~*~DEUSA ATEGINA~*~

  

 

 

Ategina é uma Deusa Mãe da Turóbriga (Betúria Céltica, região na margem do rio Guardiana) da morte e da regeneração, do renascimento ou da volta à vida, Deusa telúrica relacionada com o mundo subterrâneo ou inferno, cujos poderes curativos e para a fertilidade podem manifestar-se através das águas subterrâneas de determinadas fontes ou mananciais de origens profundas. É definitivamente, uma deidade ou ninfa protetora das águas minerais, doadoras da saúde e da fertilidade humana.

Seu nome provém do céltico "Ate" (irlandês antigo Aith) e "gena", que quer dizer "renascida". O seu nome  foi cuidadosamente estudado por José Leite de Vasconcelos no segundo volume da sua obra Religiões da Lusitânia.

Ategina é uma Deusa com as mesmas ou parecidas funções da Perséfone grega ou Proserpina latina, e em várias inscrições aparece sincretizada com esta como Ategina-Proserpina, como na que aparece junto ao pântano romano de Mérida, a cuja Deusa estaria seguramente consagrado pela clara vinculação que tem esse tipo de divindades com a água. É uma Deusa dos ciclos anuais da vida e da morte, principalmente em seu aspecto invernal, quando a terra parece morta.

O culto de Ategina era realizado em altares ou "aras" (colunas de granito) erguidos nas cercanias das águas, que eram consideradas possuidoras de especiais virtudes, enquanto um santuário principal se situava na vizinhança da cidade bética de Turóbriga.

 

Em Extremadura, região de grande influência céltica, existem vários locais onde é clara esta vinculação de Ategina com as águas que surgem de determinadas fontes as quais foram atribuídas certas propriedades de cura ou de fertilidade.

Onde foi encontrado um maior número (umas 50) de dedicatórias a esta Deusa céltica, foi em muros, solos e em torno da ermita visigoda de Santa Lúcia do Trampal, evidentemente levantada no mesmo lugar onde existiu um antigo santuário dedicado a Dea Sancta Adaegina.

Colunas de granito (aras) que eram dedicados a Dea Sancta Ataecina Turibrigense,

extraídos durantes as últimas escavações nas proximidades da ermita visigoda

Santa Lúcia do Trampal de Alcuéscar (Cáceres).

 

São muitas pedras encontradas, indicando que houve mesmo um santuário importante erguido para o culto da Deusa Ategina, um lugar sagrado que posteriormente foi cristianizado no século VI d.C.

 

Foi encontrado também estatuetas de bronze com forma de cabritos e um ara granítico que tinha gravado um tridente, com inscrições dedicadas a Dea Sancta Adaegina, na localidade de Malpartida de Cáceres, integrada durante a época romana em "ager norbensis", isto é, o campo da colônia Norba Caesarina, explorado por numerosas vilas rurais agro-pecuárias.

 

Os sacrifícios de cabras à Ategina, unido a ablução purificadora com a água da fonte milagrosa, eram um rito em que o animal de convertia em vítima expiatória do mal do ofertante. Esse seria o caso das duas cabritas de bronze com inscrições encontradas em 1885 por um lavrador em "La Zafrilla", fazenda situada a uns três quilômetros a noroeste de Malpartida, nas cercanias do antigo caminho romano que conduz à localidade de Arroio da Luz e a Ponte de Alcantara, e que foram entregues junto com outros objetos romanos (várias peças e uma com um rosto feminino lavrado em osso) e vários pedaços de pedra, ao proprietário dos terrenos, D, Miguel Jalón.

