Sant'Ana, avó maternal de Jesus, e padroeira dos professores, reforça a
impressão de que ela é muito antiga e que sua chegada ao Brasil foi anterior à
dos Yorubas.
A Deusa tanto pode trazer riquezas
como miséria. Está relacionada, ainda, ao uso das cerâmicas, momento em que o
homem começa a desenvolver cultura.
Os búzios, que simbolizam morte por estarem vazios e fecundidade porque lembram
os órgãos genitais femininos, também pertencem a Nana.
Entretanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Nana é o "grão", pois
ela possui o domínio da agricultura e todo "grão" tem que morrer para germinar.

MITOLOGIA

LENDA 1 (Mitologia Fon)
Na mitologia Fon, Nanã Buruku (ou
Buluku) que deu nascimento ao gêmeos: Lisa e Mawu.
Mawu era a Lua, que teve força ao
longo da noite e viveu no oeste. Lisa era o Sol, que fez sua morada no Leste.
Quando existia um eclipse dizia-se que Mawu e Lisa estavam fazendo amor.
Mawu-Lisa criaram todo o Universo e os Voduns
juntos. Eles eclipsaram várias
vezes e tiveram no total sete casais de gêmeos (sempre um masculino e o outro
feminino).
Mawu e Lisa chamaram seu filhos e os enviaram à Terra como os primeiros
habitantes e para que esses os ajudassem a governar a Terra, deram a cada um uma
atribuição.
Os principais Voduns são: Loko; Gu; Heviossô; Sakpatá; Dan; Agbê; Águé; Ayizan; Agassu; Legba e Fa.
Com o nascimento desses filhos, Nana criou a dualidade que daria o equilíbrio ao
mundo e aos seres viventes.
Mawu é o princípio feminino, a fertilidade, a suavidade, a compreensão, a
ponderação, a reconciliação e o perdão. Já Lisa é o princípio masculino, o
julgador, a impaciência, a força cósmica que castiga os homens errados e os
corrige, a seriedade. Ele está sempre atento para que as leis de Mawu sejam
cumpridas.
Os fons, ao chegarem no Brasil, eram chamados de "Jejes",
implantaram aqui o seu culto, baseado na rica, complexa e elevada Mitologia Fon.
Sua entrada no em nosso país ocorreu em meados do século XVII.
Djedje (jeje) é uma
palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que
recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos
conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os
conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando
o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!).
Quando os primeiros
daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui
reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou
conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”.

NANÃ BURUKU
Nanã Buruku está
associada com as Onze Energias cósmicas e é íntima delas compreendidas ma
religião da Umbanda. É denominada como a "Avó de todos os Orixás". Nada acontece
sem que ela tenha conhecimento, sempre presente, desde a criação incessante do
universo até o desenrolar contínuo da atividade existencial de todos os seres e
elementos que compõem o organismo vivo do nosso planeta. Soma-se com outras
Energias para, juntas, comporem a forma mais sutil e perspicaz orixá: Oxumaré
que personifica a curva do arco-íris.
Na Umbanda, Nanã é
configurada pelos fiéis e "filhos de cabeça" como sendo fisicamente uma senhora
sempre curvada pelo peso das eras e cujo rosto nunca é visto, porque está sempre
encoberto. Sua imagem está projetada na figura de um devoto que canta e dança em
seu louvor, mimeticamente, como se embalasse uma criança. Outras vezes com as
mãos juntas como se socasse um pilão. Sua postura em muito se parece com o orixá
Omolu com o qual parte e reparte suas próprias vibrações preferenciais e
idiossincrásicas.
É conhecida também
por: Bukuú (Togo), Naná Buluku (Benin, ex-Daomé), Borokô (candomblés de
caboclo), Tobossi (fantiashanti), Kerê-Kerê (Angola e Congo) e mais as variantes
Naná, Nanã, Nanã Buruquê, Buruku, Ananburuquê, Anaburuku, Naná Buku, Naná
Brukung e, na língua yoruba como Nanã Buruiku.

