OS ANÕES DAS MONTANHAS

Filhos da terra e do reino mineral são hóspedes privilegiados das montanhas. Por isso os países montanhosos rendem culto a esses homenzinhos, destinados a proteção de seus maciços rochosos.

Esses anões trocam de nome, de rosto e características segundo as regiões. Os laminaks do País Vasco não tem nada que ver com os Erdluitle da Suíça e da Itália do Norte e são muito diferentes dos Wichtlein da Alemanha e Áustria. Os anões dos Pirineos não se parecem com os dos Alpes e menos ainda com os gnomos que frequentam os montes dos Urais (Rússia).

Estes anões tão diversos só tem em comum seu tipo de habitat: vivem em cavernas, pertos dos montes nevados ou escarpados. Formam a antiguíssima família dos homenzinhos da montanha.

OS ANÕES ALEMÃES

Estes anões montanheses são particularmente numerosos na Alemanha, onde lhes associam numerosos contos e lendas, em especial nas compilações dos irmãos Grimm. O poeta Heinrich Heine gostava de dizer: "enquanto os gigantes foram sempre pobres e desapareceram, os anões enxameiam e são ricos". Karl Grün (Les Espirits élémentaires), seu discípulo, pôs em verso essa afirmação:

"Os anões estão em todas partes, a milhares.

Povoam a natureza inteira.

Os tolos gigantes de raça altiva

Foram abandonando nossa fronteira

Em proveito dos anões familiares".

O mesmo autor constata: "Os espíritos das montanhas, ora malvados, ora benfeitores, se encontram em cada passo da poesia alemã."

Karl Grün prossegue: "Na Alemnanha se chama nos nossos dias buracos dos anões as pequenas aberturas que se veem nos penhascos. O povo utiliza uma expressão curiosa para designar certas estatuetas ou pontas rochosas de formas estranhas, as chamam de Matrimonio dos Anões. A lenda conta que essas pedras são anões petrificados. Um bruxo malvado os surpreendeu no momento em que, ao sair de sua pequena caverna para buscar alimentos ou passear, voltavam para casa brincando. Outras vezes o mesmo encantamento teve lugar enquanto os homenzinhos se divertiam em uma festa."

OS ERDLUITLE OU O POVO DA TERRA

Os Erdluitle são anões montanheses de origem muito antiga. Já viviam muito antes de que os seres humanos apareceram na terra e conhecem todos os segredos da natureza. Vivem sobretudo no sul da Alemanha, na Suiça e no norte da Itália, especialmente nas proximidades do monte Pilato. Os Erdluitle de sexo masculino também Härdmandlene, Gotwergi, Heidenmanndli, Bergmanliou, na Itália, guriuz. Suas mulheres levam os nomes de Erdbibberli, Heidenweibchen, Erdweibchen ou Herdweibchen. Seus filhos se chamam chrügeli.

Na Suíça, ele se parece com um gato e é ser um tanto demoníaco. Gosta de pregar peças, assustar galinhas, fazer um cavalo empalidecer ...

Sua estatura é de uma criança de sete anos. Se alimentam essencialmente de raízes, bagas, ervilhas e porco na brasa. Sua pele é da cor da terra, tem orelhas de animais e cabelo muito preto e crespo. Vestem mantos com capuz vermelhos ou pretos em cima de batas verdes, azuis ou cinzas que ocultam seus pés palmeados, iguais as do pato. Encontramos outras morfologias de pequenos seres com pés de cavalo ou de ganso, orelhas de gato, orelhas de bezerro ... isso nos lembra o Laminak (duende do País Basco).

Eles têm poderes sobre a natureza. Eles realizam danças mágicas que permitem que as plantas germinem, avisam os camponeses sobre a melhor época para semear e plantar, podem transformar as folhas em ouro ou diamantes e podem fazer chover ou granizo à vontade. Também podem causar furacões e tempestades, elevar o nível da água nos rios e diminuir avalanches nas montanhas.