As cabritas tinham junto com as patas dianteiras uma placa soldada onde podia-se ler o seguinte texto:


D.S.T. AD-VICTORIN. –SER.C.SE-VERAE- A.L.V.S.
D(eae) S(anctae) T(uribrigensi) AD(aeginae) VICTORIN(a)
SER(va) C(occeia) SEVERAE A(nimo) L(ibens) V(otum) S(olvit)


DE.S.A.T.- COCCEIVS-MODESTI- ANVS.V.S.
DE(ae) S(anctae) A(daeginae) T(uribrigensi) COCCEIVS
MODESTIANVS V(otum) S(olvit)
 

 

É importante acrescentar também que existia dentro da fazenda "La Zafrilla", um rico manancial de águas minerais, que foram aproveitadas durante os últimos séculos para encher as pias de um rústico balneário e de um banho de lamas chamados de "São Miguel", possivelmente em honra ao antigo possuidor da fazenda.

 

Ruínas do balneário de São Miguel

 

Também foram encontradas outras cabritas de bronze consagradas a Deusa Ategina junto ao Arroio de El Encin, perto do povoado de Vandencin (Cáceres). Aqui se achavam dentro de uma vasilha de barro, um grupo de figuras de bronze que foram catalogadas como pertencentes aos séculos I a II d.C. Esses objetos são de pequeno tamanho e atualmente se encontram no Museo Arqueológico Provincial de Cárceres. São quatro cabritas, uma das quais tem soldada entre suas patas dianteiras uma placa (fragmentada) similar a que tem cada uma das duas cabritas de Malpartida.

 

 

De acordo com Leite de Vasconcelos, seu culto estendeu-se depois a outra localidades, conforme o provam diversas inscrições, nomeadamente Elvas, Mérida, Vila Viçosa, Pax Julia, entre outras do alto e baixo Alentejo.

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DEUSA TRIPLA

Esta é uma Deusa originalmente indígena que acabou por ser conotada pelos Ibero-Romanos a Perséfone e a Libera. Com Perséfone, tinha a semelhança de ser Deusa da fertilidade dos campos e dela acabou por ganhar o caráter infernal que tinha como mulher de Plutão.

Libera por sua vez, era a primitiva Deusa da fertilidade agrária, irmã de Liber (Baco). Atégina acabou assim por ficar associada a estas duas Deusas do panteão romano.

 


Para além do fato de ser uma Deusa da fertilidade, ligada ao renascimento da natureza e ao germinar das sementes, o seu caráter infernal fazia com que se lhe fossem consagradas devotio. O devotio, era uma cerimônia, que se consistia em invocar, através de certas fórmulas, as divindades para prejudicar alguém (da simples praga até à morte). Era, contudo, também Deusa curadora, e muitas inscrições o comprovam. Atégina poderá ser resultado de uma mistura entre Astarte (deusa fenícia da Lua) e Diana.

Como pode  ser considerada como Deusa infernal e Deusa médica era assim uma Deusa Tripla: da Natureza, da Cura e da Morte.

Outro aspecto importante desta Deusa são suas capacidades mediúnicas, pois como uma Deusa de submundo, como Perséfone, está associada a magia e a cura.

Era considerada ainda, uma Deusa "thesmóphoros" (legisladora), pois velava pela observação das leis e ensinou aos homens os rudimentos da civilização. Zelava pela moral concedendo prêmios ou castigos. Tinha o poder para encontrar objetos roubados e castigar os ladrões. Muitas lápides votivas de seus adoradores continham orações e invocações para protegerem-se contra roubos ou recuperar objetos roubados.

Inscrição de Ategina-Proserpina (Mérida)

Por meio dela uma mulher invoca a Dea Ataecina-Proserpina,

Deusa dos Infernos, para que castigue ao ladrão que roubou

vários objetos.

Seu animal sagrado era a cabra e sua árvore o cipreste. Não é em vão a tradição de se plantar ciprestes nos cemitérios, pois trata-se de uma tradição mediterrânea pré-cristã, sobretudo latina.

Os "aras" (colunas em granito) que eram oferecidas por seus seguidores tinham em sua superfície superior uns ocos, que serviriam possivelmente para colocar uma estátueta de cabra feita em bronze como as que podem ser vistas nos museus de Lisboa, Cáceres e Madrid e que recordariam ou substituíram a oferenda feita a Deusa deste animal.

