
Hera para os gregos, Juno
para os romanos, a Rainha do Olimpo, governava junto ao seu marido Zeus. Ela era
filha de Cronos e Réia, a Grande Mãe deusa titã e foi criada na Arcádia. Teve
como ama as Horas, ou as Três Estações.
O pouco que se sabe sobre
ela provém de "Ilíada" de Homero, onde ganha fama de esposa ciumenta. O que
descortina-se entretanto, é que em culturas patriarcais antigas, os homens
tinham por regra, satirizar toda e qualquer mulher que alcança-se algum poder.
Se Hera foi uma mulher
disposta à contendas conjugais, realmente é porque ela estava coberta de
motivos. Zeus era um homem libertino, promíscuo e infiel. Praticamente nenhum de
seus filhos foram concebidos dentro dos limites de seu casamento oficial. O
único deus que nasceu da união legítima de Zeus e Hera foi Ares, o deus da
guerra, o mais medíocre dos deuses gregos. Visualiza-se aqui uma sociedade
contemporânea, configurada em uma família patriarcal. Zeus é o pai, o chefe, o
"cabeça do casal". Muito embora os conflitos persistentes, a supremacia de Zeus
é escancarada.
Zeus, pai dos deuses e dos
homens era um nódico. Ele e sua paternidade de Wotan (Odin), vieram do norte
junto com demais tribos, cujo o sistema social era patrilinear. Já Hera,
representa um sistema matrilinear. Ela era a Rainha de Argos, em Samos e possuía
no Olimpio um templo distinto de Zeus e anterior a este. Seu primeiro consorte
foi Heracles. Quando os nórdicos conquistadores chegam a Olímpia, massacram a
população e concedem às mulheres a lúgubre escolha entre a morte ou a submissão
à nova ordem. Hera reflete, portanto, uma princesa nativa que foi coagida, mas
não subjulgada por este povo guerreiro. Assim, sabe-se agora o devido motivo
porque o único filho de Zeus e Hera tenha sido Ares, o deus da guerra.
Realmente Zeus e Hera viviam em "pé de guerra"dentro do Olimpio.
Hera foi extremamente
humilhada com as aventuras de Zeus. Ele desonrou o que ela considerava de mais
sagrado: o casamento. Favoreceu seus filhos bastados em detrimento de seu
legítimo e pisoteou seu lado feminino quando ele mesmo deu à luz a sua filha
Atenas, demonstrando que não precisava dela nem para conceber.
Nos dias atuais, embora a
mulher através de árduas penas tenha conquistado seu espaço, os casamentos não
se modificaram tanto assim. Permanecemos em uma sociedade patriarcal e o
casamento ainda é considerado como uma instituição de procriação.
As mulheres continuam a
sofrer violências domésticas e profissionais e a busca do tão almejado casamento
por amor com satisfação sexual plena é castrado pelas concepções obsoletas
cristãs. Mas, muito embora todas estas limitações e deficiências do casamento, a
mulher sente-se profundamente atraída por ele. Romanticamente todas sonham em
compartilhar a tarefa de criar seus filhos e estabelecer uma unidade chamada
"família".

HERA ANTES DE ZEUS

Estudos mais apurados revelam que
Hera já existia muito antes do aparecimento de Zeus. Em Olímpia, seu templo é
bem anterior ao do seu marido. Ali foram encontrados selos minóicos onde Zeus
aparece de pé, como um guerreiro de barba longa (característica nórdica), junto
à Deusa sentada no trono, o que sugere que o Deus é o eleito da Deusa e não o
contrário.
Seu nome, que significa "Senhora",
não é, como o de Zeus indoeuropeu e as imagens de serpentes, leões e aves
aquáticas que a acompanham lhe outorgam uma linhagem muito antiga. Heródoto
pensava que os gregos haviam tomado a Deusa Hera dos indígenas pelasgos da
Grécia setentrional. Dessa maneira lhe devolve a unidade, originária e criativa,
que lhe corresponde.
Gimbutas sugere que, igual à
Atena, com a qual aparece em muitas lendas, Hera poderia remontar-se à Deusa
serpente do período Neolítico que governava sobre as águas celestiais.
Tanto Homero como Platão
relacionam seu nome com o "ar". Em "Ilíada" é chamada "Rainha do céu" e "Hera do
trono dourado". Também pe chamada "Deusa dos brancos braços", uma imagem
romântica dos raios de Lua que se estendem pelo céu noturno.
Por outro lado, o epíteto que
Homero dá a Hera, "boopis", que significa "De olhos de vaca", sugere que ela
também seja uma Deusa da Terra, cuja imagem sempre foi da vaca desde as épocas
mais antigas: a Ninhursag suméria e a Hator egípcia, por exemplo, para não
mencionar as consortes anônimas de uma longa série de touros fertilizadores
cujas aspas tinham forma da lua crescente. Atrás do caráter demoníaco de alguns
de seus filhos, pode-se confirmar a mesma história. Se trata do dragão Tifão (em
algumas lendas Hera é sua mãe) e a monstruosa Hidra, a quem Hera dá à luz de
maneira autônoma, como toda Deusa da Terra vista da ótica dos Deuses Celestes.
Em certa ocasião, desgostosa com
seu marido por haver engendrado a Atena por sua conta, Hera golpeou a terra e
convocou a Gea e a Urano. Gea, a fonte da vida, se estremeceu com o golpe. Hera
sabia que seu desejo havia sido concedido e, um ano mais tarde, nasceu Tifão. O
dragão de Hera foi enviado à Delfos para cuidar de Delfine. Mais tarde, o filho
luminoso de Zeus, Apolo, o mata.
Deusa de Argos e também de Samos,
Hera se apropriou dos templos micênicos e seu culto se estendeu por toda a
Grécia. As espigas de trigo eram chamadas de "flores de Hera" e eram colocadas
sobre seu altar quando se sacrificava o gado.

