
O RETORNO DA
DEUSA

Como
"deusa" é caracterizado um tipo complexo de personalidade feminina
que reconhecemos intuitivamente em nós, nas mulheres a nossa volta e também
nas imagens e ícones que estão em toda a nossa cultura. Segundo a teoria
junquiana, as deusas são arquétipos, fontes derradeiras de padrões emocionais
que fluem de nossos pensamentos, sentimentos, instintos e comportamentos,
caracterizados e tipificados como puramente "femininos". Tudo que
realizamos e gostamos, toda a paixão, desejo e sexualidade, tudo que nos impele
à coesão social e à proximidade humana, assim como todos os impulsos, tipo
absorver, reproduzir e destruir, são associados ao arquétipo universal
feminino. Tais conceitos nos foram deixados como herança pelos gregos e todas
as culturas antigas, que percebiam estas energias não como abstrações destituídas
de alma, mas sim como forças espiritualmente vitais. Quando tais forças se
manifestavam num certo comportamento ou experiência, o denominavam de
"compulsão de deuses e deusas".
Quando o amor
e a paixão aflorava auxiliado pela convulsão hormonal, os antigos se
reportavam a história da bela Afrodite que transtornava o estado de espírito,
o sono, os sonhos e a sanidade mental do apaixonado.

Na Grécia, as
mulheres percebiam que uma vocação ou profissão as colocava sob o domínio de
uma determinada deusa a elas veneravam. No íntimo das mulheres contemporâneas
as deusas existem como arquétipos e podem cobrar seus direitos e reivindicar
domínio sobre suas súditas. Mesmo sem saber a qual deusa está submissa,
a mulher ainda assim deve dar sua submissão a um arquétipo determinado por uma
época de sua vida ou por toda a existência. Jung chama o arquétipo das deusas
de "Transformadoras", porque tendem a surgir em momentos de mudança
em nossa vida, como na adolescência, casamento, morte de um ente querido,
modificando totalmente nossos sentimentos, percepções e comportamentos. Uma
vez que a mulher se torne consciente das forças que a influenciam, adquire
total poder sobre este conhecimento. As deusas embora invisíveis, são
poderosas e modelam e influenciam o comportamento e emoções. Quanto mais uma
mulher souber sobre suas deusas dominantes, mais centrada ela se tornará, tendo
o perfeito domínio sobre seus instintos, habilidades e possibilidades de
encontrar um significado especial através das escolhas que fará.

