OS ENCANTOS E A DOÇURA DE
IEMANJÁ
O Brasil é orgulhoso do grande império de suas águas.
Principalmente o mar, de todas as cores, matizes e luzes é o Grande Senhor da
nossa costa, que penetrando por todos os lados desse imenso país, abraça nossa
terra, em enseadas, golfos e baías.
Mas apesar de sua beleza, no mar há uma
força maior, uma força que impera, que reina a Senhora absoluta de todas as
águas, de tudo que vive na água e possa viver. Há sim, uma força que ordena e
não pede, que manda e que decide sobre o vida dos pescadores, de todos que se
aventurarem a entrar em seu território e de todos aqueles que têm vistas para
alcançar o verde de seu mar.
Em cada canto desses mares, nas ondas
dos surfistas, nas praias, nas cabanas dos pescadores, nos altos desses montes,
Ela será sempre a Grande Senhora. Ninguém pode se atrever a dizer que não é
vassalo servil do grande reino de Iemanjá. Porque de fato, Iemanjá é a Rainha
das águas. A tranqüilidade na superfície do mar, ou a tempestade rugindo, as
ondas quebrando-se sobre as embarcações ou sobre as praias, tudo é conduzido
pela sua mão suprema.
Nada se altera, nada se faz ou se
transforma, sem que seja sua vontade. Iemanjá de tantos poderes, de tantos nomes
e tantos filhos, sempre foi exaltada por negros e brancos e seu culto se
verifica de norte a sul no Brasil.
MITOLOGIA
LENDA (Arthur Ramos)
Com o casamento de Obatalá, o Céu, com
Odudua, a Terra, que se iniciam as peripécias dos deuses africanos. Dessa união
nasceram Aganju, a Terra, e Iemanjá (yeye ma ajá = mãe cujos filhos são peixes),
a Água. Como em outras antigas mitologias, a terra e a água se unem. Iemanjá
desposa o seu irmão Aganju e tem um filho, Orungã.
Orungã, o Édipo africano, representante
de um motivo universal, apaixona-se por sua mãe, que procura fugir de seus
ímpetos arrebatados. Mas Orungã não pode renunciar àquela paixão insopitável.
Aproveita-se, certo dia, da ausência de Aganju, o pai, e decide-se a violentar
Iemanjá. Essa foge e põe-se a correr, perseguida por Orungã. Ia esse quase
alcançá-la quando Iemanjá cai no chão, de costas e morre. Imediatamente seu
corpo começa a dilatar-se. Dos enormes seios brotaram duas correntes de água que
se reúnem mais adiante até formar um grande lago. E do ventre desmesurado, que
se rompe, nascem os seguintes deuses: Dadá, deus dos vegetais; Xango, deus do
trovão; Ogum, deus do ferro e da guerra; Olokum, deus do mar; Oloxá, deusa dos
lagos; Oiá, deusa do rio Niger; Oxum, deusa do rio Oxum; Obá, deusa do rio Obá;
Orixá Okô, deusa da agricultura; Oxóssi, deus dos caçadores; Oké, deus dos
montes; Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanã (Shankpannã), deus da varíola; Orum,
o Sol; Oxu, a Lua.
Os orixás que sobreviveram no Brasil
foram: Obatalá (Oxalá), Iemanjá (por extensão, outras deusas-mães) e Xango (por
extensão, os outros orixás fálicos).
Com Iemanjá, vieram mais dois orixás
yorubanos, Oxum e Anamburucu (Nanamburucu). Em nosso país houve uma forte
confluência mítica: com as Deusas-Mães, sereias do paganismo supérstite europeu,
as Nossas Senhoras católicas, as iaras ameríndias.
A Lenda tem um simbolismo muito
significativo, contando-nos que da reunião de Obatalá e Odudua (fundaram o Aiê,
o "mundo em forma"), surgiu uma poderosa energia, ligada desde o princípio ao
elemento líquido. Esse Poder ficou conhecido pelo nome de Iemanjá.
Durante os milhões de anos que se
seguiram, antigas e novas divindades foram unindo-se à famosa Orixá das águas,
como foi o caso de Omolu, que era filho de Nanã, mas foi criado por Iemanjá.
Antes disso, Iemanjá dedicava-se à
criação de peixes e ornamentos aquáticos, vivendo em um rio que levava seu nome
e banhava as terras da nação de Egbá.