O MATRIMÔNIO SAGRADO DE HERA E
ZEUS

Em muitos lugares da Grécia se
celebrava o matrimônio sagrado entre Hera e Zeus, representando-se de novo o
antigo ritual do casamento entre o céu e a terra, que bendezia e regenerava a
vida. Na descrição de sua reconciliação na "Ilíada" todavia, podem se encontrar
recordações do ritual misterioso do matrimônio sagrado antes que a imagem desse
casal que tantas vezes se representava: quando se reconciliavam, toda a terra
floresce.
E, quando Zeus toma Hera em seus
braços, os oculta uma nuvem dourada muito espessa como para que o Sol a penetre:
"Digo que o filho de Crono
estreitou a esposa em seus braços.
Abaixo deles a divina terra fazia
crescer branda erva,
lótus cheio de orvalho, açafrão e
jacinto
espesso e fofo, que ascendia e
protegia o solo.
Nesse tapete se esticavam,
cobertos com uma nuvem
bela, áurea, que destilava nítidas
gotas de orvalho.
Assim dormia sereno o pai e no
mais alto do Gárgaro,
entregue ao sonho e ao amor, com
sua esposa nos braços".
Era como se esse acontecimento
divino, que antigamente unia os princípios complementarios do universo, se
secularizasse na Grécia patriarcal para servir, antes de tudo, como modelo para
o reto ordenamento da sociedade mediante o cumprimento devido à cerimônia do
matrimônio. (As mulheres gregas, devemos recordar, estavam excluídas da
democracia igual aos escravos; careciam de direito ao voto e raramente
desfrutavam do mesmo direito à educação que seus irmãos e maridos).
"Tu eres quem passa a noite nos
braços do supremo Zeus", se converteu na expressão emblemática da autoridade de
Hera, uma fonte ambivalente de satisfação para alguém acostumada a ser Deusa por
direito próprio, como implicam os relatos de sua fúria ante a liberdade de Zeus.
Se essa fúria for retirada do contexto marital e devolvida ao momento histórico,
momento em que os que contraíam matrimônio representavam modos de via em
universos diferentes e inclusive opostos entre si, o sentido da injustiça de
Hera se revela claramente como negativa a submeter-se ao estabelecido por Zeus
relação com a fusão das duas culturas (gregas e nórdicas).
Enquanto Hera, as vezes,
compartilha o altar com Zeus, a recordação de sua antiga independência sempre
estava presente: ele não devia duvidar que a Deusa era sua irmã maior, e que
inclusive o salvou quando era criança das facetas de Crono, posto que em alguns
relatos foi ela mesma que o levou à Creta.
Todas essas histórias, lidas
simbolicamente, contribuem para aumentar o sentimento de protesto mitológico
ante a perspectiva de submeter-se ao julgo do matrimônio com um companheiro
desigual. O que se conclui é que Hera havia contraído um matrimônio à força e
nunca se tornou realmente esposa.