LENDA
2
Dizem que quando Olorum, o ser Supremo, encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o
ser humano, Oxalá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o Homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o Homem logo
se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra,
mas ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o Homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho de palma, e nada.
Foi então que Nanã veio em seu socorro e deu a Oxalá a lama, o barro do
fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nanã. Oxalá
criou o Homem, o modelou no barro. Com o sopro de Olorum ele caminhou.
Com a ajuda dos Orixás povoou a terra.
Mas tem um dia que o homem tem que morrer. O seu corpo tem que voltar a
terra, voltar a natureza de Nanã. Nanã deu a matéria no começo, mas quer
de volta no final tudo o que é seu.
Essa lenda descreve a natureza de
Nanã como a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.

LENDA 3
Essa terceira lenda conta que Nanã foi
conquistar o reino de Oxalá e acabou sendo conquistada por ele. Entretanto, o
deus amava muito sua esposa, Iemanjá, e jamais se envolveria com Nanã. Essa
então, o embriagou e o seduziu, engravidando. Desse ato adúltero nasceu Obaluiaê,
uma criança muito feia e deformada que foi abandonada no mar. Iemanjá o
encontrou meio morto e todo mordido pelos peixes e o cuidou até que ficasse
curado. Para esconder as cicatrizes que permaneceram em seu corpo, ele foi
coberto de palha. Assim cresceu Obaluaiê, sempre
coberto por palhas, escondendo-se das pessoas, taciturno e compenetrado, sempre
sério e até mal-humorado.
Um dia, caminhando pelo mundo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma aldeia por
onde passava que lhe dessem comida e água. Mas as pessoas, assustadas com o
homem coberto desde a cabeça com palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe deram
nada. Obaluaiê, triste e angustiado saiu do povoado e continuou pelos arredores,
observando as pessoas.
Durante este tempo os dias esquentaram, o sol queimou as plantações, as mulheres
ficaram estéreis, as crianças cheias de varíola, os homens doentes. Acreditando
que o desconhecido coberto de palha amaldiçoara o lugar, imploraram seu perdão e
pediram que ele novamente pisasse na terra seca. Ainda com fome e sede, Obaluaiê
atendeu ao pedido dos moradores do lugar e novamente entrou na aldeia, fazendo
com que todo o mal acabasse. Então homens o alimentaram e lhe deram de beber,
rendendo-lhe muitas homenagens. Foi quando Obaluaiê disse que jamais negassem
alimento e água a quem quer fosse, tivesse a aparência que tivesse. E seguiu seu
caminho.
Chegando à sua terra, encontrou uma imensa festa dos orixás. Como não se sentia
bem entrando numa festa coberto de palhas, ficou observando pelas frestas da
casa. Neste momento Iansã, a deusa dos ventos, o viu nesta situação e, com seus
ventos levantou as palhas, deixando que todos vissem um belo homem, já sem
nenhuma marca, forte, cheio de energia e virilidade E dançou com ele pela noite
adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-Balé se uniram contra o poder da
morte, das doenças e dos espíritos dos mortos, evitando desgraças aconteçam aos
homens.
Essa lenda nos aconselha a nunca negar auxílio, qualquer que seja,
às pessoas que nos procuram. Além disso, nos diz para termos esperança, pois
"não há mal que sempre dure.." e sempre há um recomeço, mesmo após um grande e
penoso sofrimento.