Quando convocada pelos soberanos,
Iemanjá foi até o rio Ogun e de lá partiu para o centro de Aiê para receber seu
emblema de autoridade: o abebé (leque prateado em forma de peixe com o cabo a
partir da cauda), uma insígnia real que lhe conferiu amplo poder de atuar sobre
todos os rios, mares, e oceanos e também dos leitos onde as massas de águas se
assentam e se acomodam.
Obatalá e Odudua, seus pais, estavam
presentes no cerimonial e orgulhosos pela força e vigor da filha, ofereceram
para a nova Majestade das Águas, uma jóia de significativo valor: a Lua, um
corpo celeste de existência solitária que buscava companhia. Agradecida aos
pais, Iemanjá nunca mais retirou de seu dedo mínimo o mágico e resplandecente
adorno de quatro faces. A Lua, por sua vez, adorou a companhia real, mas
continuou seu caminho, ora crescente, ora minguante..., mas sempre cheia de amor
para ofertar.
A bondosa mãe Iemanjá, adorava dar
presentes e ofereceu para Oiá o rio Níger com sua embocadura de nove vertentes;
para Oxum, dona das minas de ouro, deu o rio Oxum; para Ogum o direito de fazer
encantamentos em todas as praias, rios e lagos, apelidando-o de Ogum-Beira-mar,
Ogum-Sete-ondas entre outros.
Muitos foram os lagos e rios
presenteados pela mãe Iemanjá a seus filhos, mas quanto mais ofertava, mais
recebia de volta. Aqui se subtrai o ensinamento de que "é dando que se recebe".
IEMANJÁ
ABRASILEIRADA
Iemanjá,
a Rainha do Mar e Mãe de quase todos os Orixás, é uma
Deusa abrasileirada, sendo
resultado da miscigenação de elementos europeus, ameríndios e africanos.
É um mito de poder
aglutinador, reforçado pelos cultos de que é objeto no candomblé,
principalmente na Bahia. É também considerada a Rainha das Bruxas e de tudo
que vem do mar, assim como é protetora dos pescadores e marinheiros. Governa os
poderes de regeneração e pode ser comparada à Deusa Ísis.
Os grandes seios ostentados
por Iemanjá, deve-se à sua origem pela linha africana, aliás, ela já chegou
ao Brasil como resultado da fusão de Kianda angolense (Deusa do Mar) e Iemanjá
(Deusa dos Rios). Os cabelos longos e lisos prendem-se à sua linhagem
ameríndia e é em homenagem à Iara dos tupis.
De acordo com cada região que
a cultua recebe diversos nomes: Sereia do Mar, Princesa do Mar, Rainha do Mar, Inaê, Mucunã, Janaína. Sua identificação na liturgia católica é: Nossa
Senhora de Candeias, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da
Conceição, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria.
Do mesmo modo que varia seu
nome, variam também suas formas de culto. A sua festa na Bahia, por exemplo é
realizada no dia 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias. Mas já no
Rio de Janeiro é dia 31 de dezembro que se realiza suas festividades. As
oferendas também diferem, mais a maioria delas consiste em pequenos presentes
tais como: pentes, velas, sabonetes, espelhos, flores, etc. Na celebração do
Solstício de Verão, seus filhos devotos vão às praias vestidos de branco e
entregam ao mar barcos carregados de flores e presentes. Às vezes ela aceita as
oferendas, mas algumas vezes manda-as de volta. Ela leva consigo para o fundo do
mar todos os nossos problemas, aflições e nos trás sobre as ondas a
esperança de um futuro melhor.
COMO É IEMANJÁ?

Iemanjá apresenta-se logo com um tipo
inconfundível de beleza. No seu reinado, o fascínio de sua beleza é tão grande
como o seu poder. Ora é de um encanto infinito, de longos cabelos negros, de
faces delicadas, olhos, nariz e boca jamais vistos, toda ela graça e beleza de
mulher.
Outras vezes, Iemanjá continua bela, mas
pode apresentar-se como a Iara, metade mulher, metade peixe, as sereias dos
candomblés do caboclo. Como um orixá marítimo, ela é a mais prestigiosa entidade
feminina dos candomblés da Bahia, recebe rituais de oferendas e grandes festas
lhe são dedicadas, indo embarcações até o alto-mar para lhe atirar mimos e
presentes. Protetoras das viagens e dos marinheiros, obteve o processo
sincrético, passando a ser a Afrodite brasileira, padroeira dos amores, dispondo
sobre uniões, casamentos e soluções amorosas. Quem vive no mar ou depende de
amores é devoto de Iemanjá. Convergem para ela orações e súplicas no estilo e
ritmos católicos.