HERA E HERACLES
Outra alusão à seu antigo papel
como Grande Deusa, se dá através de sua relação com o herói Heracles (Hércules).
Seu nome significa "glória a Hera", e os doze trabalhos que a Deusa lhe impõe
simbolizam os doze meses durante os quais o Sol "trabalha" em sua caminhada
anual. Enquanto no relato Heracles empreende essas provas não por vontade
própria, mas sim por imposição de Hera (em seu papel de Deusa Escura da Lua
Minguante), a imagem de servo ou filho-amante da Deusa que o nome de Heracles
implica sugere que o antigo ritual em que o Sol que se unia com a Lua Cheia,
possivelmente se oculte atrás desse relato. Também, a imagem de Heracles como
homem adulto mamando o peito de Hera, tal qual foi encontrado em um desenho de
um espelho etrusco, recorda os faraós mamando nos peitos de Ísis em seu papel de
filhos-amantes da Deusa.
A lenda que rodeia esse episódio
conta que Zeus fez com que Hera caísse adormecida e Hermes colocou Heracles em
seu peito, porém, como herói que hera, a mordeu e a despertou e, enquanto a
Deusa se sacudia, o leite se derramou pelo céu dano origem a Via-Láctea.

DEUSA TRÍPLICE
Na Arcádia, ao ser
celebrada como a Grande Deusa dos tempos pré-homéricos, Hera possuía três nomes.
Na primavera era Hera "Parthenos" (Virgem). No verão e no outono tomava o nome
de Hera "Teleia" (Perfeita ou Plena) e no inverno chamava-se Hera "Chela"
(viúva). Hera, a antiga deusa tríplice não tinha filhos,
de modo que, os mistérios da maternidade não estão aqui simbolizados, mas sim os
mistérios das fases da mulher "antes" do casamento, na "plenitude" do casamento
e "depois" na viuvez. As três facetas
de Hera também ligam-se às três estações e às três fases da Lua.
Hera renovava anualmente a
sua virgindade banhando-se na fonte Cânata, perto de
Argos, local consagrado especialmente a ela. Assim, vemos que ela traz em si o
arquétipo da eterna renovação, semelhante ao ciclo da Lua em suas fases. Através
deste ato, ela une o ciclo lunar, o ciclo menstrual e o ciclo anual da
vegetação.

ARQUÉTIPO DE HERA
Jung nos afirma que nenhum
de nós chega a totalidade enquanto não vivenciar os aspectos femininos e
masculinos da natureza interior. Para tanto, toda a mulher deve "casar"com seu "animus"
e todo o homem deve fazer o mesmo com a sua "anima".
Ao contrairmos um casamento
no mundo exterior, significa dizer que encontramos um parceiro(a) que reflete os
nossos traços sexuais opostos interiores.
Toda a mulher-Hera sabe que
o casamento é o caminho pela qual se chega à inteireza e plenitude. O arquétipo
de Hera leva à mulher a estabelecer um pacto de lealdade e fidelidade com seu
companheiro. Uma vez casada é "para sempre", ou até que a morte os separe. Hera
não é um "clone" feminino dos ideais masculinos, mas sim a personificação do
"feminino maduro", que sabe o que quer e só sentirá completa através do "sagrado
matrimônio".
Hera estabelece o arquétipo
da relação homem-mulher numa sociedade patriarcal, como esposa e companheira
ideal. Assim, é uma deusa do casamento, da maternidade e da fidelidade, além de
ser a guardiã ciumenta do matrimônio e da hereditariedade.

O SIMBOLISMO
O seu mito era associado a
vaca, o que revela o seu vínculo com a fecundidade e com o nascimento. Seus
outros símbolos são a via-láctea, diadema de diamantes, o lírio e a iridescente pena da cauda do
pavão, que continha olhos, simbolizando a cautela de Hera.
A vaca sempre foi associada
à deusas da Grande-Mãe como provedoras e nutridoras, enquanto a via-láctea, em
grego gala significa "leite da mãe", reflete uma crença anterior às divindades
olimpicas, de que ela surgiu dos seios da Grande Mãe. Isso depois torna-se parte
da mitologia de Hera, que conta que o leite que jorrou de seus seios formou a
Via-Láctea. As gotas que caíram sobre a Terra tornaram-se lírios, símbolo do
poder de autofertilização feminino da Deusa.

HERA HOJE: MULHER FÁLICA
O arquétipo de Hera só se
manifesta nas mulheres na segunda metade da vida. Basicamente a mulher-Hera quer
duas coisas: igualdade e parceria. Para justificar suas aspirações tenderá
enfatizar o conceito de dever no seu casamento. A esposa-Hera é muito
extrovertida, o que significa dizer que é muito sociável, gosta de interagir com
outras pessoas. Ela foi criada para sentar-se ao trono ao lado do marido. Aquela
história de que atrás de um homem existe uma grande mulher, é a mais pura
verdade e ela é uma Mulher-Hera. O que acontece entretanto, que raras as vezes
políticos e governantes aceitam compartilhar seu poder com suas esposas, o que
pode levá-las à completa frustração.
Quando os gregos começaram
a mencionar e documentar os conflitos conjugais entre Zeus e Hera, estivessem
aludindo as tensões que podem nascer não apenas do relacionamento entre os sexos
no casamento, mas também da inevitável desproporção entre o poder público e o
poder privado. Por debaixo desta dinâmica é fácil visualizar as rixas entre Hera
e Zeus.
Desde a época das "Mulheres
Megéricas de Shakespeare, a mulher-Hera tem assombrado a sociedade. Os
psicanalistas as chamam de "mulheres fálicas", que esboçam uma associação
psicológica com a mulher-Amazona. Caso seu impulso fálico seja desdenhado por
uma parceria desigual, ela entra em colapso, poderá perder o controle e acabar
sendo impelida por aquilo que deseja controlar. Os junguianos denominam este
fato como "possessão de animus", quando o lado masculino frustrada da mulher,
destrutivamente governa os vários aspectos de sua vida íntima. Quem teve a
oportunidade de ver o filme "Atração Fatal", sabe a que me refiro.