LENDA 4
"Nanã era esposa de Ogum e
ocupava o cargo de juíza no Daomé. Só julgava os homens, sendo muito respeitada
pelas mulheres que eram consideradas Deusas.
Ela morava numa bela casa com jardim. Quando alguém apresentava alguma
reclamação sobre seu marido, ela amarrava a pessoa numa arvore e pediu aos eguns
para assustá-la.
Certa noite, Iansã reclamou de Ogum e ele foi amarrado no jardim. A noite,
conseguiu escapulir e foi falar com ifá. A situação não podia continuar e,
assim, ficou acertado que oxalá tiraria os poderes de Nanã. Ele se aproximou e
ofereceu a ela suco de igbin, um tipo de caramujo. Ao beber o preparado, Nanã
adormeceu. Oxalá então vestiu-se de mulher e, imitando o jeito de Nanã, pediu
aos Eguns que fossem embora de seu jardim para sempre.
Quando Nanã acordou e percebeu o que Oxalá tinha feito, obrigou-o a tomar o
mesmo preparado de igbin e seduziu o orixá. Oxalá saiu correndo e contou para
Ogum o que havia acontecido. Indignado, este cortou relações com Nanã. E é por
isso que nas oferendas a Nanã não é usado nenhum objeto de metal.
Uma outra lenda registra que, numa reunião, os orixás aclamaram ogum como o mais
importante deles e que Nanã, não se conformando em ser derrotada por ele,
assumiu que não mais usaria os utensílios de metal criados pelo orixá guerreiro
(escudos e lanças de guerra, facas e setas para caça e pesca). Por isso, que ela
não aceita oferendas em que apresentem objetos de metal."
(Lenda retirada do portal
http://www.orixas.com.br)
Essa lenda, vem de
encontro à tese de alguns historiadores que afirmam que a Deusa Nanã é anterior
a Idade do Ferro.

DISPUTA ENTRE
NANÃ BURUKU E OGUM (Segundo Pierre Verger)
"Nanã Buruku é uma
velhíssima divindade das águas, vinda de muito longe e há muito tempo. Ogum é um
poderoso chefe guerreiro que anda sempre à frente dos outros Imalés.
Um dia eles vão a uma
reunião. É a reunião dos duzentos Imalés da direita e dos quatrocentos Imalés da
esquerda. Eles discutem sobre os seus poderes. Eles falam muito sobre Obatalá,
aquele que criou os seres humanos. Eles falam muito sobre Orunmilá, o senhor do
destino dos homens. Eles falam sobre Exu:
-"Ah! É um importante
mensageiro!"
Eles falam muita coisa a
respeito de Ogum. Eles dizem:
-"É graças a seus
instrumentos que nós podemos viver. Declaramos que é o mais importante entre
nós!"
Nanã Buruku contesta,
então:
-"Não digam isso. Que
importância tem, então, os trabalhos que ele realiza?"
Os demais orixás
respondem:
-"É graças a seus
instrumentos que trabalhamos pelo nosso alimento. É graças a seus instrumentos
que cultivamos os campos. São eles que utilizamos para esquartejar os animais".
Nanã concluiu que não
renderá homenagem a Ogum.
-"Porque não haverá um
outro Imalé mais importante?"
Ogum diz:
-"Ah!Ah! Considerando que
todos os outros Imalés me rendem homenagem, me parece justo, Nanã, que você
também o faça."
Nanã responde que não
reconhece sua superioridade. Ambos discutem por muito tempo.
Ogum perguntando:
-"Você pretende que seja
dispensável?"
Nanã garantindo que isto
ela podia afirmar dez vezes.
Ogum diz então:
"Muito bem! Você vai saber
que sou indispensável para todas as coisas".
Nanã, por sua vez, declara
que, a partir daquele dia, ele não utilizará, absolutamente nada, fabricado por
Ogum e, ainda assim, poderá tudo realizar.
Ogum questiona:
-"Como você o fará? Você
não sabe que sou o proprietário de todos os metais? Estanho, chumbo, ferro,
cobre. Eu os possuo todos".
Os filhos de Nanã eram
caçadores. Para matar um animal eles passaram a se servir de um pedaço de pau,
afiado em forma de faca, para esquartejá-lo. Os animais oferecidos a Nanã são
mortos e decepados com instrumentos de madeira. Não se pode utilizar faca de
metal para cortar sua carne, por causa da disputa que, desde aquele dia, opôs
Ogum a Nanã".
(Lenda retirada
do livro "Lendas Africanas dos Orixás" de Pierre Fatumbi Verger, págs. 62-64.)

DEUSA DA VIDA, DA MORTE E
DO RENASCIMENTO
Nanã é uma Deusa que se inseri no
período Neolítico ou até antes dele, onde não existe distinção alguma entre a Deusa que atrai a
vida e a que atrai a morte, mas ambas se experimentam como uma unidade, através
da Grande Mãe que engloba a totalidade da vida e da morte. A Deusa transforma a
experiência da morte em como o renascimento à outra dimensão.
O período Neolítico foi uma fase
de descobrimentos e o resultado disso foi uma nova relação com o universo. Foi
nesse tempo que a humanidade compreendeu e passou a participar dos misteriosos
processos de crescimento. Com a compreensão que certas sementes podiam ser
convertidas em trigo e depois transformados em pão, e que certos animais vivendo
perto das casas, poderia prover-lhes de leite, carne, surgiu um novo espírito
que cooperação consciente entre os seres humanos e seu mundo. A vida do cosmos
se converteu em uma história que incluía o homem como um de seus personagens.
Os povos deste período não puderam
de realizar uma analogia de suas vidas com as das sementes que, plantadas na
terra, incubavam e voltavam a emergir como grão verde ou dourado. Os rituais que
evocavam o nascimento, que chorava a morte e que celebravam o renascimento da
raiz mostra o quanto era vital essa analogia para a imaginação humana, pois
situava a regeneração como o núcleo da vida.
A fonte secreta da vida estava
agora escondida nas profundezas da terra (útero da Deusa). Os seres humanos
agora nascem dela, se alimentam dela e são acolhidos por ela.
As inumeráveis formas de cerâmica
neolítica revelam o alcance imaginativo dos povos, que refletiam sobre o
mistério do nascimento associando-o ao mais amplo mistério do nascimento de toda
a vida mediante o "Corpo" da Deusa. As imagens da Deusa a mostram como o portal
ou umbral através da qual penetra vida ou abandona esse mundo.

Toda a Grande Mãe, segundo Carl
Jung, personifica o nosso inconsciente, portanto, um aspecto gerador, protetor e
positivo, apesar do seu lado devorador e negativo. Todo o tipo de medo, como o
medo da morte, do desconhecido, do novo, está ligado ao medo do inconsciente. O
inconsciente, como a Grande Mãe, é a fonte primordial da criação, mas se o
fascínio dela for forte demais, ela é o poder oculto que, em certas ocasiões,
impede o livre desenvolvimento da comunicação normal. Mas, se encararmos essa
realidade básica, podemos desistir de sermos tão agradáveis aos imperativos
ideais do mundo patriarcal e atingirmos uma base sólida, de onde tudo isso
parece irrelevante.

