O UNIVERSO ASTECA

As culturas bem organizadas projetam construções explicativas de mundo que passam a dirigir os modelos de conduta, dando sentido à sua existência e promovendo a coesão do corpo social. A elaboração de um imaginário social é inerente ao bom funcionamento material e mental de qualquer sociedade. Para os astecas, os deuses que trafegam neste imaginário social desempenham um papel explicativo de mundo muito importante. Os deuses são revividos ritualmente no intuito de se conhecer a origem das coisas, permitir a dominação e manipulação da natureza e exercerem a função de paradigma de todos os atos humanos significativos.

O povo asteca era politeísta e muitas de suas divindades estavam relacionadas com os elementos naturais: A ÁGUA, A TERRA, O FOGO, O VENTO, A LUA, etc, elementos que lhe impingiam um grande medo. Os astecas eram um povo de camponeses e guerreiros e seu panteão refletia estes aspectos.

A dificuldade de se entender a mitologia asteca é em virtude da pluralidade dos deuses e a diversidade das atribuições de um mesmo deus. Mas, toda a gênese da religião asteca está embasada no princípio ambivalente: masculino, feminino.

 

O tempo para os astecas era cíclico, igual à várias outras culturas que surgiram e desapareceram.

A cosmogonia mexicana narrava que havia existido outros mundos, antes do presente: quatro sóis, cada um com um tipo específico de habitantes. Mas todas estas civilizações haviam sucumbidos devido a diferentes cataclismos. 

PRIMEIRO SOL

Esta idade foi a primeira e a mais remota das quatro eras cosmogonicas durante a qual viveram homens gigantes criados pelos deuses. Estes seres cultivavam a terra, moravam em cavernas e se alimentavam de raízes e frutos silvestres. Entretanto, foram atacados e devorados por jaguares. Esta época remonta a da Era Quaternária, pois foram encontrados fósseis de animais enterrados em grutas. Provavelmente os indígenas ao descobrirem estes fósseis os confundiram com restos mortais de homens de avantajado tamanho. O final desta era ocorreu no dia NAHUI OCELOTL (4-jaguar). O símbolo desta era é uma cabeça de jaguar.

Deus regente: Tezcatlipoca

SEGUNDO SOL

 A destruição desta era se deu através de fortes ventos. Os deuses converteram os homens em macacos para que pudessem subir nas árvores e não fossem carregados pelos furacões de ventos. Esta época foi presidida por QUETZALCOATL, deus do vento. O símbolo desta era é uma cabeça onde se sobressai um bico de pato com o qual este deus sopra o vento sobre os campos. A idéia de ventos fortes se originou entre os astecas em conseqüência dos bosques destruídos por tempestades que encontraram e pela abundância de macacos que havia nestes lugares. A humanidade sucumbiu no dia NAHUI EHECATL.

Deus regente: Quetzalcóatl

TERCEIRO SOL

Uma chuva de lava pôs fim ao terceiro sol, período presidido pelo deus do trovão e dos raios, Tatloc. Esta terceira era finalizou no dia NAHUI QUIAHUITL (4-chuva). Os deuses transformaram então, os homens em aves para salvá-los. Os astecas justificaram sua crença ao identificarem muitos sinais de atividade vulcânica e ao descobrirem restos mortais humanos soterrados nas suas lavas e cinzas.

Deus regente: Tlátoc

QUARTO SOL

O quarto símbolo dos Sóis Cosmogonicos que está esculpido no calendário asteca evoca a ATONATIUH o Sol de Água e representa a deusa CHALCHIUHTLICUE, esposa de TLATOC, deusa dos mares, rios, lagos e da quarta era. A humanidade é destruída pela quarta vez., agora no dia NAHUI ATL (4-água), em decorrência de tempestades e chuvas torrenciais que inundaram toda a terra firme, cubrindo até o cume das montanhas mais altas. Os deuses transformam então, os homens em peixes para salvá-los do dilúvio. O descobrimento que os astecas no altiplano mexicano de diferentes espécies de fauna fossilizada deram origem a esta lenda.

Os astecas identificavam o Sol como uma águia que quando pela manhã aparecia no firmamento tomava o nome de CUAUHTLEHUANITL (ÁGUIA QUE ASCENDE) e à tarde, quando se ocultava, a chamavam de CUAUHTEMOC (ÁGUIA QUE DESCENDE).

Deusa regente: Chalchiuhtlicue

O QUINTO SOL

Depois da destruição dos quatro Sóis os deuses decidiram criar uma nova Época que é o QUINTO SOL e é a que estamos vivendo agora.

