TAMBOR DE CRIOULA
(MA)

Tambor da Crioula é uma das danças
afro-brasileiras mais recorrentes no Maranhão,
sendo caracterizada pela presença da umbigada, que
recebe o nome de “punga”. Desenvolvida apenas por
mulheres em formação circular, a coreografia é
executada de forma individual e consta de
sapateios e requebros voluptuosos, com todo o
corpo, terminando com a “punga”, batida no abdômen
de outro participante da roda.
A punga é uma forma de convite para que outra
dançarina assuma a evolução no centro da roda.
Os cantos são repetitivos, à semelhança de
estribilho.

O ritmo é executado em três tambores feitos de
tronco, escavados a fogo. O tambor grande é
chamado Socador ou Roncador
(faz a marcação para a punga);
o médio, o Meão
(responsável pelo ritmo);
o pequeno, Pererenga ou Pirerê
(faz o repicado).

SÓ NO MARANHÃO...
Na Terra das Palmeiras buritis, carnaúbas e
babaçus, é o reduto da maior miscigenação de raças
de todo o país. Com o plantio do algodão os negros
chegaram a essa região
e,
posteriormente, formaram o primeiro quilombo da
região, o Quilombo de Frechal.
Com eles, chegou também, toda sua tradição
mítico-religiosa que, associou-se aos traços
culturais dos indígenas e dos europeus. Tais
aglutinamentos unidos recriaram uma nova cultura
que está identificada em cada passo das danças,
das rezas e das festas dessa região.

Aqui, o. Tambor de Crioula é dança de divertimento
e ao mesmo tempo uma forma de pagamento de
promessa a São Benedito e outros santos,
organizada sobretudo pelos negros.

Realizada no contexto do catolicismo popular, é
comum sua ocorrência em casas culto de tambor de
mina ou umbanda em São Luís, onde costuma ser
tocado ao menos uma vez ao ano, no dia 13 de maio,
ou em outras datas, em homenagem a entidades
religiosas que apreciam esta festa.

Em São Luís se diz que o Tambor de Crioula é feito
em louvor a São Bendito, que é santo preto e gosta
de tambor. Ele é sincretizado com o vodum
jeje-nagô, Averequete, originário do Daomé.
Diversos encantados gostam e são homenageados com
Tambor de Crioula: os Pretos Velhos, o caboclo
Jarioldamo, devoto de São Raimundo, Seu Antônio
Luís Corre Beirada e outros, além de Averequete e
de São Benedito.
O
Tambor de crioula é uma manifestação que só existe
no estado do Maranhão, mas que aos poucos vem se
tornando conhecido e difundido pelo Brasil
inteiro.

A IMPORTÂNCIA DA CULTURA AFRO-AMERICANA
A presença cultural e religiosa negra é um fato
tão evidente no continente americano que pode-se
afirmar com certeza que, sem os traços
característicos da cultura negra, não se pode
definir o específico da cultura latino-americana.
Há traços negros na música, na dança, na
escultura, nas religiões, nos costumes e no modo
de ser das pessoas.

Apesar das contradições e sofrimentos vividos pela
população negra desde da época do Descobrimento
das Américas, a sua cultura se enraizou e se
mantém com grande vitalidade, expressando-se
através das manifestações de caráter associativo,
tanto no campo cultural quanto no social e
religioso.

A classe dirigente latino-americana não assume as
culturas populares, ao contrário, procura
reduzi-las a mero folclore. Também os canais
oficiais de maneira sistemática insistem em fazer
com que a cultura latino-americana seja uma
desfigurada reprodução da cultura ocidental
européia.
Aqui no Brasil a população negra é significativa e
nossas raízes, com "o pé na África", como fala a
sabedoria popular. A população afro-americana
entretanto, proveio de poucas fontes principais da
África. A maioria descende de duas grandes
culturas principais: Banto e Nagô. Os negros de
origem Bato foram trazidos principalmente das
regiões de Angola, Congo e Moçambique. Um terço da
população negro-africana é banto. Há
aproximadamente 500 povos bantos, ou seja,
comunidades culturais com civilização comum e
línguas semelhantes.

A palavra "Banto" significa "seres humanos,
pessoas, homens, povo". As línguas Banto formam um
grande grupo, porém com muita semelhança entre
elas. São faladas em muitas regiões da África
atual: Uganda, Kênia, Tanzânia, África do Sul,
Ruanda, Burundi, Zâmbia, Moçambique, Zimbabue,
Angola, Zaire, Gabão, Camarões, República do
Congo, Malawi, Botswana, Lesotho.

Seria impossível descrever nesse breve espaço
tantas particularidades e riquezas dos povos
Banto. É importante ter presente que os africanos
de origem Banto foram trazidos para as Américas e
particularmente para o Brasil procedentes do Congo
e de Angola, durante o período da conquista e do
desenvolvimento da colônia. Foram distribuídos
principalmente no centro litorâneo, nos estados do
Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas
Gerais.

Outro grande número de afro-americanos e
brasileiros tem sua origem na tradição cultural
Nagô O nome "Nagô", que originalmente se referia
unicamente a um ramo dos descendentes Yorubá de
Ifé, foi aplicado de maneira extensiva a todos os
povos Yorubá. Os diversos grupos provenientes da
África, principalmente do Sul e do Centro do Daome
e do sudeste da Nigéria, são conhecidos no Brasil
com o nome de Nagô.

Os Nagô são portadores de uma particular tradição
cuja riqueza deriva das culturas dos diferentes
reinos de onde eles se originaram. Os Ketu, Sabe,
Oyó, Egbá, Egbado, Ijexa, Ijebu exportaram para o
Brasil e outras regiões da América seus costumes,
suas estruturas hierárquicas, seus conceitos
filosóficos e estéticos, sua língua, sua música,
suas danças, sua literatura oral e mitológica. E,
sobretudo, trouxeram para o Brasil sua religião.

Os Nagô foram os últimos grupos africanos de
escravos que chegaram ao Brasil. Isso ocorreu
entre o fim do século XVIII e início do século
XIX. Foram concentrados nas zonas urbanas do Norte
e Nordeste, Pernambuco, Bahia, particularmente nas
capitais desses estados: Recife e Salvador. A
maioria da população baiana é de origem Nagô.

O comércio intenso entre Bahia e África naquele
período manteve os Nagô do Brasil em contato
permanente com suas terras de origem. Foi,
sobretudo, através da prática contínua de sua
religião que os negros nagô conservaram um sentido
profundo de comunidade e preservaram o mais
específico de suas raízes culturais.

O Banto e o Nagô têm características básicas em
comum. Uma destas características é a própria
concepção de mundo que fundamenta a cultura. Uma
visão de mundo profundamente religiosa, onde tudo
tem origem em Nzambi, criador e organizador do
universo na tradição Banto, ou Olorum, na tradição
Nagô.

Para o Banto, Nzambi (Deus) é a fonte de vida,
fundador do primeiro clã humano, causa primeira de
tudo o que existe. Para os Nagô, há uma força
suprema, geradora de todas as coisas que é Olorum
(Deus). Abaixo dessa força existem os Orixás. As
religiões tradicionais africanas são o espaço
prioritário do relacionamento com a divindade.

Tanto o homem como a mulher africana são seres
profundamente religiosos e os locais de seus
cultos não são templos suntuosos, mas a "roça" ou
"terreiro". É no terreiro que os negros nascidos
nessa terra reconstituem um pedaçinho da África
genitora e desenvolvem seus conteúdos culturais.

Esse contexto histórico é importante para o
aprofundamento de nossos estudos sobre as danças
folclóricas afro-brasileiras.
Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO


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