COSTUMES DAS FADAS
Desde tempo imemorial, o homem manteve relações
ambivalentes com o Reino das Fadas, já sabemos que é indiscutível que o contato
feérico pode ser benéfico, mas a mesma probabilidade existe de ser funesto.
Em todas as partes onde há crença sobre as fadas
se é estabelecido sempre uma distinção entre as fadas boas e as fadas más.
A CORTE BENDITA

Esse á o nome dado a hoste das fadas bondosas.
Menciona-se em primeiro lugar suas atividades puramente benévolas, tais como a
doação de pão e sementes de trigo aos pobres e a ajuda que prestam aos seus
preferidos. As fadas se mostram benéficas para todo aquele que lhe prestar um
favor.
Uma história contada por Grant Stewart ilustra
esse aspecto:
"Uma pobre mulher, deu a uma fada que lhe pediu
uma certa quantidade de farinha. A farinha lhe foi devolvida e durante
todo a inverno a lata de farinha da mulher nunca esteve vazia".
Entretanto, inclusive a Corte Bendita se vingava
de qualquer ataque ou insulto. As pessoas que esvaziavam água suja em suas
moradas subterrâneas eram advertidas lealmente, porém se não fizesse caso do
aviso, sofriam um castigo, que podia consistir na perda de um ganho ou na
destruição de sua casa. Outras ofensas recebiam um castigo adequado, porém os
humanos não eram atacados cruelmente, como ocorria com a Corte Maldita.

A CORTE MALDITA
Os membros da Corte Bendita, podem ser terríveis
quando ofendidos, porém a Corte Maldita, em nenhuma circunstância são favoráveis
a humanidade.
A Corte Maldita compreende a "Sluagh", a hoste dos
mortos que não tinham recebido sacramentos e flutuam sobre a terra, arrebatando
os mortais indefesos trazendo-lhes muita desgraça. Há autores que os consideram
como anjos caídos. Esses espíritos matam cachorros, gatos, ovelhas e vacas com
seus infalíveis dardos venenosos.
Também eram atribuídas a essas fadas más outras
indisposições humanas como o reumatismo, as cãibras e as contusões, como
feitiços das fadas, como castigo por ser agido em seu desagrado.
A paralisia não era vista como uma enfermidade
para o homem do campo, mas sim como uma prova de que uma "criança trocada" havia
substituído a criança verdadeira. Já Bovet, se atribuía a paralisia a presença
invisível de um "Mercado das Hadas". Um viajante noturno viu esse mercado em
Blackdown, Somerset, e chegou com seu cavalo para vê-los mais de perto. Quando
aproximou-se dele, o mercado desapareceu, porém o cavaleiro sentiu um pressão em
todo o corpo, e quando a pressão passou, sentiu um entumecimento, em todo um
lado do corpo e ficou paralisado para o resto de sua vida.
A paralisia infantil, a cólera, a tuberculose,
deformidades em geral e muitas outras doenças, segundo a crença popular da
época, eram produzidas pelos ataques dos elfos. Ao que parece, Shakesapeare
aprovava esse crença pois dizia:
"Tu, marcado pelos elfos, porco devastador e
deforme..."
Entre outros conhecidos embaraços causados pelos
seres fantásticos figura o desaparecimento de objetos no interior de nossas
casas.
Existe inclusive um gênero de duende, chamado de
Alp-Luachra pelos irlandeses que foi apelidado de "Comensal", que permanece
sentado e invisível junto de sua vítima e comparte com ele seus alimentos,
nutrindo-se da essência ou quintaessencia do que o homem come, por isso que esse
segue magro como uma graça, não obstante seu apetite devorador.
William Hendersom em suas "Notes on Folk-Lore of
the Northen Counties of England and the Borders" (1879), também nos conta como o
"Kow" adorava perturbar a vida no campo, pois se dizia que imitava
constantemente a voz dos apaixonados das moças e assustar os que a noite iam
passear.

FADAS SOLITÁRIAS

Por regra geral, as fadas solitárias são seres
malignos. Uma exceção é o "Brownie" e suas variantes, embora haja alguns grupos
familiares entre os bownies, Meg Moulach com seu filho Borwnie-Clod são bem
sinistros.
As fadas solitárias, a maioria das vezes, aparecem
vestidas da cor vermelha, enquanto que as que vivem em grupos chegam de verde.
A lista das fadas solitárias inclui o Lepracaun,
outro exemplo de espírito separado da humanidade.
A estreita ligação do Mundo das Fadas com as
plantas, é explicado através das pragas que as vezes destroem uma colheita
inteira. É bem provável que essas devastações sejam castigo de alguma
transgressão humana.

