~*~DEUSA MAMACOCHA~*~

 

DEUSA MAMACOCHA


 

Os incas divinizaram o elemento úmido e criaram o culto à água: Mamacocha (Mãe-Lago ou Mar-Mãe).

No seguinte parágrafo, Ciro Furtado diz: "O hatunruna considerou o mar como uma deidade, a qual se rendeu culto por muitos dons que lhe proporcionava para seu bem-estar social, com o nome de Mamacocha, isto é, a Lagoa Mãe, que como toda mãe, dava alimento, vida, saúde e uma grande longevidade. (...) o mar Tahuantinsuyo ou Mamacocha, tiveram o mesmo significado e cumpriram o mesmo rol para a povoação indígena."

Na cosmologia andina em relação a água sempre existiu a idéia que os lagos e lagoas provém do mar. A relação lagoa-mar, na região andina, possui uma conotação de dualidade dentro de termos espaciais, quando se refere as fontes hidrológicas da costa e da serra. Conseqüentemente se denominam "as águas de cima" e "as águas de baixo", porém fundamentalmente dentro dessa dicotomia é a relação Mãe-Filha, sendo o Mar a Mãe (Mamacocha) e os lagos e lagoas as Filhas (cochas-lago), o que explicaria implicitamente que as águas dos lagos provêm do mar.

Polo de Ondegardo nos assinala o seguinte: "sacrificavam e ofereciam fragmentos de conchas ou caracóis marinhos que chamavam de "mullu". E ofereciam às fontes e mananciais, dizendo que as "cochas" (lagoas/lagos) eram filhas do mar, Mãe de todas as águas".

A água do mar também possuía uma significação importante nos rituais de procriação e fertilidade no mundo andino. Por essa razão, tanto a água do mar como as conchas marinhas eram utilizadas nos cultos realizados nas montanhas para invocar o auxílio da Deusa Mamacocha no chamamento de chuvas necessárias para fertilização da terra.

Para a retirada da água de um poço em plena cordilheira era realizado um ritual para pedir autorização ou licença à Mamacocha, a Dona da água. Entregava-se ou uma oferenda ou mesa que, era preparada pelos yatires (sabedores). Na mesa constava folhas de coca, sebo de lhama, pele de gato montanhês, cravos vermelhos envoltos em lã de lhama e deveria ainda ser brindada com chica e milho. Todo esse cerimonial era necessário para a retirada de um cântaro de água que serviria para regar a terra.

Por essa posição indígena dá para se perceber, que no Peru, uma região de chuvas escassas, houve muitas disputas de terras, mas também pelas águas.

A civilização inca se desenvolveu graças ao conhecimento adquirido sobre o uso da água de suas montanhas, indispensáveis para a sua agricultura de base.

No universo andino convivem a natureza e a comunidade humana (runas), inter-relacionadas através do sagrado. A água, força vital em movimento que nasce no Leste, é o elemento privilegiado mediante o qual se manifesta esse vínculo. Foi no lago Titicaca onde Viracocha criou o mundo e os primeiros incas. Ali lhes ordenou a atravessar as águas subterrâneas, subir aos rios e lagoas para fundar os povos e comunidades. Depois o Criador partiu para Oeste, para onde vão os mortos, até perder-se no mar (Mamacocha). Desde então, a água flui por debaixo da terra e emerge por cima das montanhas de neve, baixa até os rios e mantêm assim um trajeto circular para fertilizar a Terra (Pachamama). O runas (homens) não podem jamais permitir a interrupção desse ciclo.

Mamacocha foi uma Deusa cujo culto idolátrico se estendeu até a entrada da colônia e mais tarde, os espanhóis vendo que não podiam extirpá-lo, decidiram considerá-lo como uma superstição. Entretanto, nas festividade de São Pedro, padroeiro dos pescadores, se mesclam cultos cristãos com outros notoriamente pagãos reservados ao mar.

Mamacocha representa o Mar e suas marés. Foi reverenciada especialmente ao longo da costa do Peru, onde a pesca era essencial para a vida. Ela também era a padroeira dos marinheiros, dos pescadores e do lago Titicaca. Protegia ainda, contra maremotos e outros desastres marinhos. Em uma lenda aparece como esposa de Viracocha e mãe dos deuses Inti, Mama Quilla, Kon e Pachamama.

Ao longo da Cordilheira dos Andes é comum a prática de lhe oferecer oferendas, principalmente vinho e chica.

Mamacocha é a Deusa que representa tudo que é Feminino.

TEMPLO DE MAMACOCHA

Paramonga é o templo de Mamacocha. Ele é uma grande pirâmide formada por quatro plataformas sobrepostas, construído sobre uma colina. Se localiza perto do povoado de Pativilca, ao norte da cidade de Lima.

MAMACOCHA COMO ARQUÉTIPO

Que a água pode provocar grandes catástrofes, isso não se pode negar. Na mitologia inca Viracocha enviou sobre todas as criaturas o Uno Pachacuti, o dilúvio que submergiu animais e homens. Mas a água também acalma a sede de todos e todos necessitam da água para manter o corpo limpo, livre de impurezas e para que funcione bem.

A água representa a calma, a moderação; a água é saciedade, satisfação. A imersão na água (morte) nos recorda nossos limites. Na água deixamos de estar em contato com as coisas, estamos no vazio, nada nos sustem, não respiramos, não ouvimos, não falamos. O corpo fica suspenso e perdemos o sentido de dimensão. Até que voltamos a emergir (nascer) e o ar entra com mais força, voltamos a ver e sentir a dimensão das coisas e estamos limpos, novos.

 As águas outorgam às mulheres os anseios de sua alma, o místico, o mágico, o profundo mistério. A terra dá à mulher a força de que ela necessita. Já Mamacocha lhe dá o movimento e a flexibilidade necessária, como a água, que é capaz de tomar todas as formas, sem perder sua essência.

Mamacocha, como "Grande Mar", muitas vezes é representada como uma baleia, que está ligada ao inconsciente.

Podemos nos conectar com essa Deusa por meio da dança livre e espontânea.

ORAÇÃO Á MAMACOCHA

Querida Mãe Mamacocha, seja nossa guia,

Nos conceda sua sabedoria,

Para que nossos pensamentos, nossos sentimentos,

nossos atos, nossas palavras, sejam cada vez mais claros,

puros e cristalinos, como suas águas.

Ajuda-nos ,para que possamos nos tornar instrumentos

de auxilio para mudar o rumo da nossa humanidade.

 

 

OFERENDAS

 

Ofereça flores amarelas brancas e vermelhas, doces e velas azuis que devem ser depositados na areia da praia (mar). Também podes ofertar vinho que deve ser derramado nas águas do mar.

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

ROSANE VOLPATTO