Amam os animais e cuidam muito bem deles; especialmente a cabra-montanhesa da qual eles fazem um queijo muito famoso e preservam zelosamente sua receita.


Eles celebram suas núpcias em sótãos e locais isolados. Alegres e turbulentos, todas as ocasiões são boas para se divertir. Quando recebem ajuda ao dar à luz a seus filhos ou lhes autorizam a celebrar suas bodas em algum lugar de uma fazenda, os Erdluitle mostram agradecimento à família oferecendo presentes. Pode ser uma tecelagem magnífica, uma disciplina em que os erdbibberli se destacam, ou pedaços de carvão muito pretos. Não cuspa neles porque eles se transformam em pedras preciosas no dia seguinte. Também trazem sorte e felicidade para a família que os acolheu.

Assim se conta que, em ums pequena cidade perto de Zurich, os Erdluitle tinham costume de descer a montanha para visitar as casas do vale. Eram muito amigos das crianças, aos quais ofereciam ouro, comida ou brinquedos.

Um dia um desses anões se aproximou de um menino e lhe disse em um tom jovial:

- Fecha os olhos e estende a mão!

O menino o fez, feliz por achar que o homenzinho ia oferecer um pastel ou um brinquedo, porém quando abriu os olhos, descobriu que era apenas um pedaço de carvão.

- Não quero essa coisa asquerosa! ...gritou e jogou o pedaço de carvão no chão.

Na manhã seguinte, quando acordou, viu que havia algo que brilhava na almofada. Durante a noite o pedaço de carvão havia se transformado em uma joia preciosa.

Os Erdluitles têm medo da luz do sol e do repicar dos sinos, fugindo dessas desgraças nas cavernas das montanhas.

Eles também são mágicos, astrônomos, jardineiros, ourives, ferreiros. Porque sob a superfície da terra vive um mundo magnífico, um mundo de cabeça para baixo onde os Erdluitle construíram casas confortáveis ​​e palácios ricos. Sua grande cultura científica e seus poderes mágicos os tornavam imortais.

Segundo o elficólogo Petrus Barbygère os Erdluitle só temem uma coisa no mundo: a sociedade dos homens, que, cada vez mais afastados da natureza, contaminam sem vergonha o solo e os rios com seus nitratos e o ar com gases de escape.

Se você não ofender um Erdluitle, ele certamente trará prosperidade e felicidade para a casa.

Para atraí-los, você deve deixar uma parte de seu jardim intocada, para que eles se escondam lá. Mas também, pode plantar ervas medicinais, ele será o médico da flora protetor de sua terra. O que aumentará as chances de uma boa colheita ou de um pequeno paraíso.

 

STILLE VOLK OU GENTE TRANQUILA


O Stille Volk e o Quiet Folk, o "Povo Tranquilo", são primos próximos dos Erdluitles, mas infinitamente mais pacíficos. Falsos, retorcidos, coxos, têm pele negra e cabelos grisalhos, além de barbas e sobrancelhas extraordinariamente espessas. Como seus primos, eles têm pés palmados, que escondem sob seus vestidos grosseiros cinza, e usam capuzes ou jorro vermelhos ou cinza, dando-lhes uma força extraordinária e o poder da invisibilidade. Tem a estatura média de 60 cm.

Se encontram em abundância no norte da Alemanha, porém também em outras regiões da Europa do Norte, especialmente na Lituania, onde recebem o nome de karlà; na Dinamarca os chamam as vezes de Unnes-Boes-Töi ou "povo de Harz Querxe"; no País de Gales são conhecidos com a denominação de gwarchells e no norte da Inglaterra se chamam yarthkins. Em outros lugares lhes dão os nomes de kepetz, Böhlers-Männchen, malienitza, Zinselmännchen, krosnyata, kaukas ou Onnerbänkissen.
Com vários milhares de anos, os stille volk conhecem todos os segredos da terra, minerais e pedras preciosas, com os quais se curam exclusivamente, o que significa que nunca ficam doentes. Imensamente ricos, são ferreiros habilidosos, mas também sabem fiar, tecer, assar pão e fermentar cerveja. Como se vê, o Povo Tranquilo não são só homenzinhos da montanha, mas também espíritos das minas e anões artesãos.