Reza a lenda que, quando a última catástrofe ocasionada pela abundância de chuvas, o Quarto Sol se perdeu. Os deuses consternados se reuniram em Teotihuacan com a finalidade de criar um Novo Sol para dar vida à Terra. Para o nascimento do Quinto Sol era necessário sacrificar um deus, para o qual se ofereceram dois deles"um rico e poderoso e outro pobre e enfermo. Ambos fizeram oferendas para o Pai dos deuses. Lógico que as oferendas do deus rico foram maiores e mais pomposas que as do deus pobre. Iniciou-se então um período de penitência que durou 4 dias. No quinto dia todos os deuses se posicionaram na borda do precipício onde estava o braseiro do grande fogo sagrado. Era hora do sacrifício e o deus rico foi o primeiro que tentou lançar-se ao fogo, mas temeroso não conseguiu concluir seu intento. O deus pobre e doente entretanto, não tendo nada a perder, fechou os olhos e lançou-se ao fogo. Caiu bem no centro e levantou-se então, uma chama enorme que o consumiu. O deus rico, arrependido, joga-se na pequena fogueira que havia sobrado e também foi consumido.

O deus pobre se converteu no Quinto Sol e o rico na Lua. Os demais deuses se transformaram nas estrelas que povoam o firmamento. Foi desta forma representado pelos antigos astecas o nascimento dos astros do Quinto Mundo.

O quinto e atual Sol está destinado a desaparecer num grande terremoto, após o qual os monstros do oeste surgirão para matar todos os seres humanos.

Deus regente:Tonatiuh

Estamos hoje no final de mais um ciclo planetário, segundo a visão das tribos nativas remanescentes. Segundo suas profecias o Sexto Sol está próximo e:

"Na era do sexto sol tudo o que estará escondido será revelado. A verdade irá ser a semente da terra, e os filhos do sexto sol serão aqueles que viajarão pelas estrelas”.

 

O universo, segundo os astecas, se concebia no sentido religioso, de acordo com a geografia e se dividia em horizontal e verticalmente.

O universo horizontal reconhecia cinco direções: as quatro dos pontos cardeais e o centro.

Na zona central era governada pelo deus do Fogo. Tláloc e Mixcoatl, o deus das nuvens, estava situado no Oriente e era a região da abundância, a fértil região de Veracruz, fonte das chuvas da estação.

O sul era considerada a região do inferno, ocupada pelas áridas zonas de Morelos e Puebla, enquanto que as deidades protetoras estavam associadas às flores: Xipe e Macuilxóchitl.

Quetzalcóatl, a serpente emplumada, era o deus da sabedoria e se relacionava com o Ocidente, que tinha um significado favorável. Mictlantecuhtli, deus da morte, governava a região norte, considerada uma região sombria e terrível. As vezes também estava relacionado com o sul.

Já o mundo vertical se dividia em paraísos e infernos e não tinha significação moral. Havia treze paraísos, considerados casa dos deuses, de acordo com alguns traços ou hierarquia. De cima para baixo, dominava o éden superior ou criador original. Tláloc vivia em um desses céus e recebia os que morriam afogados, ou por outras causas relacionadas com água ou ainda, fulminados por um raio. No submundo ou Mictlám, iam parar a maioria dos mortos.

Para a grande viagem, que durava quatro dias, iam providos de amuletos e obséquios.  Não era um caminho de rosas e tinham que vencer antes vários obstáculos. O viajante cruzava entre duas montanhas que ameaçavam achatá-lo, tinha que escapar de uma serpente e um crocodilo, cruzar oito desertos, subir oito colinas e suportar um vento gelado que lhe jogava pedras e facas de obsidiana. Depois de chegar à um longo rio, deviam atravessá-lo sobre um pequeno cão vermelho. Esse animal deveria ser enterrado com ele junto à outros objetos funerários e quando alcançasse a meta final, o Senhor dos Mortos recebia os presentes que levava. Este Deus, depois o enviava a uma das nove diferentes regiões.

Bem ou mal, noite ou dia, os astecas acreditavam nos grandes deuses do céu e em seu grande desempenho nesta dualidade de seu mundo: sempre houve aqui uma eterna guerra simbólica entre a luz e a escuridão, o calor e o frio, o norte e o sul, o sol do levante e do poente. Agrupadas em exércitos do Oriente e Ocidente, as estrelas também participavam dos ritos. Nessa guerra a morte, a filosofia, criou as grandes ordens guerreiras, a dos Cavaleiros Águia de Huitzilopochtli e os Cavaleiros Jaguar, do deus Tezcatlipoca: aqui havia um conflito permanente entre o dia e a noite. Essa guerra sagrada dominava o rito e a filosofia da religião asteca.

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO