SOBRE OS CONTOS DE FADAS

 SOBRE OS CONTOS DE FADAS


Tolkien nos entregou para posteridade um entretenimento opúsculo titulado "Sobre os contos de Fadas". Nele, o autor de "O Senhor dos Anéis" nos guia através da cultura e da literatura para conhecermos melhor os contos de fadas. Assim, aprendemos que a denominação "conto de fadas" nasce no século XVII para definir aqueles contos protagonizados por fadas ou que tem um componente fantástico.

Antes de tudo diremos que os contos de fadas são histórias narradas que protagonizam fadas, elfos, gnomos e outros seres fantásticos. As vezes também aparecem princesas, príncipes ou animais fantásticos, onde forçosamente vemos a presença das fadas.

O primeiro livro que encontramos contos de fadas é uma obra intitulada "Contes de fées" (Contos de Fadas) publicado em 1697 e cuja autora foi Madame D'Aulnoy (1650-1730). Essa apaixonada mulher passou vários anos viajando pela Espanha e Inglaterra antes de instalar-se definitivamente na sua França natal. Se diz que nela se inspirou Alejandro Dumas para criar o personagem de Milady em "Os três Mosqueteiros". D'Aulnoy era uma refinada narradora. Como sua primeira coleção de contos foi muito bem aceita publicou uma segunda chamada "Contes nouveaux ou les fées a la mode" (Contos Novos ou as Fadas da Moda).

Nesta segunda obra há alguns contos que não estão protagonizados por seres mágicos e são inadequados para um público infantil.

Mais ou menos na mesma época, os famosos contos de Charles Perrault (1628-1703) haviam sido publicados com grande êxito em uma obra intitulada "Contos da Mamãe Ganso". Perrault recolhe da tradição oral diferentes histórias e lhes acrescentou uma matiz moralizadora.

Tanto Perrault como Madame D'Aulnoy iniciaram um novo estilo com a literatura de contos da fadas, porém estes filhos do século XVII não puderam escapar ao espírito moralista que lhes invadia. Porém isso mudará nos séculos seguintes.

Durante o romantismo, os contos (de fadas ou de outros estilos) cobraram maior protagonismo. Se antigamente tinham um fim moralizador, agora se buscava nos contos fixar a memória popular, manter o espírito do povo. Com essa visão dois irmãos alemães chamados Grimm iniciam sua viagem até um mundo fantástico e arcaico que só tinha sobrevivido na memória dos mais anciões.

Dos dois irmãos, Jacob Grimm (1785-1863) se utilizou de seus conhecimentos de filosofia para recuperar os contos alemães que viajavam através da tradição oral. Seu irmão, Wilhelm (1786-1859), foi quem deu um estilo poético refinado e de grande beleza aos relatos. Boa parte desse trabalho conjunto foi publicado no livro "Kinder und Hausmärchen" (Contos para a infância e o lar) publicados em dois volumes entre 1812 e 1815. A coleção foi ampliada em 1857 e se conhece popularmente como "Contos de Fadas dos irmãos Grimm". Os Grimm nos presentearam com obras tão inováveis como "Branca de Neves e os sete anões" e Hänsel e Gretel. Recuperaram da tradição popular estes contos fantásticos, porém se sabe que muitas ocasiões alteraram seu conteúdo. Eliminaram sua violência e modificaram o final para que sempre triunfasse o bem.

CONTOS DA TRADIÇÃO CELTA

fada

Ao longo do século XIX os contos de fadas foram tomando uma forma mais definitiva. Os contos passaram a pertencer ao mundo infantil e se elaboraram preciosos contos ilustrados. Um dos mais conhecidos autores foi o escocês Andrew Lang, que resgatou ao modo dos itmãos Grimm contos de fadas populares. Como eles compilou uma importante coleção de livros: "O Livro vermelho das Fadas, O Livro laranja das Fadas, etc.", e assim até completar oito livros cheios de cores e aventuras.

Os contos de fadas da tradição celta contêm interessantes elementos mitológicos das antigas religiões que povoaram a Europa. E há que destacar a gigante figura do irlandês e prêmio nobel de literatura William Butler Yeats. Segundo contam, Yeats estava predestinado a nascer na terra mítica dos duendes e das fadas, seres que cativaram toda sua vida.

O jovem Yeats cresceu na Irlanda e logo deixou os estudos de pintura para aproximar-se da literatura. Ao mesmo tempo iniciou sua caminhada pelo lado mais misterioso da vida contatando com a Sociedade Teosófica e inclusive chegando a ser membro da ordem hermética de Golden Dawn.

Em seu livro "O Crepúsculo Celta", Yeats explica uma história que resume muito bem sua vida. Segundo conta, um dia estava passeando com um amigo e uma jovem que se dizia médium. Enquanto conversavam animadamente sobre o mundo das fadas chegaram até a entrada de ma gruta e se detiveram. Yeats lhes explicou que no fundo daquela gruta viviam fadas e propôs a jovem médium tentar estabelecer contato com elas.