Mineiros, ferreiros, eles também são herboristas, fabricantes de inúmeras variedades de poções e pós mágicos e se curam com a ajuda de pedras selecionadas que colocam nos locais doentes.

São pouco ávaros de suas imensas riquezas e as oferecem com generosidade aos mortais que são dignos deles. Porém se alguém se atraver a roubá-los estará sujeito a cruéis represálias. Sua cerveja estragará, seu pão vai ficar bolorento e suas roupas serão comidas pelas tracas.

Um dia os Stille Volk convidaram um pobre camponês a assistir uma rica boda que se celebrava naquela mesma noite na casa de um senhor local. Puseram nele um capuz da invisibilidade e pediram que os seguisse, mas não antes de avisar os riscos da expedição:

- "Lá poderá beber e comer até fartar-te. Porém não deve falar nem tentar levar algo contigo."

O homem prometeu fazê-lo e em um instante se viu transportado à uma imensa sala de nobres senhores e gentis damas que faziam honras a um soberbo banquete. Havia ali vinhos de delicioso perfume, assados saborosos na brasa quente, pirâmides de pastéis e garrafas de cristal cheias de néctares. Aturdido com tantas maravilhas e incomodado por se encontrar em um lugar que era desprezado, o homem teve na entrada um movimento de retirada. Porém se deu conta que o capuz dos anões o tornava invisível e lhe permitia comer com toda a impunidade. Aliás, os Stille Volk não eram tão exigentes. Pousados nos ombros de um convidado ou na mão de alguma dama, engoliam sem vergonha o conteúdo dos pratos e esvaziavam os copos com o mesmo entusiasmo. Animado com o apetite dos anões, o homem se pôs a devorar todas essas coisas boas, dando grandes mordidas nos pernis de javalis e enchendo as mãos de aromas perfumados. Só que depois de haver bebido e comido tudo o que pode, lembrou-se de sua mulher e filhos, que não comiam nada há três dias. E disse:

-"Poderia levar um pedaçinho de pão. Ninguém se dará conta e isto me permitirá alimentar os meus. Um simples pedaço de pão, nada mais..."

Pegou um pouco de pão que havia sobre a mesa e pôs na bolso.No mesmo instante os anões que o acompanhavam desapareceram levando com eles o capuz da invisibilidade que haviam emprestado. Agora os sortilégio se quebrou e o pobre camponês apareceu na frente de todos, com a mão apertando um pedaço de pão que havia roubado. Os criados o pegaram e bateram nele copiosamente antes de jogá-lo fora impiedosamente.


Como a maioria dos anões, os stille volk temem o som dos sinos e da luz do sol mais do que qualquer coisa, e é por isso que vivem em cavernas escuras, sob colinas, tocas, mas também sob fazendas e celeiros.
Eles toleram cada vez menos os ruídos das cidades e a proliferação de lixo.

Os Stille Volk odeiam a ociosidade, trabalham para si próprios, mas também para seus vizinhos Sidhe, Sith, Huldres: os Elfos subterrâneos para os quais forjam armas, couraças e joias suntuosas, coroas, armaduras de ouro. Também aceitam encomendas de homens com quem têm uma relação cordial. Seu grande prazer é serem convidados para sua casa, ter um lindo salão que lhes é emprestado para celebrar casamentos e banquetes. Em troca, os Stille Volks não hesitam em distribuir bolsas cheias de ouro, diamantes, rubis e outras pedras preciosas das quais conhecem todos os depósitos. Cada uma das pequenas delicadezas que lhes damos é amplamente recompensada. O sábio, que tiver a boa ideia de escolher um para padrinho de seu filho, pode ficar tranquilo, pois o filho sempre será rico, saudável e dono de tudo por isso.

