**BARTIRA**
Na encantadora ilha de Urubuquiçaba, que fica entre os formosos
montes Mandubas e verdes montanhas Japuís, perto da lendária Porchá,
costumava banhar-se nas claras águas da branca, praia, em frente a grande
planície, a jovem Bartira.
A linda guerreira, filha de Tibiriça, fizera da lendária ilha o
seu ponto preferido. Sem saber, caminhava a jovem para a imortalidade,
pois a parte do mundo onde nasceu, iria chamar-se Piratininga. Um dia,
quando a guerreira despertou, já caminhava no meio do céu o sagrado deus
Guaraci, nenhum vento rude soprou, a bela região lhe sorria pacífica e o
Senhor do Dia, brilhava majestoso no céu azul. A donzela ergue-se e
virando-se viu surgir um guerreiro branco, apresentado musculoso corpo e
belo aspecto, não devendo nada aos sacros deuses.
Deixando a sombra dos angicos, o estranho disse à
Bartira, que já estava vivendo ali há muitos dias e que gostaria
imensamente de conversar com ela e beijando-lhe inocentemente a meiga mão
da virgem, atingindo assim seus puros desejos. Logo, o jovem branco e
Bartira, amaram-se apaixonadamente e, empreenderam muitos feitos heróicos
e várias vezes demonstraram grande bravura.
No planato de Piratininga, dominava naquele tempo,
Tibiriçá, irmão de Tapiro, que preparava para a deusa Aracy, o delicioso
Tapicurú, aí, Bartira em companhia de seu marido e seus dois irmãos, Ítalo
e Ará, muitas batalhas venceu. Ítalo tinha os olhos verdes e pela vontade
de Inochiné, seu padrinho, ele podia enxergar de qualquer distância, mesmo
através de sólidas rochas. Ará, o valente, conforme era chamado por todos,
tinha tanta força que, certo dia arrancou um grande pé de ipê do solo e o
arremessou violentamente por sobre as águas do fundo
Tietê.
Certa vez, o cruel Inhampuambucú com seu irmão
Piqueputipuá, raptaram as duas primas de Bartira e esconderam-nas em uma
funda caverna em meio a uma densa floresta. Então, Ítalo que caçava no
monte Jaraguá subiu no alto de um pinheiro, olhou por toda a planície e
rochedos descobrindo numa caverna perto de Tremembé, as duas irmãs.
Avisada, Bartira partiu até lá e antes que os raptores presentissem, a
guerreira com valentia e impetuosidade atirou-se sobre eles e,
arremessando a lança contra o peito de Inhampuambuçu, o fez cair no chão
sem vida. Então rapidamente precipitou-se sobre Piqueputipuá e com uma
flecha certeira, atravessou-lhe as entranhas e ele cambaleou, caindo em
seguida ao solo perecendo.
Todos os dias, quando não estava no planalto Bartira nadava nas
verdejantes águas da ilha de Urubuquiçaba e durante muitas luas, Tibiriça
desceu nestas belas praias, onde foram realizadas com grande celebrações
as lendárias.
Os filhos de Bartira e João Ramalho foram: Jundá, que abateu o
cruel Coandú; Cari, o cantor e Jati, que ergueu o primeiro cercado no
planalto de Piratininga.
Estes são os filhos heróis da grande tribo Guaianás, que foram
chefes e conselheiros nas terras so alto Paraná e no fecundo planalto de
Piratininga, antes da chegada dos brancos Lusitanos. Foram: Puambú,
descendente do sábio Tuperi, que foi naqueles tempos remostos o oitavo
pagé da nação Tupi. E Puambú que foi pai de Tori. E estes são os filhos de
Tori que lhe nasceram do seu primeiro casamento com Jurema: Anhã, Guiá,
Membira e Ipojuçá, o mortífero. E Guaiá foi amante de Repoti filho de
Igape e teve de Repoti a Mirá que foi esposa de Itajubá. E Itajubá tomou
para a sua mulher a bela Arumã e ela lhe deu dois filhos, Piquerobi e
Tibiriça.
Tibiriça casou com Potira. E os filhos de Potira
foram: Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí e Bartira que foi esposa de João
Ramalho. Esta é a descendência de Tibiriça segundo as suas gerações e
espalharam-se por toda o imenso Brasil. Alguns foram viver entre os
intrépidos Tupiniquins, já outros uniram-se aos valorosos Tupinambás.
Todavia, Tibiriça e Bartira fizeram aliança com os homens brancos, ficando
no planalto de Piratininga e viram o início da glória do fecundo
império.
*******************
ARQUÉTIPO DA MULHER GUERREIRA
A índia-guerreira Bartira é o arquétipo da deusa
Ártemis, sexualmente resolvida e portanto, ela traz consigo uma
integração com o masculino. Ela representa a liberdade e a independência
que foram negadas as mulheres por longos anos.
Ártemis/Bartira é uma mulher forte, equilibrada e aberta à
convenções sociais e códigos de comportamento. Ela tem a tendência de
vivenciar fortemente suas causas e princípios.
Este mito de mulher-guerreira incorpora os mistérios mais
profundos da natureza, representando o "ser essencial". Este arquétipo foi
reverenciado no matriarcado, quando era reconhecido como a Grande Mãe. Ela
contempla a possibilidade de várias manifestações. Nas antigas sociedades
matriarcais se cultivava o íntimo contato com o ciclo das estações e os
ritmos naturais.
Ártemis/Bartira é a conexão que media os aspectos
pessoais e coletivos da vida. Estabelece um aponte sobre o horizonte da
consciência individual e o reino primordial do imaginário, através de suas
imagens, idéias e emoções. Representa ainda, a natureza instintiva que
trabalha as reações emocionais. É entendendo e ocupando-se com os ritmos
da natureza que saberemos viver melhor com eles e também extrair-lhes
mágicos ensinamentos.
Algumas mulheres nativas americanas começam a
despontar como mestras poderosas e influentes, permitindo que sua
sabedoria luminosa e muito necessária atinja aqueles que tanto anseiam
pela visão espiritual do aspecto desta deusa, conhecida pelos gregos como
Àrtemis. Nesta tradição, a Grande Mãe é chamada da Mulher de Cobre. Ela é
eterna e assume múltiplas formas, tendo muitas filhas e netas que
transmitem diferentes aspectos de seus ensinamentos.
Texto pesquisado e
desenvolvido por
Rosane
Volpatto
|
|
|
|
|
|
|
| |