ARIADNE,
SENHORA DOS LABIRINTOS

Ariadne
era filha do rei Minos de Creta, que apaixonou-se a primeira vista pelo herói
Teseu. Este, era filho de Egeu, rei de Atenas e de Etra, que havia nascido em
Trezendo e desde muito cedo revelou grande valor e coragem. A estória é mais
ou menos assim:

Houve
uma época, que os atenienses eram obrigados a pagar um tributo ao rei Minos.
Tal fato deveu-se ao assassinato de Androgeu, filho de Minos, que ocorreu depois
de ter vencidos os jogos. O rei, indignado com o fato, impôs aos atenienses
severo castigo. Eles deveriam, a cada ano, enviar sete rapazes e sete moças,
escolhidos mediante sorteio, para alimentarem o Minotauro, furioso animal,
metade homem, metade touro, que vivia encerrado no labirinto.
Esse
labirinto, um capricho do rei Minos, era um estranho palácio repleto de
corredores, curvas, caminhos e encruzilhadas, onde uma pessoa se perdia, jamais
conseguindo encontrar a saída depois de transpor a sua entrada. Era aí que
ficava encerrado o terrível Minotauro, que espumava e bramia, jamais se
fartando de carne humana.

Havia
três anos que Atenas pagava o pesado tributo e suas melhores famílias choravam
a perda de seus filhos. Teseu resolveu preparar-se para enfrentar o monstro,
oferecendo sacrifícios aos deuses e indo consultar o oráculo de Delfos.
Invocado o deus, a pitonisa informou a Teseu que ele resolveria o caso desde que
fosse amparado pelo amor.

Encorajado,
Teseu fez-se incluir entre os jovens que deveriam partir na próxima leva de
"carne para o Minotauro". Ao chegar a Creta adquiriu a certeza de que
sairia vitorioso, pois a profecia do oráculo começou a realizar-se.
Com
efeito, a linda Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por Teseu e combinou com
ele um meio de encontrar a saída do terrível Labirinto. Um meio bastante
simples: apenas um novelo de lã.

Ariadne
ficaria à entrada do palácio, segurando o novelo que Teseu iria desenrolando
à medida que fosse avançando pelo labirinto. Para voltar ao ponto de partida,
teria, apenas, que ir seguindo o fio que Ariadne seguraria firmemente. Cheio de
coragem, Teseu penetrou nos sombrios corredores do soturno labirinto. A fera,
mal pressentiu a chegada do jovem, avançou, furiosa, fazendo tremer todo o
palácio com a sua cólera. Calmo e sereno, esperou sua arremetida. E então, de
um só golpe, Teseu decepou-lhe a cabeça.

Vitorioso,
Teseu partiu de Creta, levando em sua companhia a doce e linda Ariadne.
Entretanto, ele a abandona na ilha de Naxos, retornando a sua pátria sem ela.
Ariadne, vendo-se sozinha, entrega-se ao desespero. Afrodite, porém, apiedou-se
dela e consolou-a com a promessa de que teria um amante imortal, em lugar do
mortal que tivera.

A
ilha onde Ariadne fora deixada era a ilha favorita de Dionísio e enquanto
lamentava seu terrível destino, ele encontrou-a, consolou-a e esposou-a. Como
presente de casamento, deu-lhe uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas
que atirou ao céu quando Ariadne morreu. À medida que a coroa subia no
espaço, as pedras preciosas foram se tornando mais brilhantes até se
transformarem em estrelas, e, conservando sua forma, a coroa de Ariadne
permaneceu fixada no céu como uma constelação, entre Hércules ajoelhado e o
homem que segura a serpente.

Ariadne
é uma mulher mortal associada ao divino, considerada ainda, como a Senhora dos
Labirintos e o labirinto é a terra de nossas esperanças, de nossos sonhos e de
nossa vida. Os labirintos são janelas do tempo, portais que aprisionam o tempo.
São usados para facilitar estados alterados de consciência e tem paralelos com
a iniciação, reencarnação, prosperidade e ritos de prosperidade. Antigos
escandinavos acreditavam que o labirinto possuia propriedades mágicas e quando
se caminhava dentro dele, podia-se controlar o tempo. Hoje compreendemos que os
caminhos do labirinto, correspondem aos sete centros de energia do corpo,
chamados chacras.