 

Não se sabe ao certo a origem do seu culto, provavelmente era uma Deusa indígena que foi primeiro celtizada, tal como indica seu nome e depois romanizada.

Em algumas inscrições, Atégina apareceu ligada à medicina, sendo apelidada pelos dedicadores de sevatrix ou seja conservadora (da saúde dos homens).

Do mesmo modo que o deus Endovélico, também era vasto o grupo de pessoas que se dirigiam a Ategina: escravos, homens livres. indígenas e romanos.

Em algumas inscrições o nome da Deusa aparece apenas representado por um "A", e vários são os epítetos a ela atribuídos, tal como Dea, Domina, Sancta, Invicta, Servitarx, provando assim sua importância.

Em Portugal, a Deusa Atégina aparece como uma Deusa Tripla ligada as Fadas, principalmente as "janas" ou "anjanas".

MITOLOGIA LUSITANA

UM POUCO DE HISTÓRIA....

Primeiro, é necessário informar que os lusitanos eram invasores estrangeiros (2000 a. C.), principalmente iberos e celtas, que formaram comunidades na parte ocidental da Península Ibérica.

Quando Roma derrotou os cartagineses em 216 a.C. e ocupou todos os territórios no leste da Espanha, teve ainda de subjugar as tribos celtíberas que viviam no oeste. Uma delas, a dos lusitanos, resistiu ferozmente. A figura mais notável entre os lusitanos foi viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos.

Acabaram derrotados em 139 a.C., mas deram o nome à Lusitânia, uma província da Hispânia romana, que quase corresponde ao Portugal de hoje. A palavra "lusitanos" é, provavelmente de origem celta: uma fusão de "Lus" e "Tanus, "tribo de Lusus".

A romanização levou a quatro séculos de estabilidade e progresso, mas com o colapso do Império Romano, a Lusitânia foi invadida por tribos germânicas: os suevos e, logo, os visigodos.

Depois os visigodos foram derrotados pelos muçulmanos do norte da áfrica em 711. No século 11, quando decrescia o poder dos mouros, Portucale era apenas um pequeno condado do reino de Leão e Castela, centrado no Douro. Depois que Afonso Henriques os derrotou em 1139, Portugal tornou-se independente.

DEUSES LUSITANOS

Os deuses lusitanos estiveram em síntese com os invasores, quer os CELTAS quer os ROMANOS. O povo lusitano acabou adotando os cultos de ambas as civilizações, influenciando deste modo as crenças locais. Algumas dessas divindades lusitanas foram assimiladas pelos romanos.

Era costume entre os lusitanos a celebração de sacrifícios de animais e humanos em honra a seus deuses e muitos outros cultos pagãos da época. Os principais desígnios de sua religião era rogar por proteção e saúde e algumas vezes, maldizer ou outros.

Seus principais deuses eram: Ares (deus dos cavalos), Atégina (Deusa do renascer), Bandua (deus protetor da comunidade), Cosus (deus da vitória),  Candamius (uma forma de Zeus), Dercetio (um deus da montanha), Drusuna (Deusa da floresta), Endovélico (deus da medicina e da segurança), Epona (Deusa eqüina), Lugus (deus guerreiro, mágico, sábio), Nabia (Deusa dos rios e das águas), Nemedus (deus do bosque sagrado), Neton (deus da guerra, equivalente a Marte), Reva (deus associado às alturas), Runesocesius (deus dos dardos), entre outros.

TRINDADE LUSITANA

No Panteão Lusitano, Atégina forma uma Trindade com o deus Endovélico e Runesocesius. existem vestígios. Endovélico era um deus da Idade do Ferro de medicina e segurança, de caráter simultaneamente solar e ctonico, venerado na Lusitania pré-romana. Depois da invasão romana, o seu culto espalhou-se pela maioria do Império Romano, subsistindo por meio de sua identificação com Esculapio ou Asclépio, mas manteve-se sempre mais popular na Península Ibérica, mais propriamente nas províncias romanas da Lusitânia e Bética.

Endovélico tem um templo em São Miguel da Mota no Alentejo em Portugal, e existem numerosas inscrições e ex-votos dedicados a ele no Museu Etnológico de Lisboa. O culto de Endovélico sobreviveu ate ao século V, até que o cristianismo se espalhou na região.


Já Runesocesius era o deus dos dardos na mitologia lusitana, possuindo uma natureza misteriosa e um caráter marcial.

CONECTANDO-SE COM ATÉGINA

Invoque essa Deusa sempre que sentir necessidade de entrar em contato com seus sentimentos mais profundos ou quando sua vida contradisser esses sentimentos. Atégina pode lhe dar coragem de ser forte ao demonstrar seus sentimentos para os outros, principalmente ao ser amado. Ela pode ser invocada quando você tiver que confiar em sua intuição ou quando outros menosprezarem as intuições derivadas de seu conhecimento interior.

O local ideal para invocá-la é uma fonte, uma gruta ou um grande lago. Se morar na cidade, talvez tenha que substituí-los por um pequeno lago ou uma fonte em um parque ou praça pública.

Faça esse ritual na Lua Nova alinhando-se com o lado "misterioso" dessa Deusa. Quando a noite está mais escura, nos comunicamos com a Dama do Interior da Terra e a Deusa da Fonte, pois ela está acostumada com o útero escuro, onde crescem as sementes, com as regiões escuras da terra, onde habitam os mistérios mais antigos.

Para esse ritual você precisará de moedas, sementes ou pétalas de rosas. As moedas, como por serem feitas de metal, são derivadas da terra. Representam também o poder, por isso as estátuas de Atégina eram feitas de bronze. As sementes são fontes da vida e dos alimentos. Lançá-las à água para serem levadas pela corrente é uma forma de sacrifício, entregando-lhe seu pedido como apreço pelas sementes que você planta. Lançar pétalas de flores na água expressa a gratidão pelo prazer que elas lhe proporcionaram.

Abençoe suas oferendas na noite anterior ao ritual, colocando-as em um lugar perto de sua cama. Se possível, planeje um sonho com suas necessidades ou com a imagem da Deusa.

Eis uma forma de fazê-lo:

Quando for dormir, coloque suas ofertas num local próximo, diga que aceitará tudo com que sonhar como um presente da Deusa Atégina em forma de sonho. Pela manhã, interprete o sonho de acordo com suas intenções. Qualquer que tenha sido o conteúdo do sonho, você encontrará algum significado nele.

No dia seguinte, leve suas oferendas até o poço ou fonte e jogue-as lá. Diga então:

"Deusa Átegina, deixe que sua sabedoria flua das profundezas que essa água representa. Deixe-a fluir em mim, faça de mim um canal de profundo amor e alegria para os outros. Ofereço-lhe esses símbolos, objetos de meus sonhos. Aceite-os como um sinal da minha dedicação a ti e do conhecimento e poder que outorgas."

ATAEGINA

Na Ara da Vida jaz uma morte
A ti te lanço a minha sorte
Ataegenia tríade fatal
Pálida Deusa, doce é teu mal
Centenas de corvos sobre a rochedo
Cantam em coro histórias de Medo
De Primaveras que a morte abraça
Em ti encontram a sua desgraça
Devotio Ver Sacrum
Devotio Consecratio
Capitis Dirae
Rainha da Noite, Rainha Natura
Saudoso berço primaveril
se choram filhos perdidos
Para terras amargas sem retorno
Onde a voz dos Deuses Perdidos
Bebe o povo o sangue do corno
Corças alvas trazem esperança
Lembram destinos, a vitoria
Nobre Guerra, furiosa dança
Do sai um rumor de gloria
Devotio Ver Sacrum
Devotio Consecratio
Capitis Dirae
Rainha da Noite, Rainha Natura
Saudoso berço primaveril.
 
 
 
Texto pesquisado e desenvolvido por
 
ROSANE VOLPATTO