LUNDU
Lundu é uma dança de origem africana,
assim como seu canto, trazida pelos escravos bantos. O Lundu, do mesmo modo que
o "maxixe", eram danças que possuíam uma forma "branda" e a uma forma
"selvagem". Essa última,
tinha como tema da
dança, o convite feito pelo homem à mulher para um encontro sexual. A dança
desenvolvia-se, a princípio, com a recusa da mulher mas, ante a insistência do
seu companheiro ela termina por ceder. A movimentação era tão carregada de
sensualismo e lubricidade que, ao tempo, a Corte, ao tomar conhecimento do fato,
solicitou às autoridades a proibição da dança.

Desse Lundu, assim fala Oliveira Martins:
“(...) era uma feiticeira melodia sibarita, em lânguidos compassos entrecortados
, como quando falta o fôlego, uma embriaguez de sensualidade voluptuosa”.
A coreografia na forma "branda",
segue as linhas gerais do Batuque ou Samba. Homens e mulheres dançam soltos,
formando um semi-círculo onde cada par, após dançar no centro, voltam ao seu
lugar; no final todos dançam juntos.
Com as adaptações locais o "Lundu" sofreu
diversas modificações, principalmente na indumentária. Ao contrário do
primitivismo africano, apresenta todas as características marajoaras, razão por
que passou a ser chamado de "Lundu marajoara". As mulheres se apresentam com
lindas saias longas, coloridas e bastante largas, blusas de renda branca,
pulseiras, colares, brincos vistosos e flores no cabelo. Os homens vestem calças
de mescla azul-claras e camisas brancas com desenhos marajoaras. Os pares se
apresentam descalços.

Para ser aceita, o Lundu-dança, passou à
Lundu-canção e no Brasil Império já era cantada nas grandes festas. E essa
ascensão se deu pelo caminho da comicidade. Cantando sensualmente os amores
condenados pela sociedade, o Lundu se fixou definitivamente na exaltação da
negra e do mulato. Eram muitas vezes cômicos e sempre risonhos. Foi essa
comicidade e sorriso o disfarce psicossocial que lhe permitiu a difusão nas
classe dominantes. E por isso mesmo, por tratar de temas nem sempre aceitos pela
sociedade é que a maioria dos Lundus não trazia o nome do autor que
preferia se esconder no anonimato para não ser identificado e talvez perseguido
pelas autoridades.
O Lundu foi a primeira forma de música
negra, que sendo muito bem aceita pelos brancos, amulatou-se, ou seja, se
miscigenou a cultura européia sem abrir mão das suas características
esculturais: no caso, a alteração rítmica da sincopa e a escala de sétima
baixada (sol a sol descendente, sem alteração).
A matriz rítmica, por sua vez, demandava
um acompanhamento afro-brasileiro (atabaques, agogô, marimba, pandeiro,
triângulo etc. O próprio violão, que não é instrumento africano, termina
obedecendo ao mesmo processo de execução dedilhada dos instrumentos de corda
negros.

Vários cantos e danças urbanas tiveram
origem nesse ritmo, trazidos pelos escravos bantos. O Lundu contribuiu,
principalmente com a síncopa, para a criação do maxixe. Nos primeiros
tempos da República, quando crescia grandemente a música popular no Rio, o ritmo
sincopado já era produzido em toda parte: mesas de cafés, chapéus de palhinha,
caixas de fósforos etc. A síncopa garantia a recriação ou reinvenção dos efeitos
específicos dos instrumentos de percussão negros.
O Lundu-canção, graças a sua origem
popular passou a interessar tanto aos compositores cultos que acabaram por
modificá-lo a ponto de ser confundido com a modinha.
Dentre os compositores dessa modalidade de música destaca-se
Xisto Bahia. Um músico, ator e compositor que nasceu em Salvador em 5 de
setembro de 1841 e faleceu em Caxambu, Minas Gerais, em 30 de outubro de 1894.
Xisto Bahia é considerado um dos mais notáveis artistas
baianos de todos os tempos. Além de compositor era exímio trovador e artista
dramático, embora tenha feito muita comédia, distinguindo-se sempre pela mais
completa assimilação dos papeis que interpretava.
Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
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Partitura
[PDF:110KB]
- MIDI
[MID:9KB]

 

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