Ariadne
também é retratada como líder das arrebatantes mênades dançantes, as
mulheres seguidoras de Dionísio. Mencionada ainda, como supervisora dos rituais
femininos da Vila dos Mistérios, na antiga Pompéia. Esta vila era um lugar
destinado à iniciação de mulheres. O primeiro estágio da iniciação
começava com orações preliminares, refeição ritual e purificação. O
segundo estágio é a entrada no submundo, mostrando sátiros meio-humanos e
meio-animais, e Sileno, velho gordo e bêbado, mas dotado de imenso conhecimento
do passado e do futuro. Com a perda da consciência, a iniciada entrava no mundo
de instintos e sabedoria, distante da segurança racional.

Em
cada estágio posterior, a iniciada ia se desfazendo de suas vestes, como se ela
fosse despir-se de antigos papéis, a fim de receber uma nova imagem de si
mesma. No estágio final, uma cesta contendo o falo ritual é descoberta diante
dela. Agora, ela se torna capaz de olhar para o poder fertilizador do deus, uma
força regenerativa primordial. Então, uma deusa alada, com chicote comprido e
fustigante ergue-se sobre a iniciada, que se submete com humildade. Há também
a presença de uma mulher mais velha usando o chapéu da sabedoria, como alguém
que já tivesse sido iniciada, e em cujo colo a iniciante, ajoelhada, pousa a
cabeça. Ela não protege a noviça, mas lhe dá apoio.
Depois
da iniciação a iniciante é vestida com lindos trajes e toda enfeitada. Ela se
vê no espelho de Eros, que reflete sua natureza feminina no relacionamento.
Ingressou, expeimentou e agora personifica o matrimônio sagrado de Ariadne e
Dionísio. Agora é outra mulher, pronta para passar ao mundo exterior a sua
força interior.

Na
psicologia feminina este mito explica a libertação da mulher do papel de
"filha do pai". Para superar esta virgindade perpétua, um
cavalheiro-herói com armadura reluzente, a resgata do ambiente paterno. O tal
herói é aventureiro e a faz conhecer um uma realidade completamente diversa do
que ela já viveu.

Toda
mulher, faz do seu primeiro homem uma imagem refletida de um perfeito herói,
que nada mais é do que a personificação do seu próprio potencial
inconsciente e acredita que este homem travará as batalhas delas, realizará
todos seus desejos e lhe tirará de situações indesejáveis. Mas quando, este
parceiro, um simples mortal, não corresponde com suas projeções, a realidade
é percebida e a relação não pode mais ser sustentada.
Acredite,
a paixão é sempre resultado de uma projeção, jamais será um sentimento
maduro de respeito e admiração um pelo outro, muito pelo contrário, venera-se
um aspecto de si mesmo.

Para
que a mulher se relacione bem com seu companheiro, esta projeção deve ser
extirpada. Ela precisará compreender que as qualidades que ela vê nele, na
realidade, estão dentro dela própria. Aí sim, poderá apreciar a força
madura do masculino, o deus que há dentro dele, sem perder a conexão com a sua
natureza feminina. A partir da união do masculino com o feminino, a mulher
madura experimenta a fertilização de sua própria energia criativa.
Ariadne
é a imagem arquetípica de alguém que foi iniciada nos mistérios e alcançou
profunda conexão com a Deusa do Amor. Tendo integrado a potência da Deusa, ela
pode então servir como mediadora das exigências do inconsciente para outras
mulheres.

É
através do ritual formal ou da evolução psicológica, que conseguimos
conhecer o lado espiritual do erotismo e vive-lo na prática, de acordo com
circunstâncias pessoais. Encontramos este tipo de mulher em todas as esferas
sociais. Podemos sentir sua presença em toda a mulher que vive sua vida de
acordo com sua própria escolha. Tal mulher pode ser muito sexy e provocante,
mas não no sentido superficial, por que ela não é motivada pelo consciente ou
por exigências inconscientes, mas sim da sutileza do seu ser, que emerge das
profundezas de sua alma. Ela é a imagem radiante do feminino que deseja manter
um relacionamento amoroso com a mulher real.

Texto
pesquisado e desenvolvido por
Rosane
Volpatto

 
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