MEDITANDO COM HERA

As mulheres-Heras são
anciãs sábias que já alcançaram a comunhão espiritual com a Grande Mãe.
Medita-se com Hera para contatar a nossa Deusa Interior e buscar um novo
Renascimento.
Encontre um local reservado
em sua casa para este ritual. Crie condições que lhe propiciem esta viagem,
acendendo um incenso ou uma vela e colocando um relaxante som ambiental.
Sente-se confortavelmente com a coluna ereta e feche os olhos. Inspire e expire
profundamente através de uma respiração abdominal. Já soltando o corpo e girando
o pescoço no sentido horário. A seguir, no sentido anti-horário. Comece então a
visualizar um caminho que a levará ao topo de uma montanha. Lá surgirá entre uma
névoa o Templo de Hera. Caminhe por entre as colunas e vá até seu trono.
Curve-se diante dela demonstrando respeito. Ela descerá de seu trono e virá
recebê-la. Beije sua mão e ela a abraçará. Em seguida será encaminhará pelas
escadarias e a colocada em seu trono. Sente-se, sem receio. Hera perguntará a
você agora, o que faria se fosse lhe concedido o benefício de ser rainha por um
dia. É hora de você avaliar sua vida e verificar tudo o que gostaria ainda de
fazer para ajudar em primeiro lugar a si mesma e depois aos outros. Pense baixo
ou fale em voz alta, como lhe aprouver. Sinta-se Rainha e Dona não só de seu
interior como do mundo. Inspire e expire este poder.
Refaça suas escolhas,
reorganize sua essência, reprograme sua mente, mas acima de tudo defina um
propósito de vida e prepare-se para incorporar uma nova mulher. Suas derrotas ou
vitórias dependem do grau de intensidade do seu sentir e do seu referencial
interno sobre o mundo. Você como rainha tem o mundo em suas mãos e souber
administrar este poder com os olhos do coração, entenderá que o bom o ruim são
apenas manifestações que não estamos aptos a aceitar.
Quando você se achar
pronta, levante-se do trono e agradeça à Hera esta rara oportunidade. Ela lhe
acompanhará até a entrada do templo e você seguirá sozinha o resto do caminho.
Volte a inspirar e expirar vagarosamente sentindo seu coração lotado de prazer.
Abra os olhos e se espreguice. Recomece neste instante uma nova vida, mais
aberta à capacidade de transformação.

RITUAL CONTRA A INFIDELIDADE
Muitos de nós pensamos que podemos
confiar na fidelidade de nosso parceiro. Lamentavelmente, nem todo mundo honra
essa confiança. Se você se preocupa com a possível infidelidade de seu parceiro,
pode pedir uma ajuda à Deusa Hera.
A romã, símbolo da união
matrimonial, está consagrada à Hera. Sente-se em uma mesa e corte uma romã pela
metade. Retire 3 sementes e coma a fruta. Enquanto o faz, reflita sobre suas
expectativas em relação a seu parceiro, como e o que essa pode esperar de você.
Depois de comer toda a fruta, vá
até o quarto que compartilha com seu parceiro e coloque as sementes sobre o
travesseiro. Invoque a Deusa Hera dizendo:
-"Hera, de modo igual que a romã
protege suas sementes, peço que me protejas. Mantenha minha relação livre das
tentações da infidelidade."
Coloque então uma das sementes
embaixo do colchão do lado de seu parceiro na cama. As outras duas podem ser
descartadas.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
Rosane Volpatto

Bibliografia consultada
A Deusa Interior - Jennifer
Barker Woolger/Roger J. Woolger
O Oráculo da Deusa - Amy
Sophia Marashinsky
A Grande Mãe - Eric Neumann
As Deusas e a Mulher - Jean
Shinoda Bolen
A Deusa Tríplice - Adam
Mclean
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