OS LAMINAKS

No país Basco, os laminaks são pequenos seres peludos que num abrir e fechar de olhos podem metamorfosear-se em aranhas, enguias ou serpentes

Laminaks estão entre os seres fantásticos mais populares da mitologia basca.

Entre os relatórios do século 19, os contos coletados por Jean-François Cerquand em 1875 nas províncias de Soule e Basse-Navarre e, na mesma época, por Wentworth Webster e Julien Vinson no Labourd são mantidos para o mais confiável pelo antropólogo Julio Caro Baroja.

No século XX, notamos, entre outros do lado francês, as Lendas Bascas publicadas por Jean Barbier em 1931; em 1934, as lendas Labourdine coletadas por Mayi Ariztia; do lado espanhol, a obra Euskalerriaren Yakintza (Conhecimento do País Basco) de Resurrección María de Azkue (1942), que cobre todo o País Basco, bem como os numerosos relatos mitológicos publicados entre 1921 e 1946 pela revista Eusko-Folklore sob a liderança de José Miguel de Barandiarán.

A geografia do País Basco não hesita em evocar o seu habitat através de numerosos topónimos. Existem principalmente cavernas: as cavernas laminak (Lamien-leze em Zugarramurdi em Navarra, Laminen-ziluak, Laminzilo), o abismo laminak (Lamiosin perto de Bera em Navarra); rochas: a pedra da laminak (Lamiarri em Arizkun e em Bera, Lamiarriaga, Lamiarrieta); poços: o poço laminak (Laminosin at Juxue in Lower Navarre, Lamisin, Lamuxain); ribeirinhas: Lamindania (moinho localizado em Lacarry), o riacho laminak (Lamiozingo erreka ainda perto de Bera, Lamixain, Lamiñerreka), etc.

Eles são trabalhadores talentosos e incansáveis.

Se conta que foi eles que em uma só noite construiram a ponte de Licq. em Soule e os castelos de Laustania e da Donamartia na região do Cirze,a igreja de Espès ou Arros, casas (quinta Larramendia em Juxue, casa Gentein em Ordiarp), um moinho como em Lacarry ou um dolmen como em Mendive. Em vingança a um camponês, o laminak poderia cobrir seu campo, novamente em uma única noite, com pedras enormes.

A lenda da ponte Licq é famosa.

Uma versão diz que o laminak fez um trato com o povo da aldeia. Eles iriam construir a ponte e, em troca, receberiam a filha mais linda de Licq. No preciso momento em que o lâminak estava para lançar a última pedra, o amante da jovem - que obviamente não se contentou com este pacto - enganou os homenzinhos chantageando um galo para cantar antes de amanhecer: acreditando que o dia havia chegado, o lâminak largou a pedra e saiu correndo. O bloco nunca poderia ser colocado de volta no lugar pelos moradores e um buraco permaneceu lá e o acordo desfeito.

Se diz que antigamente tiveram um desentendimento com o cavaleiro Roldão de Roncesvalles. Como represália, o favorito Carlos Magno declarou guerra a esses anões desconfiados e matou um grande número deles. Desde então desconfiam dos humanos e permanecem ocultos nos Pirineus.

Eles serão espontaneamente gratos àqueles que lhes fazem pequenas ofertas de alimentos, promovendo suas colheitas ou realizando voluntariamente várias pequenas obras para seus benfeitores. Eles alegremente aceitam mortais em suas casas e lhes dão presentes: um homem foi forçado pela tempestade a se refugiar em uma caverna. Uma lâmina o cumprimentou e lhe deu um pedaço de carvão quando ele saiu. Ao ar livre, o carvão se transformou em ouro puro. Se por acaso os humanos perdem os dons dados a eles, é apenas por estupidez ou excesso de ganância.

