A ÁRVORE QUE CHORA

 

 

Foi Felix Contreiras Rodrigues que divulgou esta lenda em seu livro "Memórias de um cavalo":
 
 
 
"Cavalhada grande, com anheiros, se arrebanhou e domou pela Vacaria. Ao passo que ficavam para traz as coxilhas daquele chapadão, a coluna avançou até o Mato-Português. Foi aí que outro fenômeno deixou embasbacado. Se não sabiam, aprendam agora. Vi em Cima-da-Serra uma árvore que chora; mas chora tanto que suas lágrimas parecem uma garoa e chegam a molhar quem está em baixo.
 
General-Prosa gritou um soldado ao Bentico velho.
General-Prosa, venha explicar este milagre de uma árvore que chora.
 
Naquela zona o velho Tico era mesmo general, porque era o seu chão, e podia dar letra.
 
- Quem chora, chora mesmo, como você está vendo. E chora para que na terra dos Birivas não falte nada. Vocês não viram um baile de passarinhos? Aquilo significa a alegria dos serranos, ensinada por Deus e pelos seus bichos. Mas, como nós também devemos ter tristezas, o mesmo Deus nos ensina a chorar, dando por exemplo, esta árvore. Lá, no Antas vínhamos tristes e desanimados. Nosso Senhor nos deu a idéia da alegria. Aqui vamos alegre, porque até roupa já temos arranjado de couros de animais de toda espécie; por isso Ele nos mostra que perto pode e o sofrimento. Não é bom sinal, companheiros este choro. Até convinha que se fizesse uma bruxaria para tirar o quebranto da nossa marcha. Como Biriva, eu conheço uma.
 
- Pois que saia, gritou um dos presentes, antes que este arvoredo, comece a lacrimejar a uma enchente venha cobrir estas canhadas.
 
A indiada riu-se a bom rir, e o General-Tocaio gritou:
 
- O mais moço da roda que se apresente.
 
Silêncio geral.
 
- Quantos anos tem? perguntou o Biriva ao que lhe pareceu mais moço.
 
- Pelas contas que faço, tenho vinte e cinco. Nasci um ano da guerra do Artigas.
 
- E você, companheiro, dirigindo-se a outro guerreiro desempenado e jovem.
 
- Também nasci nesse ano, e por sinal lá no acampamento de São Gabriel.
 
- Trancaram-se dois nas tronqueiras, gritou alguém. E agora quem sai primeiro?
 
- Que venham os dois para baixo da árvore, desencantar o mato.
 
- Muito bem, muito bem, gritaram os do grupo. Que se banhem os dois mais moços.
 
- Com isso perdem a morrinha.
 
- Se for água de cheiro, retrucou um barbado de chapéu na nuca e testa grande: porque morrinha de guerreiro dá para empestar uma lagoa.
 
Enquanto isso, os outros do magote foram empurrando os dois moços para baixo da árvore chorosa.
 
- Já podem dizer que se banharam em chuva que não vem do céu.
 
- Água de folhas é chá, disse um dos rapazes do banho. Pois que tome desse chá o mais velho de nós.
 
- Isso, sim seria quebrar o quebranto que vem por diante.
 
- Agora toca a vez do velho Tico.
 
- Não é capaz, contestou o velho Bento, bruxo não bebe chá que faz para os outros; nem um farrapo velho agüenta chás.
 
- Que não me trago, gritou o tal barbado de testa grande. Pena não ter aqui o meu frasco de canguara, para dar-lhe uma bicota à saúde desta largada.
 
- Farrapo não agüenta chá nem de casca de vaca, nem de árvore que chora, repetiu altivo o Biriva, ao mesmo tempo que se ouviram os primeiros sons do clarim.
 
- Encilhar, companheiros, encilhar e tocar para diante!"
 
 
 
Em São Paulo também há uma lenda que faz referência a existência de uma "ÁRVORE DAS LÁGRIMAS", que localizava-se partindo-se de S. Paulo a Moinhos e ao Cubatão. Era uma "figueira brava",  chorava para advertir aos viajantes a necessidade da separação dos amigos. A árvore, marcava o cenário comovida com os "adeuses".
"ÁRVORE DAS LÁGRIMAS", como ficou conhecida pelo povo, que a tudo gosta de colocar uma apelido.
 
 
"Árvore que chora" não é milagre e pode ser ataque de cochonilhas, pulgões, cigarras e cigarrinhas. Como estes insetos sugam continuamente a planta, o "choro" pode ser demorado.

Folha amarelecendo e com "casquinhas" grudadas é quase sinal certo de ataque de cochonilhas. A presença de formiga louca por substância adocicada pode ser resultado da presença destes sugadores e a formação de um "pozinho escuro", denominado fumagina, também é indicação de ataque dos sugadores.
 
Independente do conhecimento das verdadeiras causas que fazem nossas árvores chorarem, o brilho das lendas sobre elas jamais se apagará.
 
 
Texto pesquisado e desenvolvido por
 
ROSANE VOLPATTO
 

 

 

 

 

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