MORALIDADE DAS FADAS

A atitude das fadas em relação aos humanos têm uma
inclinação extremamente moralista. Contam que, no que a elas se refere, ditam
elevadas normas de ordem para os lares humanos a serem visitados, enquanto que
proíbem a existência dos olhos humanos quando o fazem. Elas castigam todo e
qualquer intento de espiá-las ou qualquer tipo de violação de sua intimidade.
As fadas gostam de seres humanos alegres e
generosos e sentem especial simpatia pelos apaixonados. A falta de generosidade,
rudez e o egoísmo, desagradam muito as fadas populares. Também lhes desagradam
os indivíduos sombrios.
As fadas da colina Irlandesa amam com paixão a
beleza e o luxo e sentem absoluto deprecio pela avareza e a economia. Em suas "Leyendas
antigas de Irlanda", Lady Wilde abomina abomina de mão fechada e pão-duro todo
aquele que recolhe até o último grão e arranca até a última fruta da árvore, sem
deixar nada para os espíritos que vagam à luz da lua.
Um dos traços mais notáveis das fadas é seu grande
interesse pela limpeza e costumes ordenados. Esperam encontrar as chaminés que
visitam bem varridas, um bom fogo, água clara e fresca para beber e banhar
seus bebês, leite, pão e queijo.
A honradez e o cumprimento das promessas, são
sempre motivo de respeito, assim como a formalidade e a bondade são
recompensados com a boa sorte. Chambers nos conta em seu "Ppular Rhymes of
Scotland", a história do "O Senhor de Colzean":
"Um dia o Senhor de Colzean Castle se dirigia para
sua casa quando lhe acercou um homem com uma pequena vasilha pedindo um pouco de
cerveja para sua mãe anciã, que estava enferma. O Senhor chamou seu mordomo e
ordenou que enchesse a vasilha até as bordas. O empregado assim fez, porém
esvaziou todo um barril e a vasilha encheu até a metade. O mordomo perplexo,
mandou perguntar o que devia fazer. O Senhor disse:
-"Prometi encher a vasilha e a encherei, mesmo que
para tanto tenha seja necessário toda a cerveja de minha bodega."
Sendo, assim, o mordomo abriu outro barril e só
com uma gota a vasilha ficou cheia. O pobre homem agradeceu e desapareceu.
Anos mais tarde, o Senhor foi lutar nos Países
Baixos e foi feito prisioneiro. Estava na prisão quando uma porta se abriu e
apareceu um ser feérico, que o transportou até seu castelo."
Entretanto, todo aquele que recebe as graças das
fadas, não deve falar delas, já que seu protocolo exige segredo. Por mais
estranho que pareça, a conduta que se deve seguir para manter as relações
amistosas com as "boas vizinhas", não só proíbe que se revele a ajuda ou os dons
a outros mortais, senão também toda a expressão de agradecimento.
Um dos contos mais correntes dos tempos isabelinos
até hoje é o dos mortais agraciados pelas fadas, que receberam dinheiro dessas,
prometendo não revelar sua origem. Uma história dessas está registrada nos
arquivos da "School of Ascottish Studies", como "Dinheiro feérico" e conta
também Seán O'Súilleabhaín em "Folktales of Ireland". A intimidade das fadas
deve ser respeitada inclusive pelos transeuntes. Em Ulster, o povo evita os
caminhos feéricos, especialmente nos primeiros dias do trimestre, que são os
dias em que fadas costumam mudar-se.
O regozijo, a alegria, a música, a dança e o bom
companheirismo são coisas agradáveis para as fadas que podemos chamar de Corte
Bendita.
Acredito nas fadas, não porque as tenha visto, mas
porque elas são muito necessárias para que o mundo não se perca no pragmatismo e
no cotidiano, que lentamente mata nossas fantasias e ilusões. São as fadas que
nos fazem descobrir que também temos alma e ela faz parte de uma alma universal
e ainda, nos fazem recordar que somos algo mais do que simplesmente máquinas de
produzir e consumir.

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO


