No
"Livro das Invasões" irlandês,
encontramos um conto sobre a vinda dos milésios
(provenientes da atual Espanha), talvez os
primeiros habitantes humanos do país. Eles
chegam às costas da Irlanda, guiados pelo líder
Amergin, e já a encontram ocupada pelos
Deuses e Deusas da Terra, os Tuatha De Danann
(filhos de Dana). Tiveram então que lutar
contra os poderes mágicos deste povo, mas
receberam a ajuda inesperada de três deusas:
Banba, Fotla e Eriu (representam a soberania
da Irlanda). As três se oferecem para
auxiliar, desde que seus nomes sejam
preservados como o nome da ilha irlandesa.
Apenas um dos nomes sobreviveu e até hoje é
o nome oficial da Irlanda, Eire. Cada uma
destas Deusas era casada com um rei, chamados
respectivamente: MacCruill (Filho da Avelã),
MacCecht (Filho do Arado) e MacGreine(Filho do
Sol).
Depois
de uma batalha mágica (Tailtiu), os Tuatha De
Danann percebem que sua posse da terra acabou,
que seu ciclo chega ao fim e eles devem
entregar a terra aos recém-chegados. Eles
recuam para as suas grutas, Brochs, Cairns e
Sidhe, entrando na Terra, a própria terra. O
Filhos de Mil, cumpriram a promessa feita às
Deusas e ainda rebatizaram-se a si próprios
de "Eirann".
O
ciclo de lenda dos milésios é
particularmente dominado pelo ciclo de heróis,
e, a partir daí, a mitologia celta torna-se
mais dirigida para o masculino e acentua as façanhas
dos heróis e o fragor das armas.
O
ciclo anterior dos Tuatha De Danann, a que
pertence Eriu, Banba e Fotla, é mais
equilibrado e, evidentemente, vem de uma época
em que os povos celtas estavam mais abertos ao
equilíbrio entre elementos masculinos e
femininos de sua alma, refletindo em sua
mitologia essa característica.
BANBA,
é a Deusa irlandesa da Terra, representando a
terra sagrada. Ela é a esposa de MacCruill e
acredita-se que seja a primeira colonizadora
da Irlanda. Um dos nomes da Irlanda é "A
ilha de Banba das mulheres". É ainda uma
Deusa da guerra e da fertilidade.
A
ENTREGA DA TERRA
Acompanhado
por seus guerreiros, Amergin seguiu até os
emissários dos Tuatha De Danann, que os
aguardavam em uma colina, não muito longe de
Tailtiu, onde aconteceu a batalha mágica. No
centro de um anel de pedras, MacGreine (o rei)
e as três rainhas esperavam-nos.
Ao
chegarem mais perto, Eriu aproximou-se para
cumprimentá-los.
-"Sejam
bem-vindos, filhos de Mil", falou.
"Esta terra será sua, tal qual havia
profetizado".
-"Todo
seu povo está se rendendo?", perguntou
Amergin, com traços de dúvidas na voz.
Eriu
sorriu amigavelmente e respondeu:
-"Por
longo tempo nós os aguardávamos. Sabíamos
que viriam. Esta terra agora é sua por
direito e nós nos renderemos sem mais nenhuma
batalha".
-"Você
me deixa muito feliz", afirma."Como
lhes prometi, seus nomes serão dados a esta
terra", confirma. "Algo mais
desejam?"
-
"Só queremos que honre a terra, pois nós
somos a terra", disse Eriu. E
continuando:
-"Nossos
reis, dois dos quais já foram mortos, eram
nossos guardas. Agora você deverá se
transformar em guarda e suas esposas serão a
terra que já fomos".
Amergin
olhou para seus dois outros irmãos que o
acompanhavam e falou:
-"Está
bem, honraremos a terra como você deseja. Nós
três nos transformaremos em seus
guardas".
-"Isso
deve ser realizado corretamente",
observou Eriu.
-"Como
devemos fazer?", pergunta Amergin.
Eriu
aproxima-se de Amergin, tira-lhe toda a roupa
e sem se preocupar com toda a audiência
une-se a ele.
-"Sabe
o que estamos fazendo? Estou rendendo-lhe a
terra. Eu sou a Terra!".
Quando
a semente de Amergin fluiu para dentro do
ventre de Eriu, ela pede para que seu marido
perfure seu abdômen com a espada, apenas da
cintura para baixo. Eriu cai, enquanto seu
sangue jorra como um rio sobre a terra.
Amergin,
só conseguia sussurar: "Por que?"
-"Nossas
vidas foram confiscadas", disse-lhe ela,
esforçando-se para manter-se sorrindo.
"Para que você governe esta terra teve
que unir-se a mim e agora eu devo unir-se com
a terra. Agora poderá passar minha coroa de
rainha para uma de suas mulheres."
-"Mas...!"
fala perplexo Amergin. E Eriu lhe dá novas
ordens:
-"Agora
você deverá remover a cabeça de meu
marido". O druida olhou para MacGriene,
que já estava ajoelhando-se e curvando a cabeça
ligeiramente. Amergin armou-se com espada e o
decapitou. Por um momento o corpo permaneceu
como estava, mas em seguida, a cabeça rolou
pelo chão e a terra coloriu-se de sangue.