A jovem aceitou o pedido e se concentrou até cair adormecida. Pouco a pouco ela foi narrando o que sentia: convesas, músicas, pisadas.... Segundo explicou ouvia desde as profundezas da gruta a presença das fadas, que se aproximavam alegres e dançavam ao som de uma música desconhecida para ela. Yeats pediu para que visse a Rainha das Fadas, porém seu pedido não obteve nenhum resultado, enquanto a médium disse que havia outra figura, uma mulher alta e bela. O próprio Yeats caiu em transe e chegou a ver uma maravilhosa mulher de cabelos escuros portando jóias de ouro. As perguntas se sucederam, até que a fada se cansou dos arrogantes humanos e suas perguntas e disse: "Tenham cuidado e não tentem averiguar demasiadamente sobre nós." Naquele momento Yeats se deu conta de que a havia ofendido e o encanto se rompeu.

CONTOS MÍTICOS DA VELHA EUROPA

Para Tolkien os contos de fadas existem desde o momento que se criou a palavra "fada". Para o ilustre escritor de fantasia, junto com as fadas nasceram suas histórias. O que nos diz Tolkien é que as fadas nos explicam feitos reais misturados com elementos mágicos; através delas podemos entender o mundo. Se tivéssemos uma máquina do tempo e regressássemos a um passado celta poderíamos ver que as histórias das fadas não são para crianças, mas sim uma verdade revelada.

Na antigüidade mais remota era através dos mitos que se podia explicar a realidade. Aquelas histórias não tinham um caráter moralizador ou de entretenimento, mas sim, eram histórias sagradas. O ser humano da antigüidade  percebeu que as pessoas se regiam por um destino, uma força invisível que os empurrava a ter um tipo de existência e da qual não podiam escapar.

O PORQUÊ DOS CONTOS DE FADAS

Vivemos rodeados de símbolos e os contos e mitos são parte desse conjunto de tradições que nos acompanham. Falam daquilo que é primordial na vida do ser humano e nos contam sobre experiências frustradas e sobre os acertos, porém sobretudo nos relatam a aventura da experiência. Alude a nossa visão mágica, a história mágica do que homem que discorre em paralelo com as demais histórias (religiosa, filosófica, literária, etc.).

É como se a humanidade tivesse várias vidas que ocorrem paralelas, uma aparece na história, outra, nos dados econômicos; outra é a que podem contar sobre nós quem nos tenha conhecido e outra é a que imaginamos e que tem contida todas as tradições, os mitos, os contos e como também nossos próprios contos, nossos próprios relatos como indivíduos. Sabia que há relatos de contos de fadas que possuem versões distintas em múltiplas tradições e culturas diferentes? Isso acontece.

Alguns feitos superficiais mudam, porém a essência se trata do mesmo processo com suas variantes culturais. Como se houvesse uma massa de pão e logo assume diferentes formas e sabores segundo o lugar onde ele é feito e de acordo com uma tradição gastronômica particular.

O primeiro em dar-se conta do valor dos contos e dos mitos foi Carl Gustav Jung. E foi o primeiro a falar de um inconsciente coletivo, de uma criatividade global. Todos e em todas as partes do mundo, teremos uma narração sobre o lar, a família, a mãe, o pai, o amor, o perigo,etc. São essas palavras que não trocam de matiz mesmo pronunciadas em idiomas diferentes, porque mais que palavras refletem uma idéia profunda e uma idéia do mundo.

Com efeito, segundo Jung, os contos populares são expressões do inconsciente coletivo, esse fundo comum que compartilham toda a humanidade. a partir dessas maravilhosas histórias podemos tomar consciência de diferentes aspectos criando pontes entre o inconsciente e o consciente, entre o que se vê e o que não se vê, entre nosso exterior e nosso interior.

Estas pontes facilitam as tarefas, tornam as coisas mais fáceis e nos ajudam para que não tenhamos que bater a cabeça contra muros indestrutíveis, para que as mulheres não transformem príncipes em sapos, mas sim que assumamos a nossa princesa mais completa, mais madura e mais libre. Desde que se descobriu que a imaginação humana pode servir-nos para nos conhecermos melhor como pessoas se abriram muitas portas.

Muitos antropólogos e psicólogos se deram conta de que os contos nos servem como um espelho graças a sua linguagem simbólica e a sua globalidade. E desde os últimos cinqüenta anos mais ou menos, se segue investigando essa linha.

Hoje em dia os contos e mitos são usados como um meio para curar tanto alma como o corpo.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia:

La Magia de las Hadas - Emerald O'Callaghan

Fairies - Anna Franklin

El Mágico Mundo de las Hadas - Roberto Rosaspini

El poder de las hadas - George Guzmán\vc