Flidias é a Deusa celta da Sensualidade e Senhora das
Florestas. Ele reúne os atributos da deusa Àrtemis com a
sensualidade de Afrodite. A combinação é perfeita!
Como Senhora das Florestas, ela cuida de todas as
coisas silvestres e indomáveis da natureza e está
associada ao Homem Verde. Para aqueles que destroem
indiscriminadamente bosques e árvores, o Homem Verde é um
espírito maligno. Para aqueles que amam e usam de modo
sábio as árvores, le é a tímida entidade que encoraja o
crescimento da árvore.
Mas Flidais também está associada aos animais, em
especial ao gado e muitas vezes surge conduzindo uma
carruagem puxada por oito cervos e chamava todos os
animais da floresta de "seu gado". As acepções simbólicas
do cervo (gamo) são numerosas, sendo a mais notável, a que
o associa a Árvore do Mundo. Por seus chifres longos, que
se renovam periodicamente, é comparado à Árvore da Vida.
Assim, simboliza a fecundidade (à qual o ardor sexual não
é estranho) e os ritmos do crescimento e renascimento. Um
dos símbolos desta deusa é a corça, que está intimamente
ligada com o feminino. Na mitologia grega ela era
consagrada a Ártemis, que a caçava ou a usava para puxar
sua quadriga. A beleza da corça vem do brilho
extraordinário de seus olhos e este olhar é comparado
muitas vezes ao de uma jovem. Além de sua graça e beleza,
a corça simboliza a virgindade e pureza. Flidias tinha
como símbolos também, a grama verde, as árvores e as
nascentes das terras das florestas.
Flidais era descrita como uma mulher altiva, forte e
muito bela que apresentava cabelos dourados. O dourado não
apenas define seu esplendor, mas também faz a consciência
despertar. O domínio do consciente em Flidais não é
espiritual e sim terreno, uma exaltação da mais alta
pureza, que reluz como ouro. A deusa exemplifica os
aspectos da natureza feminina que se manifestam na
matéria. Beleza física, consciência integrada no corpo e
capacidade de conectar emoções profundamente sentidas com
relacionamentos. Todos estes atributos, como já dissemos,
provém da associação de Flidias com as deusas Àrtemis e
Afrodite.
Flidais aparece em destaque no texto "O Roubo do Gado
de Flidais", um texto preliminar do mais famoso e
importante Táin Bó Cuailgne. A história narra uma das
principais atividades das tribos celtas naquela época:
despojavam outras tribos de seu gado, que constituía a
riqueza autêntica e desprezavam a cobiça latina pelo ouro
e pelas jóias, pois sabiam que não poderiam comer tais
materiais, utilizando-os apenas como adornos ou em
sacrifícios aos deuses. Segundo uma lenda, Flidias possuía
uma vaca mágica cujo leite era capaz de alimentar
diariamente centenas de guerreiros. A vaca mágica da
deusa, como o resto dos animais de Outro Mundo na tradição
irlandesa, possuía a pelagem totalmente branca, exceção
feitas às orelhas, que eram da cor vermelha. Será ela que
alimentará o exército de Fergus Mac Róich na Invasão do
gado de Cooley. Desde então era "Buar Flidaise", o rebanho
de Flidais, que alimentava os homens da Irlanda, durante
todo o período da invasão.

Flidais uniu-se à Fergus e conta-se que ela era a única
deidade capaz de saciar o seu descomunal apetite sexual. A
união sexual dos dois representavam as forças ctônicas da
criação.
Muito embora, não se têm conhecimento de quem seja o
pai, Flidais teve três filhas: Bé Téite (Mulher
Luxuriosa), Bé Chuille, a Senhora do Mundo Selvagem e
também uma druidesa, e ainda, Fland, que foi uma das
esposas de Manannan e teve um rápido caso de amor com Cu
Chulainn. Alguns autores relatam que Fland vivia sob as
águas e seduzia os homens, levando-os para seu reino
escuro e frio.

ARQUÉTIPO DA SENSUALIDADE

Flidais, como deusa do amor e da sensualidade,
apresenta um aspecto mutante e transformativo do feminino.
Lendas nos contam, que realmente ela podia mudar de forma
e transformar-se no que quisesse. E, quando seu arquétipo
é ativado em nós, também vemos o mundo e nós mesmos sob
uma luz diferente. Fluidos criativos são estimulados, e as
fronteiras ou limites racionais são impelidos para o
domínio do irracional, digamos, quase animal. Novas
atitudes precedem certo excitamento, e a própria vida
adquire novo significado Mudanças bem-vindas prosseguem de
mãos dadas com atitude criativa da assunção de riscos.
A mulher que vem conhecer a Deusa das Florestas cresce
na compreensão do aspecto divino de sua natureza feminina.
Ela é guiada por suas mais profundas necessidades, por
idéias e atitudes que vêm de dentro. Ela não será
contaminada por circunstâncias externas ou excessivamente
atingida por críticas. Isto acontece, porque Flidias é a
floresta virgem, que é livre e espontânea, grávida de
vida, de acordo com as leis da natureza. É intocada pelas
leis dos homens.
A mulher que tem consciência desta deusa, cuida de sua
alimentação, faz exercícios e aprecia os rituais como
banhar-se, vestir-se e aplicar cosméticos. Mas não se
trata aqui de propósito superficial de apelo pessoal,
relacionado à gratificação do ego, mas sim de respeito por
sua natureza feminina. Sua beleza viva deriva da relação
que tem consigo mesma. Esta mulher é virginal, mas isso
nada tem a ver com um estado físico, mas com uma atitude
interior. Ela não é dependente das reações dos outros para
definir seu próprio ser. A mulher virginal não é apenas o
reverso do homem, seja ele pai, amante, ou marido. Ela
mantém-se em pé de igualdade em relação aos seus direitos.
Não é governada por idéia abstrata do que ela "deveria"
ser ou "do que as pessoas vão pensar". Ela é verdadeira
para com sua natureza e seu instinto.

ARQUÉTIPO DA NATUREZA
Flidais, como arquétipo da natureza, nos ensina que é a
união que completa o ciclo. Assim como a semente é
plantada na Primavera, cresce no Verão, e se faz a
colheita no Outono, cada geração desova as sementes para a
próxima geração. Devemos prestar muita atenção no plantio
de nossas sementes, para que possamos ser recompensados
com uma colheita generosa.
A tecnologia já nos trouxe muito conforto e nos mostrou
muitas coisas no sentido científico, mas agora è tempo de
nos voltarmos para a humanidade e para a conservação do
planeta, incluindo seu relacionamento com o divino. Hoje,
a ciência e a espiritualidade estão começando a
integrar-se como um todo.
Nosso relacionamento com a natureza é o coração da nova
integração encontrada pela ciência e espiritualidade.
Pessoas e árvores já não podem ser mais cortadas para
atender às necessidades da tecnologia e das corporações,
em busca do progresso científico. Já é hora de
trabalharmos em cooperação com cada um e com a natureza.
Texto pesquisado e desenvolvido por
Rosane Volpatto
Bibliografia Consultada
O Oráculo da Deusa - Amy Sophia Marashinski
Os Mistérios da Mulher - M. Esther Harding
Bruxas e heróis - Eisendrath Young
Os mistérios Celtas - John Sharkey
O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino
Druidismo Celta - Sirona Knight
Livro Mágico da Lua - D.J. Conway
A Grande Mãe - Erich Neumann
Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May