Mas o que importa seus nomes, suas
formas e aparência, se nada modifica a força de seu império, senão altera a
grandeza do seu reinado?
Queixas são contadas a Iemanjá,
esperanças dela provêm, planos e projetos de amor, de negócios, de vingança,
podem ser executados caso ela venha a dar seu assentimento.
Grande foi o número de ondas
que se quebrou na praia, mas maior ainda, foi o caminho percorrido pelo mito da divindade das águas. Das Sereias do Mediterrâneo, que
tentaram seduzir Ulisses, às Mouras portuguesas, à Mãe D'água dos iorubanos,
ao nosso primitivo Igpupiara, às Iaras, ao Boto, até Iemanjá. E, neste longo
caminhar, a própria personalidade desta Deusa, ligada anteriormente à morte,
apresenta-se agora como protetora dos pescadores e garantidora de boa pesca,
sempre evoluindo para transformar-se na deusa propiciadora de bom Ano Novo para
os brasileiros e para todos que nesta terra de Sol e Mar habitam.
DEUSA LUNAR DA
MUDANÇA
A Deusa Iemanjá
rege a mudança rítmica de toda a vida
por estar ligada diretamente ao
elemento água. É Iemanjá que preside
todos os rituais do nascimento e à
volta as origens, que é a morte. Está
ainda ligada ao movimento que
caracteriza as mudanças, à expansão e
o desenvolvimento.
É ela, como a
Deusa Ártemis o arquétipo responsável
pela identificação que as mulheres
experimentam de si mesmas e que as
definem individualmente.
Iemanjá quando
dança, corta o ar com uma espada na
mão. Esse corte é um ato psíquico que
conduz a individualização, pois
Iemanjá separa o que deve ser
separado, deixando somente o que é
necessário para que se apresente a
individualidade.
Sua espada,
portanto, é um símbolo de poder
cortante que permite a discriminação
ordenativa, mas que também pode levar
ao seu abraço de sereia, à regressão e
à morte.
Em sua dança,
Iemanjá coloca a mão na cabeça, um ato
indicativo de sua individualidade e
por isso, é chamada de"Yá Ori", ou
"Mãe de Cabeça". Depois ela toca a
nuca com a mão esquerda e a testa com
a mão direita. A nuca é símbolo do
passado dos homens, ao inconsciente de
onde todos nós viemos. Já a testa,
está ligada ao futuro, ao consciente e
a individualidade.
A dança de
Iemanjá pode ser percebida como uma
representação mítica da origem da
humanidade, do seu passado, do seu
futuro e sua individualização
consciente. É essa união antagônica
que nos dá o direito de vivermos o
"aqui" e o "agora", pois sem
"passado", não temos o "presente" e
sem a continuidade do presente, não
teremos "futuro". Sugere ainda, que a
totalidade está na união dos opostos
do consciente com o inconsciente e dos
aspectos masculinos com os femininos.
Como Deusa
Lunar, Iemanjá tem como principal
característica a "mudança". Ela nos
ensina, que para toda a mulher, o
caráter cíclico da vida é a coisa mais
natural, embora seja incompreendido
pelo sexo masculino.
A natureza da
mulher é impessoal e inerente a ela
como um ser feminino e altera-se com
os ciclos da lua: fase crescente,
cheia, meia-fase até a lua obscura.
Essas mudanças não só se refletem nas
marés, mas também no ciclo mensal das
mulheres, produzindo um ritmo complexo
e difícil de entender. A vida física e
psíquica de toda a mulher é afetada
pela revolução da lua e a compreensão
desse fenômeno nos propicia o
conhecimento de nossa real natureza
instintiva. Em poder desse
conhecimento, podemos domesticar com o
esforço consciente as inclinações
cíclicas que operam-se a nível
inconsciente e nos tornarmos não tão
dependentes desses aspectos escondidos
de nossa natureza semelhante aos da
lua.
ARQUÉTIPO DA
MATERNIDADE
Iemanjá é por
excelência, arquétipo da maternidade. Casada com Oxalá, gerou quase todos os
outros orixás. É tão generosa quanto as águas que representa e cobrem uma boa
parte do planeta.
Iemanjá é
o útero de toda a vida, elevada à posição principal da figura materna no panteão
de iorubá (Ymoja). Seu sincretismo com a Nossa Senhora e a Virgem Maria lhe
conferem a supremacia hierárquica na função materna que representa. É a
Deusa da compaixão, do perdão e do amor incondicional.