Os padrões de
deusa também afetam o relacionamento com os homens. Diga-me qual homem que
escolhestes que te direi as deusas que moram dentro de ti. Realmente esta
escolha ajuda e elucidar afinidades e dificuldades pelas quais passa a mulher
que o escolheu.
Temos que ter
em mente que, toda mulher tem dons concedidos pelas deusas, mas ela deve
aprender a descobri-los e aceitá-los com gratidão. Mas toda mulher também tem
deficiências concedidas pelas deusas que deve reconhecer e superar para que
possa trilhar o caminho do auto-conhecimento e realização.
Os homens também
são influenciados pelas várias deusas, pois estas certamente espelham as
energias femininas na psique masculina, embora, via de regra, os homens
vivenciam-nas como exteriores a si próprios, ou seja, através das mulheres
pelas quais são atraídos ou pelas quais se sentem fortemente provocados.
Descomplicando, os homens vivenciam as deusas projetando-as nas mulheres de sua
vida e nas imagens específicas da mídia que lhes causem deleite ou aversão.
Uma melhor compreensão sobre as deusas, fará com que este mesmo homem
compreenda o porque de sua atração por certas mulheres e o fracasso com
outras, permitindo então, que ele comece a fazer as escolhas certas.
Muito embora
as culturas guerreiras tenham dominado vasto período do história, o culto à
Deusa Mãe sobreviveu e floresceu até a época dos romanos. Esta Grande Deusa
era venerada como progenitora e destruidora da vida, responsável pela
fertilidade e destrutibilidade da natureza. E, ainda hoje, Ela é percebida como
um arquétipo no inconsciente coletivo.
As deusas
diferem uma da outra. Cada uma delas têm traços positivos e outros negativos.
Seus mitos mostram o que é importante para elas e expressam por metáfora o que
uma mulher que se assemelha a elas deve fazer. Todas estão presentes no
interior de cada mulher. Quando diversas deusas disputam o domínio sobre a
psique de uma mulher, esta precisa decidir que aspecto de si própria expressar
e quando expressá-lo.
Infelizmente o
triunfo dos tempos modernos tornou-se o triunfo do cristianismo e de um Deus Pai
Único e Supremo. Os cultos à Grande Deusa Mãe foi se tornando disperso,
suprimido e distorcido. A maioria das civilizações atuais, tornaram-se filhas
de uma família divorciada. Agora vivem apenas o Pai e estão proibidas de
mencionar o nome da Mãe ou de qualquer lembrança sutil daquelas épocas
alegres e amorosas em que se vivia em seus braços e na segurança de seu
caloroso colo. Tendo apenas o Pai para nos orientar, nós, a despeito de seu
amor, tornamo-nos endurecidos, implacavelmente heróicos e severamente puritanos
ao tentar esquecer a segurança perdida e a confiança sensual na terra que
outrora a Mãe nos proporcionava.
Nos quatros
cantos do mundo, porém mais proeminente nos países ocidentais, estamos
testemunhando um discreto redespertar do feminino, uma sublevação profunda no
âmago da consciência das mulheres. Muitos homens temem e contestam este
processo, outros entretanto sentem-se desafiados e estimulados. Observadores
mais radicais denominaram este movimento como o "Retorno da Deusa",
porque ele parece sugerir a própria antítese da sociedade patriarcal.

É
urgente que compreendamos a natureza e a condição dos arquétipos femininos
que estão despontando do inconsciente coletivo da nossa cultura. Os sonhos e as
experiências interiores de homens e mulheres, temas tratados por romancistas e
pela mídia do mundo inteiro, ressaltam imagens ao mesmo tempo antigas
(mitológicas), mas radicalmente novas do feminino que vão chegando à consciência.
Estas formas estão fermentando dentro de nós, sendo capazes de transformar os
modos mais fundamentais de pensarmos sobre nós mesmos. Essas poderosas forças
interiores e as imagens e mudanças que provocam são denominadas
"DEUSAS".

OS SEGUIDORES
DA DEUSA

Existe uma
ampla rede internacional de pagãos modernos, a maioria dos quais veneram
aspectos da Deusa que remontam as antigas tradições egípcias, celtas, nórdicas,
mesopotâmia, índias e norte-americanas.
A maioria dos
pagãos não são indivíduos afastados da sociedade convencional, mas sim
habitantes da classe média do mundo ocidental, incluídos, científicos, docentes,
políticos e figuras dos meios de comunicação que têm sido atraídos pela
mensagem holística do paganismo, que recalca a unidade da humanidade com a
natureza, e pela importância que atribui a liberdade de crenças e de práticas
religiosas.
Os grupos
pagãos internacionais colaboram na organização de celebridades importantes, como
o primeiro festival pagão da Europa, que realizou-se em 1988 na República
Federal Alemã. A Federação pagão tem membros na América Latina, Índia, África e
Europa. No começo da década de noventa do século XX, nos Estados Unidos havia
mais de cem mil pagãos. Cerca da metade desses praticantes se consideram bruxas
e em 1996 a igreja wiccana do Reino Unido contava com cerca de doze mil membros
que rendiam culto solitário ou em assembléias. No Brasil não se tem idéia do
número de pagãos existentes, até porque e maioria é solitária, em virtude de
ainda ser uma religião pouco esclarecida e por isso, haver muito preconceito em
relação às bruxas.
Em consonância
com o dogma do culto à Deusa, ou seja, a interdependência de todos os elementos
do organismo cósmico, os grupos pagãos não admitem barreiras raciais,
educativas, profissionais ou classistas.
Texto de ROSANE
VOLPATTO




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