Se conta a história de uma jovem pastora que guardava tranquilamente suas ovelhas na montanha quando um laminak se aproximou dela, a carregou sobre as costas encurvadas e a levou para dentro da caverna de Aussurucq. A jovem permaneceu cinco anos com os laminaks e inclusive teve um filho deles. Estava bem tratada e alimentada comouma rainha, pois nem sequer a cozinha dos reis era melhor do que as dos laminaks. Seu pão era de tal brancura e tão suave que dava água na boca só de vê-lo.

Um dia em que os laminaks haviam ido à caça, a pastora pediu a seu filho de três anos que a esperasse por um momento. Depois saiu correndo até o vale e voltou para casa dos pais, que não a reconheceram, pois tinha um aspecto sujo e desalinhado como um laminak.

Se conta também a história de uma parteira, chamada um dia com urgência para ajudar a dar a luz a uma laminak. A levaram a um enorme palácio escondido em uma rocha, cheio de tesouros e maravilhas. Quando a parteira terminou sua tarefa, lhe deram de comer o famoso pão branco. A acompanharam até a saída, porém a rocha se negou a abrir-se. Os laminaks lhe perguntaram se levava algo consigo. A mulher respondeu que só havia pegado um pouco de pão branco para mostrá-lo a sua família. Quando devolveu o pão pode sair, não antes de ter recebido, como pagamento por seus serviços, uma bolsa cheia de moedas de ouro que, colocadas em uma arca, se enchia todos os dias, e uma galinha preta, que só colocava um ovo por dia, porém o ovo era de ouro maçiço.

Casamento impossivel
Outras histórias que sempre terminam mal mostram o amor de um pastor por uma laminak. O mais triste conta a desventura de um jovem da casa Korrione, no bairro de Garagarza, em Arrasate, que conheceu uma linda jovem na montanha perto da caverna Kobaundi. Ele se apaixonou por ela e lhe prometeu casamento. A mãe do jovem o avisou: ele sabia exatamente quem era sua amante? Se ela tinha pés de ganso, era uma laminak. O jovem descobriu a verdade e consequentemente se retirou. Ele morreu de tristeza. A bela laminak foi à aldeia para zelar pelo seu corpo, cobriu-o com uma mortalha que tirou de uma casca de noz. Ela acompanhou o cortejo fúnebre, mas não entrou na igreja.

Afirmação e negação, mentira e verdade


A laminak expressa o dever de verdade dentro da comunidade através do tema do “não” (eza em basco), o conceito de negação. Como a deusa Mari, eles punem o mentiroso apropriando-se da diferença entre o que ele declara aos outros e o que ele realmente possui. Diz a lenda que um pobre pastor sedento encontrou perto de uma caverna uma bela mulher que lhe ofereceu cidra para beber. Quando ele perguntou a ela de onde vinham as maçãs que tinham feito uma sidra tão boa, ela respondeu que eram aquelas que um rico proprietário havia fraudulentamente se esquecido de declarar.

Talvez porque vivam da negação, a lâmina muitas vezes expressa o oposto do que significa, como mostra esta lenda. Uma laminak havia aceitado como criada uma jovem humana que procurava emprego. Ela lhe deu a tarefa de quebrar a louça, bater nas crianças e manchar seus rostos. A jovem fez o contrário. Satisfeita, a laminak ofereceu como recompensa a escolha entre um saco de carvão ou ouro. A garota escolheu o carvão e pegou o ouro.

Finalmente, algumas lendas retratam os laminaks usando uma linguagem particular composta por onomatopeias e expressões que são específicas a eles.

 

Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

 

 

  • Edouard Brasey, La Grand Encyclopédie du Merveilleux, Le Prée Aux Clercs, 2012 ( Ma principale source )

  • Pierre Dubois, La Grande Encyclopédie des lutins, Hoëbeke, 1992.