CARMEN MIRANDA, A DEUSA DO SAMBA

“A portuguesinha que o Brasil adotou, desfilou sua arte em Hollywood, onde exibiu a veia moleque e cômica que viria a caracterizar o samba moderno”.

 

Tchica tchica bum! As butiques da Quinta Avenida, em Nova York , empurram as coleções da moda parisiense para o fundo das prateleiras e abarrotam as vitrines com saias rodadas, turbantes coloridos, balangandãs e tamancos. É o triunfo do estilo exuberante de Carmen Miranda, a cantora e atriz brasileira convertida em estrela de Hollywood.

 

A “Pequena Notável” (tinha 1m53cm) fora convidada a trabalhar nos Estados Unidos como parte da política de boa vizinhança do presidente Franklin Roosevelt. Acabou por revelar-se um fenômeno autêntico. Já no primeiro filme, “Serenata Tropical” (1940), bate recordes de bilheteria e recebe da imprensa americana o epípeto “Brazilian Bombshell” (Brasileira Explosiva). Cinco anos depois, com o nome impresso na Calçada da Fama, é a mulher mais bem paga do país, à frente de Greta Garbo, Bette Davis e Lana Turner.

Foto: Carmen Miranda deixa a sua marca no passeio da fama. 

Revirando os olhos, imprimindo duplo sentido em cada letra do samba, rebolando e gesticulando fartamente, ela aparece nas telas cantando mais com o corpo do que com a voz. Durante 15 anos e 14 filmes, essa imigrante portuguesa grava o Brasil no imaginário mundial como a terra da alegria transbordante. Ao mesmo tempo, ajuda a difundir a imagem da república das bananas caricaturalmente atrasada.

 

Carmen, entretanto, não é só trejeitos, frutas na cabeça, roupas esquisitas e balangandãs. Até seu aparecimento, todos os cantores cultivavam um mofado estilo napolitano. Dotada de grande senso rítmico, ela introduz em suas gravações a sua veia moleque e cômica que caracterizaria o samba moderno. Estoura aos 21 anos, com a marchinha “Pra Você Gostar de Mim” (Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim...). 

Sucessos como “Na Baixa do Sapateiro”, “O que é que a Baiana tem?” e a picante “Eu dei” consolidam-na como artista mais popular do país.

 

Depois da transferência para os Estados Unidos, Carmen faria três viagens marcantes ao Brasil. Na primeira, em 1940, é recebida triunfalmente pelo povo e desfila em carro aberto pelo Rio. Na segunda, chega quase às escondidas e passo um mês trancada no hotel, sem ver os amigos. É 1954, e ela está com os nervos em frangalhos. Amargurada por um aborto, infeliz no casamento e esgotada pela rotina de shows e filmagens, entrega-se ao álcool e às drogas. Internada e submetida a choques elétricos, vem ao Brasil para um tratamento de desintoxicação.

 

A terceira viagem marcante ocorre no ano seguinte. Horas depois de participar de um programa de TV, Carmen aparece caída no banheiro da sua mansão em Beverly Hills , ainda maquiada e com um espelho quebrado nas mãos. Aos 46 anos, sofrera um ataque cardíaco. Seu corpo é recebido com comoção no Rio. Os jornais garantem que 1 milhão de pessoas, vindas de todos os cantos do território nacional, acompanharam o cortejo fúnebre. Sobre o seu túmulo, o epitáfio:”Taí, eu fiz tudo pro Brasil gostar de mim”.

Texto de

Rosane Volpatto