CARLOS GOMES, O MAESTRO IMORTAL

“O garoto nascido em Campinas cresceu com a
música, viveu dias de glória como compositor na
Itália e deparou com a dor da desilusão no fim
da vida.”
A vida do maestro Antônio Carlos Gomes poderia
ser contada em uma ópera.
O espetáculo iniciaria com o próprio compositor
entoando, na sua voz de tenor lírico, o final
melancólico em Belém: separado da mulher,
arruinado pelas dívidas, com a mesada oferecida
por Dom Pedro II cortada pelos republicanos, ele
aceita dirigir o Conservatório Musical do Pará.
Muda-se para o Norte brasileiro, mas não assume
o cargo, pois morre antes, aos 60 anos, pobre
mas orgulhoso por ter recusado o convite do
Marechal Deodoro para compor o Hino Nacional.
Jamais poderia trair a amizade do imperador
deposto.
Nos transportando da velhice para a infância de
Carlos Gomes, encontraríamos Tonico ávido por
tocar na banda que o pai rege em
Campinas. Como é muito pequeno,
só o deixam marcar o compasso. Passa então a
estudar todos os instrumentos, para poder
substituir os músicos ausentes. Um tempo mais
tarde, poderíamos vê-lo chegando ao Rio com um
maço de composições sob o braço, para receber do
imperador elogios calorosos e uma bolsa de
estudos em Milão.
Na cena seguinte, veríamos Carlos entregando as
cartas de Dom Pedro II ao maestro Lauro Rossi,
diretor do Conservatório de Música italiano.
-“Suas recomendações são excelentes, mas você
tem 28 anos. Já passou do limite da idade de
matrícula. Não posso aceita-lo”, argumenta
Rossi.
Carlos sente o sangue tamborilar nas têmporas.
Que vergonha! Que dirão seu pai, o imperador, os
amigos, os adversários?
-“Não sei o que fazer, maestro. Não posso voltar
para casa e dizer que fui recusado”, entoa.
Rossi lança-lhe um olhar simpático,
decidindo-se:
-“Então fique como meu discípulo particular”.
Depois de um intervalo, o segundo ato da ópera
principiaria com o momento mais esfuziante da
carreira de Carlos Gomes. Sua primeira montagem
italiana, “O Guarani”, é apresentada no Teatro
alla Scala. A platéia prorrompe em aplausos,
chama o maestro ao palco e atira-lhe flores.
Viriam a seguir, parlandos e recitativos
feéricos. Acompanharíamos então, Carlos
produzindo várias óperas e sendo aclamado como
um mestre do gênero. Ganhando rios de dinheiro,
ele constrói uma mansão à beira do Lago Lecce.
Durante toda a década de 1870, só Verdi possui
mais obras encenadas em Milão, cidade onde 200
maestros compositores lutam por um espaço.
Entretanto, em um momento seguinte, Carlos Gomes
já começa a desperdiçar sua fortuna, contraindo
inúmeras dívidas. Para completar este momento
negro de sua vida, então sucede-se a cena mais
dramática: Carlos descobre que é traído pela
mulher, a pianista Adelina Peri. Atirando os
pertences da adúltera pela janela, ele foge com
seus três filhos. Mas, o caçula, de quatro anos,
que já apresentava saúde debilitada, não resiste
e morre.
O ato final de nossa ópera poderia ser
ambientada com os dias atuais: em uma cidade
qualquer da Itália, o barítono senta em uma
mesinha, diante da Piazza Carlos Gomes e pede um
Caffé Guarany, ainda hoje um dos mais famosos no
país.
OBRAS:
O Guarani (1870)
Colombo (poema sinfónico-1892)
A Noite do Castelo (ópera-1861)
Joana de Flandes (ópera-1863)
Fosca (ópera-1873)
Salvador Rosa (ópera-1874)
Maria Tudor (ópera-1879)
Lo Schiavo (ópera-1889)
Condor (ópera-1891)

Texto pesquisado e desenvolvido por
ROSANE VOLPATTO
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