-"Agora
corte a minha", exclamou Eriu. Amergin
tentou protestar, mas Eriu enfatizou:
-"Você
deve terminar este ritual e cortar fora minha
cabeça!". Mas Amergin não teve coragem
de realizar tal ato e pediu para que um de
seus guerreiro tomasse o seu lugar. E assim
foi feito. Quando a cabeça de Eriu foi
cortada e caiu ao chão juntamente com seu
corpo, ele dissolveu-se como sal em água. O
sangue foi absorvido pela terra e ela
desapareceu completamente.
Depois
o mesmo ritual se repetiu com Banba e Flota.
Amergim
toma assim, posse de suas novas terras.
A
DECAPITAÇÃO
Há
mais de mil anos, nas terras úmidas e frias
da Europa central, os povos celtas
desenvolveram uma das fé mais misteriosa e
fascinante já praticada: o Culto à Cabeça.
Os
celtas consideravam que a cabeça humana era
fonte suprema de poder espiritual. Eles
cultuavam a cabeça humana como os cristãos
cultuam a cruz. Para eles, a cabeça abrigava
a alma, refletindo a divindade.Os inimigos
derrotado nas batalhas forneciam um grande
suprimento desses lúgubres troféus e alegres
celebrações acompanhavam cada nova aquisição.
Após
decapitar um valoroso inimigo, o guerreiro
entoava um hino de louvor ao regressar ao lar,
triunfante.
Os
celtas decoravam seus templos com caveiras,
exibiam-nas orgulhosos em suas casas e muitas
vezes o copo em que sorviam o vinho era feito
com pedaços de crânio. Fabricavam também
cabeças artificiais com madeira, pedra e
metal, para adornar seus lares, trajes, armas
e arreios de cavalos. Acreditavam que isso
trazia boa sorte, proteção contra o mal e até
curava doenças.
Se
o povo de Tuatha De Danann foi vencido,
conforme rezava estas tradições, nada mais
natural que deveria se seguir um ritual que
culminasse com a decapitação.
A
TRÍADE

Para
os celtas o número três é sagrado e mágico
e expressava a visão que tinham do mundo.
Este número estava representado graficamente
como um "triskele", um símbolo
solar de três braços derivado da roda,
aparentado da "suástica", que
continua a carregar uma imagem negativa,
especialmente na Europa, nos Estados Unidos e
em Israel, devido ao seu mau uso durante a
Segunda Guerra Mundial. No
"triskele" aparece a espiral dupla
regressiva/evolutiva de seu equivalente
oriental do YIN-YANG , porém contendo uma
terceira espiral que supõe a genuína
contribuição céltica à diferença entre a
espiritualidade do Oriente e a do Ocidente.
O triskele era um símbolo arquetípico de
grande poder e foi representado em todo o
mundo celta.
Muitos
Deuses e guerreiros celtas repetirão três
vezes a mesma ação concreta antes de colher
as vantagens que esperam dela: terão que
confrontar três animais, seres malignos ou até
mesmo calamidades naturais diferentes. Em
certas ocasiões, terão de concluir três
vezes uma aventura antes de dá-la por vencida
ou realizar três feitos heróicos em vários
lugares, distintos somente na forma, pois em
essência trata-se sempre do mesmo, ou
repeti-lo durante três dias consecutivos.
Assim, para os celtas, entre o Bem e o Mal há
a Indecisão, momento supremo em que o homem
pode escolher o seu destino, orientando-se de
um lado para outro; entre o dia e a noite
existe há o crepúsculo; entre o branco e o
negro há muitas matizes de cinza; entre o
homem e a mulher está o filho, a obra que os
une e ao mesmo tempo os separa e transcende e
entre a vida e a morte, há o Outro Mundo, o
lugar que a alma descansa e faz seu balanço
para dar continuidade a sua grande e eterna
aventura. Assim, o anão e o gigante seguem
diferentes caminhos, mas acabam se dirigindo
para um fim idêntico, pois sabem que a Deusa
está em toda a parte, no princípio e no
final, por mais estranhos que possam parecer
os paradoxos aparentes do mundo.
Texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane
Volpatto
Bibliografia:
Hadas y
Elfos - Édouard Brasey
Enanos y Gnomos - Édouard Brasey
La Mujer
Celta - Jean Markale
Diccionario de Las Hadas - Katharine Briggs
El Gran Libro de la Mitologia - Diccionario
Ilustrado de Dioses, Heroes y Mitos - Editora Dastin; Madrid
Os Mistérios Wiccanos - Raven Grimassi
Livro Mágico da Lua - D. J. Conway
Explorando o Druidismo Celta- Sirona Knight
O Livro da Mitologia Celta - Claudio Crow Quintino
O Amor Mágico -Laurie Cabot e Tom Cowan
Hadas - Jesus Callejo
Os Mitos Celtas - Pedro Pablo G. May
Diccionario Espasa - J. Felipe Alonso
A Deusa Tríplice - Adam Mclean
Hadas - Montena; Brian Froud y Alan Lee