CAURÉ, A AVE DA FORTUNA

 

               

Os nossos ancestrais índios, consideravam certas aves como entes de forças superiores e atribuíam-lhes especial devoção, admitindo a existência de um poder que se comunicava à pessoa que os possuísse.

Nesta crença que se fez tradição, tomam vulto um pássaros: o cauré, um  rapineiro escuro (falco rufigularis), que tem as asas inferiores com pontos brancos, a cabeça grande, os olhos extremamente vivos e o porte esbelto dos falcões. Revela tanto no seu porte a nobre origem que tira da mais alta linhagem da família dos falconídeos, como no esporte que ele cultiva na caça de andorinhas, reservado a maestria excepcional na arte de voar destes nobres salteadores. Há naturalista que acrescentam que o cauré atira-se em qualquer pássaro de vulto como o mutum, não temendo nem o gavião real. Persegue-os no seu vôo e introduz-se sob as asas, onde se agarra e vai devorando-os até caírem.

Em todo o Brasil há ciclo de lendas em torno deste pequeno gavião.

Entre o povo da Amazônia, o cauré é um símbolo de fortuna e felicidade doméstica a que muitos aspiram. Com extrema rapidez, passeando pelo ar ele arranja tudo que necessita para o seu ninho. Nada lhe escapa ao bico. Sem suar, nem fadigar, arranja num rápido passeio pelo ar tudo que lhe for preciso para sua casa, que cresce da noite para o dia. 

 Pode haver criatura mais feliz do que o cauré, do qual mesmo dormindo seus haveres aumentam, enquanto que os outros tem de se cansar nas labutas da vida cotidiana? Esta é a razão pela qual muita gente procura usar como talismã, pedaços de seu ninho, considerado chamariz de fortuna.

Na bacia do Prata, conta-se que nosso falcão, quando grita ou olha do alto, todas as aves que estão ao alcance de sua voz estremecem e não conseguem fugir. Conta-se que esta ave exerce um fascínio muito grande e as outras aves atraídas como por um ímã, encaminham-se para ele, pulando de galho em galho até chegarem ao falcão que as espera imóvel. Deste modo sempre lhe foi conferida a virtude de atrair pessoas e coisas.

 

Uma crença antiga, era que quem possuísse um cauré, ou mesmo três penas de sua asa, tudo lhe correria bem. Não tardará em ser um homem venturoso possuidor de terras, em tirar sorte grande, se costuma comprar bilhetes de loteria. Todo comerciante deve guardar na mais alta das suas prateleiras do seu negócio um pacote contendo as milagrosas penas do cauré, para aliciar irresistivelmente grande número de fregueses. Já as jovens que procuram um namorado, não deixam de recorrer a este mágico atrativo, aos seus olhos, talvez mais poderoso do que Santo Antônio.

 Mas, entretanto, não é tarefa fácil, conseguir tal amuleto. O cauré não freqüenta centros populosos e esconde-se nas selvas mais virgens, o que torno difícil apanhá-lo. É uma lástima, pois se houvesse mais à mão o cauré, talvez todos os desejos seriam cumpridos e com a devida magia, o vocábulo "solteirona", seria riscado do dicionário. 

Texto pesquisado e desenvolvido por

 

ROSANE VOLPATTO

Bibliografia consultada

As Amazonas - Fernando G. Sampaio

Indiologia - Angyone Costa, Biblioteca Militar, 1943.

Migrações e Cultura Indígena - Angyone Costa, Comp. Ed. Nacional, Brasiliana. 1939

O Selvagem - Couto de Magalhães. 4 Ed. Brasiliana

 

 

 

 

 

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