A
maioria das lendas finlandesas estão
contidas no Kalevala.
O
Kalevala é a obra literária mais traduzida no
mundo. A primeira tradução foi publicada em
sueco já no ano de 1841. A primeira tradução da
nova versão do Kalevala foi em alemão, publicada
em 1852. Após sua publicação, houve uma grande
revolução na língua e na cultura finlandesa
interna e, além de suas fronteiras, levou um
pequeno povo até então, quase desconhecido, à
consciência de muitos outros povos.
Kalevala,
tornou-se o estatuto da epopéia nacional e ainda
hoje, continua a ser alvo de uma investigação
ativa no país.
Nesta
maravilhosa obra, encontramos a estória da
Ilmatar, a Deusa do Mar da Finlândia.
Ilmatar,
a princípio, vivia no céu e durante muito tempo
permaneceu em absoluta castidade, pois tinha a
sorte de habitar os planos celestes.
Chegou
certo dia, que Ilmatar se aborreceu com a vida que
estava levando, sempre vagando só pelo espaço e
decidiu então, visitar um outro mundo. Desceu ao
mar e flutuou nas ondas gigantes do oceano.
Enquanto ela se divertia na água, um golpe de ar
que veio do Oriente agitou seu corpo e desencadeou
uma tormenta. Em poucos instantes, o mar se viu
coberto de espumas e ondas gigantescas se elevavam
ao céu.
O
vento a desejava e ondas serviram para transportar
a Deusa virgem por imensos vales do oceano.
Conta-se que o vento conseguindo seu intento,
penetrou em seu corpo e a engravidou.
A
virgem, entretanto, foi obrigada a permanecer no
balanço das ondas por sete séculos,
impossibilitada de dar à luz porque não havia
terra firme. A pobre Ilmatar, nadava para Oeste,
depois para Leste, Norte e Sul, mas não
encontrava nenhum ponto seguro, para que seu filho
divino pudesse vir ao mundo. Ela orava
constantemente ao deus Ukko, o maior dos deuses,
para que a ajudasse, dizendo:
-Oh
poderoso Ukko, deus supremo! Tu, que sustentas os
firmamento, vem em minha ajuda, eu te suplico.
Livra-me destas dores que me consomem. Venha
salvar-me, do contrário morrerei!
Ukko
escutou suas preces e se compadeceu dela. Em meio
a tempestade que sacudia o mar, um clarão
abriu-se e surgiu uma bela pata. Voava pelo ar
cansada, como se buscasse um lugar seguro para
fazer seu ninho, construir sua casa, para que
pudesse assim, dar continuidade a sua espécie.
A
Deusa, observava o vôo e pensava para onde iria
se dirigir. A pata então voou mais baixo e
Ilmatar ofereceu seu joelho para que pudesse
construir seu ninho. A ave agradeceu e sob os
cuidados e a proteção da Deusa, colocou oito
ovos. Os sete primeiros eram de ouro e o último
de ferro. Sem fazer distinção a pata cobriu
todos eles com seu corpo. Mas, era tanto o calor,
que a Deusa, sentia arder sua pele virginal.
Temendo queimar-se, Ilmatar submergiu nas
profundezas das águas. Foi então, que os ovos da
pata caíram ao mar. Ao tocar a superfície fria da
água, se romperam em pedaços e se transformaram
em mil coisas úteis.
A
metade da casca de um ovo, formou a base da terra
e a outra metade o firmamento que contemplamos. A
gema, passou a ser o Sol que ilumina nosso
Universo e a clara converte-se na Lua prateada. O
ovo de ferro não se partiu, mas transformou-se em
uma estrondosa nuvem negra de tempestade.
Ilmatar
agora, finalmente pode levantar-se das águas e
iniciar a criação do mundo. Onde pousava sua
mão algo se criava e a cada movimento gerou tudo
que existe na terra.
Todo
este trabalho levou trinta anos e seu filho
Vainamoinen ainda não havia nascido, sendo assim,
o ser humano não existia. O futuro homem ainda
sonhava dentro do ventre de sua mãe. Um certo
dia, entretanto, sua vida iniciou-se em uma
pequena morada onde o brilho da Lua jamais chegava
e o Sol nunca lançava seus raios. Sozinho e
triste, dizia:
-
Oh Lua, Oh Sol, acuda-me e guia-me para fora desta
escuridão, tira-me deste claustro estreito e
leva-me para a Terra, pois o filho do homem aspira
conhecer o dia! Quero ver a Lua no céu, quero
sentir o calor do Sol, quero conhecer todas as
estrelas!
Mas
a Lua não veio em sua ajuda e o Sol nem tomou
conhecimento de sua existência. Foi ele mesmo que
conseguiu libertar-se de seu cárcere, empurrando
a porta com um de seus pés. Mas quando conseguiu
sair, caiu entre as ondas do mar e lá permaneceu
por trinta e um anos, a mercê das correntes
marinhas.
Quando
conseguiu alcançar a terra, esta era árida e
seca. Feliz, sentou-se, para contemplar a Lua,
aquecer-se nos auríferos raios do Sol e a buscar
a Ursa Maior, para conhecer todas as estrelas. Foi
assim que nasceu Vainamoinen (deus da música), o
primeiro homem.
A
mitologia da Finlândia é matriarcal e Ilmatar é
considerada a Mãe Criadora e a Deusa do vento e
da água. Ela é também conhecida como Luonnotar,
Filha da Natureza.
Ilmatar
é uma Deusa amável e é muito popular entre
todos os povos de Kalevalan. Foi ela também que
gerou o primeiro ser humano, Vainamoinen, gerado
da união do vento e da água. Foi ele que
inventou a cítara e era um músico tão soberbo
que suas melodias dominavam os animais selvagens.
A
Deusa Ilmatar chega até nossas vidas para nos
dizer que mesmo nos tornando adultos, a nossa
criança interior, sempre permanecerá criança.
Portanto, não importa a idade que hoje temos,
pois sempre conservaremos a alegria infantil que a
vida nos proporcional. Mas não se trata de
lembranças e sim de sentir a qualidade essencial
das crianças. Na criança interior encontramos o
"mar da plenitude", onde ainda estamos
ligados, pelo cordão umbilical celeste à nossa
Mãe primordial.
Todas
as mulheres do mundo que alcançaram sucesso, via
de regra, são "filhas do pai" e estão
bem adaptadas à sociedade orientada pelo
masculino, mas para tanto, tiveram de sacrificar
seus próprios instintos femininos.
O
retorno à Deusa é a reconexão com o "si
mesma", o arquétipo da totalidade e o centro
regulador da nossa personalidade. "Sou quem
Sou", esta é a questão!
Infelizmente,
as mulheres da atualidade, já nascem órfãos de
suas verdadeiras mães. São ainda criadas em
lares difíceis, cortadas do contado direto com a
terra e por isso, acabam por identificar-se com o
pai e a cultura patriarcal, alienando-se de sua
essência feminina. Para estas mulheres, o contato
com a Deusa é fundamental para que possam se
sentir completas. Cair nas águas frias do
"mar da plenitude" da Deusa Ilmatar é a
única forma de acordar a força e a paixão do
feminino que está há milênios adormecida dentro
de nós.
Comemora-se
esta Deusa no dia em 26 de agosto. A Deusa Ilmatar
pode ser invocada para melhorar a nossa
criatividade e quando há dificuldade para
concepção.