A DIFUSÃO DA DEUSA NEGRA

Dos tempos pré-históricos, em
torno de trinta mil anos antes da era cristã, provém a Vênus negra de Lespugue,
entalhada numa presa de mamute, agora preservada no Musée de l"Homme, em Paris.
Por ser anterior a uma época em que não existia conhecimento algum de
agricultura, ela é mais do que terra, ela é a própria Vida.
Em Tindari, na costa do
Mediterrâneo no leste da Sicília, uma estátua negra da Nossa Senhora possui a
inscrição: "nigra sum sed formoso", ou seja, "Sou negra, porém formosa", do
Cântico de Salomão 1,5. A Virgem Negra também é encontrada na França, na
Espanha, na Suíça e na Polônia.
Não poderia portanto ser essa
Nossa Senhora negra a mais antiga das imagens da Deusa?
Há historiadores que postulam que
da figura da Deusa Negra procedem todas as demais.
Apesar de que a humanidade surgiu
no noroeste da África, é possível que os temas dominantes que se repetem nos
mitos e nos rituais de todo o mundo só se desenvolveram quando os povoadores já
haviam trasladado à outras regiões.
Historiadores negros do século XX,
como John G. Jackson, afirmam que os povos africanos da costa foram consumados
marinheiros e exploradores que levaram à Ásia, Europa, América e Oceania a
cultura matriarcal da Deusa. Portanto, as virgens negras presentes na Europa,
que são interpretadas como representantes da "lua escura" ou ainda, uma "escura
faceta" psicológica da Deusa, não são mais do que vestígios da época em a Deusa
era realmente negra.
É inegável a vastíssima
contribuição da cultura africana na cultura, na religião e nos costumes aqui do
Brasil. Nada mais fácil sentir esse contribuição no que tange as religiões que
hoje são afro-brasileiras. Deusas como Iemanjá, Iansã, Oxum, Nanã entre muitas
outras também importantes, são muito populares em nosso meio, mas sempre é bom
acrescentarmos um pouco mais de conhecimento sobre elas.
Sem nos atermos em questionamentos
religiosos, essas Deusas Mães, estão presentes e ativas em nossas vidas, para
não nos deixar esquecer que o melhor dos caminhos é o do coração e o da fé.
Todas elas simbolizam a força maior, a fagulha divina dentro de nós, a energia
que flui nos próprios processos da vida e do viver. Esse conceito da Deusa como
processo de vida conduz a outro aspecto da espiritualidade feminina
contemporânea, observado entre muitos grupos e indivíduos. Trata-se do sentido
da conexão direta com a vida. Muitos são os que pensam que não estamos no topo
da natureza, e sim, "somos" a natureza. Esse senso de Unidade, aflora
constantemente em conversas e escritos. Isso nos ajuda a compreender que aquilo
que poderíamos considerar simplesmente como compaixão ou apoio ou simpatia é o
resultado do sentir, intuitivo, dessa ligação direta com a unidade. Essa
sensação de Unidade com toda a vida leva muitas mulheres, de forma bastante
natural, a uma compreensão direta do motivo pelo qual o sexismo, o racismo e
outros "ismos" que criam uma sensação de separação, de "nós e os outros",
realmente não fazem sentido.

OUTROS DADOS
Dia: sábado;
Data: 26 de julho;
Sincretismo: Nossa Senhora Santana
Cor: branco com traços azuis ou roxos;
Partes do corpo: protege a barriga, o útero, a parte
genital feminina, protege as mulheres gestantes;
Comida: Mugunzá; Ebô
Símbolo: Ìbírí (feixe de nervura de dendezeiro envolto,
que carrega na mão, com uma das pontas voltadas para baixo, simbolizando
a vida que retorna).
Saudação: Salubá Nanã! !
("Dona do pote da Terra!")
Comando da falange de Nanã: Cabocla Janaína
Representação no ponto riscado: uma cruz
Amalá: caruru sem azeite e bem temperado
Planeta regente: Lua (no quarto crescente) e Mercúrio
Ervas para banho e defumação: agapanto lilás,
avenca, cipreste, manacá, quaresma, alfavaca, mariazinha, mãe-boa, sempre-viva
roxa, erva de passarinho, cajá, mutamba, dama da noite, entre outras.
Flores: as que tenham preferencialmente a tonalidade
lilás ou roxa.
Frutos: melão, melancia, abacaxi, banana da terra,
graviola, pêssego, , jaca, maçã, entre outras.
Bebidas: Água da chuva, suco das frutas acima
mencionadas, bebida feita com ervas e folhas do próprio orixá e champanha.
Local preferido: Nas nuvens ou na junção das águas
da chuva com o solo barrento e pantanoso.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO

Bibliografia:
Orixás - Os Mitos e a Religião na Vida Contemporânea
- Omolubá
Lendas Africanas dos Orixás - Pierre Fatumbi Verger
Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi
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