Ela é "toda ouvidos" para escutar seus filhos e os acalenta no doce balanço de
suas ondas. Ela representa as profundezas do inconsciente, o movimento rítmico,
tudo que é cíclico e repetitivo. A força e a determinação são suas
características básicas, assim como o seu gratuito sentimento de amizade.
Como Deusa da fecundidade, da
procriação, da fertilidade e do amor, Iemanjá é normalmente representada
como uma mulher gorda, baixa, com proeminentes seios e grande ventre. Pode,
também como já falamos, aparecer na forma de uma sereia. Mas, não importando suas
características, ela sempre se apresentará vinculada ao simbolismo da
maternidade.
Iemanjá surge nas espumas das
ondas do mar para nos dizer que é tempo de "entrega". Você está
carregando em seus ombros um fardo mais pesado do que possa carregar? Acha que
deve realizar tudo sozinha(o) e não precisa de ninguém? Você é daquelas
pessoas que "esmurra ponta de prego" e quer conseguir seu intento nem
que tenha que usar à força? Pois saiba que a entrega não significa derrota.
Pedir ajuda também não é humilhação, a vida tem mais significado quando
compartilhamos nossos momentos com mais alguém. Geralmente esta entrega ocorre
em nossas vidas forçosamente. Se dá naqueles momentos em que nos encontramos
no "fundo do poço", sem mais alternativas de saída, então nos
viramos e entregamos "à Deus" a solução. E, é exatamente nesta
hora que encontramos respostas, que de maneira geral, eram mais simples do que
imaginávamos. A totalidade é alimentada quando você compreende que o único
modo de passar por algumas situações é entrega-se e abrir-se para algo maior.
Quando abrimos uma brecha em
nosso coração e deixamos que a Deusa atue em nós, alcançamos o que
almejamos. Entrega é confiança, mas tente pelo menos uma vez entregar-se, pois
lhe asseguro que a confiança virá e será tão cega e profunda quando a sua
desconfiança de agora. O seu desconhecimento destes valores, escondem a
presença de quem pode lhe ajudar e provocam sentimentos de ausência e
distância. Não somos deuses, mas não devemos nos permitir viver à sombra
deles.
RITUAL DE ENTREGA (só
mulheres)

Você deve fazer este ritual
numa praia, em água corrente e até visualizando um destes ambientes. Primeiro
mentalmente viaje até seu útero, no momento do encontro se concentre. Respire
profundamente e leve novamente sua consciência para o útero. Agora respire
pela vulva. Quando se achar pronta, com o mar a sua frente, entre nele. Sinta a
água acariciando seus pés, ouça o barulho das ondas no seu eterno vai-e-vem.
Chame então a Iemanjá para que venha encontrá-la. Escolha um lugar onde você
puder boiar tranqüilamente e com segurança. Sinta as mãos da Iemanjá
acercando-se de você. Abandone-se em seu abraço, ela é mãe muito amorosa e
espetacular ouvinte. Renda-se aos seus carinhos e entregue-se sem medo de ser
feliz. Você está precisando revigorar sua vida amorosa, procura um emprego ou
um novo amor? Faça seus pedidos e também lhe fale de todas suas angústias e
aflições. Deixe que Iemanjá alivie os fardos que carrega. Ela carregará
consigo para o fundo do mar todos os seus problemas e lhe trará sobre as ondas
a certeza de dias melhores, portanto abandone-se à imensidão do mar e do seu
amor.
Quando estiver pronta para
voltar, agradeça a Iemanjá por estes doces momentos passados com ela. Então
estará livre para voltar à praia, sentindo-se mais leve, viva e purificada.
OUTROS DADOS:
SAUDAÇÃO: Odô-fe-iaba! Odô-fe-iaba!
Odô-fe-iaba!
MINERAL: Prata e platina.
DIMENSÃO ESOTÉRICA: Ocupa o primeiro
raio juntamente com a orixá Nanã.
DIA DA SEMANA; Segunda-feira.
ERVAS PARA BANHO E DEFUMAÇÃO: Jasmim,
araticum-da-praia, folha-da-costa, graviola, capeba, mãe-boa, musgo marinho
encontrado nas pedras marinhas, alcaparra, entre outras.
PLANETA: Lua
COR DA GUIA: Contas brancas cristalinas
ou azul claras.
BEBIDAS: Água de coco, mel, água salgada
ou potável, champanha e suco de suas próprias ervas e frutos.
FLORES: Rosas e palmas brancas.
COMIDAS: Canjica branca, peixe fritos,
arroz, arroz-doce com mel, acaçá, pudim, etc.
FRUTOS: Mamão, graviola, uvas brancas,
melancia.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto
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